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Entenda caso de médico que vai responder na Justiça por morte de adolescente

Entenda caso de médico que vai responder na Justiça por morte de adolescente

Com sintomas gripais e dores no peito, jovem foi liberada por duas vezes de hospital; apresentando piora, morreu após uma transferência para um hospital de São Mateus

Publicado em 20 de abril de 2024 às 19:27

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Yasmin Nass foi a óbito no dia 26 de abril de 2023; médico que a atendeu foi indiciado pelo crime de homicídio culposo por negligência médica
Yasmin Nass foi a óbito no dia 26 de abril de 2023; médico que a atendeu foi indiciado pelo crime de homicídio culposo por negligência médica. (Acervo pessoal)
João Barbosa
Repórter / [email protected]
Mariana Lopes
Repórter / [email protected]

Morta em 26 de abril de 2023, a adolescente Yasmin Nass, de 12 anos, pode ter sido vítima de negligência médica. Com sintomas gripais, a jovem deu entrada no Hospital e Maternidade Cristo Rei, em Boa Esperança, acompanhada da mãe, que aponta o médico Ethevaldo Rogério de Almeida como negligente no atendimento.

Os familiares alegam que o médico do hospital da Região Noroeste do Espírito Santo não deu a atenção necessária a jovem. Além disso, os responsáveis entendem que a avaliação feita em duas consultas, seguidas por liberações da garota, resultaram no agravamento do quadro clínico e na necessidade de uma transferência para um hospital com mais suporte, onde ela faleceu. Entenda o caso ponto a ponto:

Primeiros sintomas

  • Na manhã do dia 24 de abril de 2023, dois dias antes de sua morte, Yasmin acordou com coriza, tosse, garganta inflamada e dores no peito. Preocupada com a saúde da filha, a mãe de Yasmin, Maria Cristina Nass, foi com ela até o Hospital Maternidade Cristo Rei, no Centro de Boa Esperança. No local, a jovem foi consultada por Ethevaldo, que solicitou um exame de raio X do tórax da menina, a liberando logo em seguida.

Sem melhora, jovem retornou ao hospital

  • No dia seguinte, Yasmin desmaiou e a mãe retornou com ela ao hospital, onde foi novamente atendida por Ethevaldo. Na segunda consulta, Yasmin tomou soro e o médico alegou que a jovem estava bem, mas que deveria ser atendida por um neurologista, já que, de acordo com ele, os sintomas dela seriam neurais.

  • No decorrer do dia, Yasmin teve uma piora no quadro clínico. Segundo a mãe, a filha sofreu outro desmaio no final da tarde, sendo levada às pressas para o mesmo hospital da cidade.

Aspas de citação

Chegamos e era ele [o Dr.Ethevaldo] de novo. Ele aplicou alguns remédios nela [...], a pressão dela abaixou e ela desmaiou novamente. Minha filha relatava que estava com muita dor na região do peito, e ele [o médico] disse novamente que o problema dela era neural

Maria Cristina Nass
Mãe de Yasmin Nass, jovem morta após suposta negligência médica no ES
Aspas de citação

Encaminhamento para outro hospital

  • Segundo a mãe de Yasmin, enquanto era examinada, a jovem estava ficando com uma coloração roxa na pele. Diante disso, Maria Cristina pediu para que a filha fosse encaminhada ao Hospital Roberto Silvares, em São Mateus.

  • Por volta das 21h do dia 25 de abril, Yasmin foi levada, em emergência, ao hospital solicitado pela mãe. Segundo Maria Cristina, a filha foi transportada em uma ambulância simples, sem oxigênio, dopada de remédios, e sem a assistência necessária da enfermeira que a acompanhava.

  • Ao chegar em São Mateus, a equipe médica do Roberto Silvares percebeu que Yasmin já estava em coma. No local, a jovem passou por testes de Covid-19 e dengue, que deram negativo.

  • Sem apresentar melhoras, a adolescente foi intubada e foram feitas tentativas de reanimação. Contudo, na madrugada do dia 26 de abril, Yasmin não resistiu e foi a óbito.

  • No laudo de exame necroscópico da adolescente, consta que a garota foi diagnosticada com edema cerebral e pulmonar, além de distúrbios metabólico, ácido básico e hidroeletrolítico. A causa da morte da adolescente, porém, não foi determinada.

Indignação e busca por justiça

Yasmin Nass foi a óbito no dia 26 de abril de 2023; médico que a atendeu foi indiciado pelo crime de homicídio culposo por negligência médica
Yasmin Nass foi a óbito no dia 26 de abril de 2023; médico que a atendeu foi indiciado pelo crime de homicídio culposo por negligência médica. (Acervo pessoal)

  • Sem concordar com a postura adotada por Ethevaldo, os familiares de Yasmin buscaram pela Justiça e situação passou por investigação pela Delegacia de Polícia de Boa Esperança, que concluiu o inquérito indiciado Ethevaldo pelo crime de homicídio culposo por negligência médica.

Ministério Público intervém

  • Diante do inquérito policial, o Ministério Público do Espírito Santo (MPES) informou que ofereceu denúncia em face de Ethevaldo. Segundo o MPES, "a denúncia tramita na Justiça e o MPES atua para obter a condenação do réu com base nas provas descritas nos autos".

Se denunciado, médico pode ser investigado pelo CRM

  • A reportagem também procurou o Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (CRM-ES), que comunicou que o Tribunal de Ética do CRM-ES só pode atuar se for provocado, assim como todo órgão judicante. "Se a denúncia foi ou for feita ao CRM-ES, ele vai apurar, abrindo sindicância e, caso se avalie que há indícios de falta ética, pode ser aberto um processo", acrescentou o órgão.

  • O CRM-ES informou, ainda, que as punições, quando o médico é condenado, variam de uma advertência confidencial em aviso reservado à cassação do exercício profissional.

O que dizem as secretarias de saúde?

  • Procurada por A Gazeta, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) informou, em nota, que não divulga informações (prontuário) relacionadas a cidadãos ou pacientes atendidos pelas equipes da rede estadual em observância à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), bem como ao princípio da liberdade e da privacidade. "As informações são repassadas exclusivamente para a família", finalizou.

  • A Prefeitura de Boa Esperança, por meio da Secretaria de Saúde do município, comunicou que o hospital tem uma empresa responsável pela contratação dos profissionais, onde os mesmos são médicos plantonistas não fixos. A reportagem procurou o Hospital e Maternidade Cristo Rei para mais informações. Assim que houver retorno, o texto será atualizado.

O que diz a defesa do médico

A defesa do Dr. Ethevaldo Rogério de Almeida, representada pelo advogado Anderson Gutemberg Costa, informou que está confiante no Poder Judiciário, onde será possível a produção de provas que atestem o correto procedimento adotado pelo profissional.

Leia a nota da defesa na íntegra:

O inquérito policial é um procedimento unilateral, inquisitivo e que, portanto, não teve mínima participação da defesa. O indiciamento pela Polícia Civil do médico não gera nenhuma surpresa, principalmente pelas circunstâncias do fato apurado.


A denúncia oferecida pelo Ministério Publico, para ser recebida, necessita de mínimos elementos de autoria e materialidade delitiva, diferentemente de uma condenação criminal proferida somente após toda a tramitação do processo criminal, que necessita de provas robustas, hábeis e suficientes para tal desiderato.

Mesmo em vigor o princípio da presunção de inocência, já vem havendo há meses um linchamento moral e profissional, inclusive com ameaças em desfavor do referido médico. Estamos confiantes no Poder Judiciário, donde será possível a produção de provas que atestem o correto procedimento adotado pelo profissional, atrelado a outras provas e fatos correlatos ao episódio, que serão comprovados ao seu tempo e modo.

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