Após o furto de mais de R$ 1,1 milhão em remédios utilizados no combate ao câncer da farmácia judicial do Departamento Regional de Saúde (DRS) de Campinas (SP), em dezembro de 2023, a Polícia Civil de São Paulo desmembrou um esquema que já funcionava há pelo menos um ano.
No último domingo (21), o ‘Fantástico’, da TV Globo, tornou o caso público, mostrando como o esquema era realizado em Campinas, e como os medicamentos chegavam ao Espírito Santo, onde um casal de empresários é suspeito de receptar os remédios e revendê-los de forma ilegal.
De acordo com as autoridades, um servidor público da farmácia judicial, identificado como José Carlos dos Santos, era o responsável por retirar os remédios da farmácia de Campinas, fazendo o uso de uma mochila e de caixas de isopor, já que alguns medicamentos carecem de refrigeração constante.
Maria do Socorro, esposa de José Carlos, era a responsável por intermediar transações financeiras e repassar ao marido a lista de remédios que deveriam ser desviados. Segundo a investigação, o esquema era comandado por Michael Carvalho, genro de José Carlos e Maria do Socorro, que era o responsável por anunciar os medicamentos na internet.
Michael é casado com Gabriella Carvalho, filha de Maria do Socorro. A mulher era responsável por despachar as encomendas por meio de empresas de logística. Para não levantar suspeitas de órgãos de fiscalização, o grupo declarava que as encomendas eram doações, já que não possuíam nota fiscal.
De acordo com a Polícia Civil de São Paulo, o destino das encomendas era o Espírito Santo. Chegando ao Aeroporto de Vitória, os medicamentos furtados eram receptados por Gleidson Lopes Soares e Julianna Ritter. O casal de empresários era responsável por uma ONG da Serra, identificada como "Projeto Coração Amigo", que faz a manutenção de cadeiras de rodas para pessoas com dificuldade de locomoção. Julianna e Gleidson também são sócios da empresa Saúde e Vida Comércio e Representações, que vende produtos hospitalares.
Recebidos por Julianna e Gleidson, os remédios eram vendidos no Espírito Santo, como a defesa do casal afirmou à reportagem de A Gazeta. Agora, a Polícia Civil de São Paulo pretende investigar os compradores que mantinham contato com o casal em solo capixaba para entender o destino dos medicamentos.
José Carlos, Maria do Socorro e Gabriella Carvalho estão presos desde o início de janeiro. Michael Carvalho está foragido e segue sendo procurado pela Polícia Civil de São Paulo. Enquanto isso, o casal do Espírito Santo já teve o pedido de prisão solicitado pela polícia paulista.
De acordo com Elton Costa, delegado responsável pela investigação, o grupo pode responder por crimes como peculato, lavagem de dinheiro, crime contra a saúde pública e receptação. A defesa do casal capixaba nega que Julianna e Gleidson possuiam conhecimento sobre a ilegalidade do negócio.
Talita Borges, advogada criminalista, explica as possíveis condenações. “Os receptadores podem ter uma pena de 8 a 12 anos, por receptação qualificada. Os agentes públicos podem ter uma pena de até 12 anos por peculato e também podem pegar 10 anos por lavagem de dinheiro. Já em relação ao furto qualificado de medicação, a pena pode ir até 8 anos”.
Em relação ao casal do Espírito Santo, o delegado Elton Costa explica que só aguarda a decisão judicial para que a prisão seja efetivada. “Não sabemos onde eles [Julianna e Gleidson] estão. Ainda não são considerados como foragidos, porque só diante da decisão judicial que poderemos falar isso”, sinaliza.
Quando o pedido for concedido, o casal pode ser preso por qualquer órgão de segurança pública do país. Com isso, a prisão pode ser efetivada no Espírito Santo. De acordo com a investigação, a Polícia Civil de São Paulo ainda quer entender como o esquema funcionava em solo capixaba, além da atuação de Gleidson e Julianna.
À reportagem de A Gazeta, o delegado responsável pelo caso explicou que ainda não há a confirmação sobre o destino dos remédios após a chegada ao Espírito Santo, já que não se sabe quem comprava os medicamentos receptados por Gleidson e Julianna. Elton aponta ainda que há a possibilidade de uma parceria entre as forças policiais paulistas e capixabas para que a investigação tenha sequência.
Por sua vez, a Polícia Civil do Espírito Santo também foi procurada pela reportagem e informou que até o momento não foi identificado o contato da Polícia Civil de São Paulo para auxiliar na investigação. No entanto, a PCES se colocou à disposição para colaborar no caso.
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