Em um projeto pioneiro no Brasil, cerca de 35 mil moradores de Viana, de 18 a 49 anos, poderão ser imunizados contra a Covid-19 no próximo dia 13, um domingo. A vacinação em massa faz parte de um estudo internacional que será desenvolvido, denominado “Viana Vacinada”.
A iniciativa combina vacinação com meia dose (0,25 ml) da Astrazeneca no público definido, além de acompanhamento da resposta imune e sequenciamento genético do novo coronavírus. A estimativa é redução de 60% da incidência de novos casos ao longo de seis meses, a partir de 28 dias após aplicação da segunda dose. Isso também reduziria número de internações e óbitos pela doença.
O anúncio foi feito na tarde desta sexta-feira (4) durante uma coletiva de imprensa realizada no Palácio Anchieta, em Vitória. O governador Renato Casagrande destacou que o trabalho em Viana será uma confirmação dos estudos feitos pela Astrazeneca, que já indicaram que a aplicação da meia dose é capaz de fazer com que o organismo crie anticorpos contra o vírus Sars-CoV-2.
"No caso específico de Viana, podemos levar essa imunidade para toda a cidade, salvando a vida da população do município. Nesse trabalho de pesquisa, vamos otimizar os recursos ao utilizar a metade da dose padrão, podendo ter mais vacinas disponíveis para a imunização. Viana é um município de porte médio, com capacidade de vacinar toda a população definida em um só dia, além de fazer parte da Grande Vitória, tendo uma boa logística para o monitoramento de toda a pesquisa", afirmou o governador.
O governo do Estado explicou que por se tratar de um trabalho de pesquisa, após a aplicação da segunda dose – 12 semanas depois da primeira dose – será feito um processo de amostragem para a comprovação da imunidade ao vírus.
Caso os vacinados não tenham adquirido imunidade, os participantes receberão dose de reforço e ficarão imunizados. "Ou seja, participar da pesquisa será benéfico porque ficarão imunizados de toda forma", reforçou o governador.
A coordenadora do projeto científico, a pós-doutora em Reumatologia, Valéria Valim, observou que os estudos relacionados à utilização de meia dose da Astrazeneca apontam redução do número de casos confirmados entre os imunizados.
"O que se observou foi uma redução de casos de 90% nos indivíduos que receberam a meia dose, 62% naqueles que receberam dose plena. Quando foi feita a média de todos os indivíduos, foi uma média de 70%. O estudo mostra que a meia dose é capaz de estimular o sistema imunológico e desenvolver anticorpos de proteção. A diferença de resultado pode estar relacionada ao intervalo da dose de reforço", ponderou a reumatologista.
O acesso à imunização, segundo o prefeito da cidade, Wanderson Bueno, será on-line, por intermédio do site da prefeitura, pelo link vianavacinada.saude.es.gov.br, onde as pessoas poderão fazer o agendamento. A imunização ocorrerá em 35 pontos de vacinação na cidade. Os detalhes serão informadas em uma entrevista que será anunciada oficialmente pela Prefeitura de Viana.
A reumatologista Valéria Valim detalhou que os moradores que ainda não tenham recebido nenhuma dose de vacina para Covid-19 receberão duas doses, com intervalo de 12 semanas entre elas, de metade da dose padrão. A participação no estudo é voluntária e o cidadão vianense que quiser participar deverá assinar um Termo de Consentimento antes de receber a primeira dose da vacina.
A população será acompanhada por um ano para observar a efetividade da vacina produzida pela Fiocruz. Os pesquisadores querem observar, por exemplo, a redução de casos e de mortes por Covid-19 após a imunização. Com bases em estudos preliminares, a expectativa é a de que a metade da dose padrão seja suficiente para produzir anticorpos e células de defesa e reduzir 60% da incidência de Covid-19, ao longo de seis meses após a vacinação.
Do total de voluntários, 600 serão escolhidos aleatoriamente e terão o sangue coletado antes e após receberem as doses. Com esse material, os pesquisadores vão analisar os títulos dos anticorpos por diferentes técnicas, estudar as células para identificar se elas desenvolveram capacidade de resposta imunológica. O grupo também avaliará o surgimento de efeitos colaterais.
"Vamos monitorizar qualquer efeito colateral que o indivíduo tenha. Esses efeitos geralmente são mais frequentes nos primeiros sete dias. Até 40 dias depois também tem alguns outros efeitos, mas muito menos frequentes. Sete e 28 dias após a primeira e segunda dose também haverá um questionário sobre os efeitos colaterais e depois com seis meses e 12 meses", detalhou Valéria.
O secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, explicou que o projeto nasceu de uma iniciativa do governo do Estado e profissionais do Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes (Hucam), da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em uma articulação do Instituto Capixaba de Ensino, Pesquisa e Inovação em Saúde (Icepi).
"É uma solução importante dentro de um contexto de crise de escassez de vacinas, que requer coragem, inovação e segurança científica como o que apresentamos hoje. O Projeto Viana está aprovado pelo Comitê de Ética do Hucam-Ufes e Conep e esperamos resultados equivalentes ao estudo da Fase 3 da Astrazeneca, que apontou eficácia da meia dose da vacina", destacou.
O estudo coordenado por equipes de pesquisadores do Hucam e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) será executado por meio de uma parceria entre o Ministério da Saúde, Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), a Fiocruz, Hucam-Ufes e a Sesa.
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