Após um período de declínio - em agosto, a taxa de transmissão (RT) chegou ao patamar de 0,66 -, os números de casos de infecções causadas pelo novo coronavírus voltou a subir no Espírito Santo. De acordo com dados divulgados pelo governo do Estado nesta sexta-feira (11), o RT chegou a 1,43. Esse crescimento fez com que o governador Renato Casagrande dissesse, na última sexta-feira em pronunciamento, que a doença está galopante no interior do Estado, ou seja, está avançado de forma rápida.
Chama a atenção, porém, a assustadora escalada da doença no interior. A região do Caparaó, por exemplo, conta com uma taxa de 2,28. O Litoral Sul também preocupa, pois alcançou o índice de 2,70, ou seja: dez pessoas podem contaminar outras 27.
Outras áreas em que a doença está avançando de forma preocupante são a Região do Rio Doce, com RT de 1,87 na última semana de novembro; Sudoeste Serrana (1,65); Central Serrana (1,80); e Noroeste (1,98). Não à toa, o novo mapa de risco, divulgado pelo governador Renato Casagrande (PSB) nesta sexta, traz seis municípios em risco alto, ou seja, na cor vermelha de contaminação: Ecoporanga, Mantenópolis, Marilândia, Ibiraçu, Domingos Martins e Anchieta.
E é sempre bom lembrar a "velha cartilha" da Covid-19, que não deve ser esquecida: quanto maior o risco de contaminação, mais restritiva a interação social e o funcionamento do comércio e demais atividades.
Conversamos com Pablo Lira, diretor de Integração e Projetos Especiais do Instituto Jones dos Santos Neves para saber: por qual motivo a doença está avançando mais no interior do que na Grande Vitória, que, hoje, conta com taxa de transmissão de 1,03, ou seja, 100 pessoas são capazes de infectar 103?
"Há uma série de fatores que explicam o aumento nesta área do Estado. Podemos citar a expansão do critério de testagem, os feriados de 7 de setembro e 12 de outubro e os eventos pré-eleitorais, que movimentaram novembro. O mais decisivo, porém, partiu dos próprios moradores: as pessoas relaxaram. Estão deixando de usar máscaras e de manter o isolamento social, promovendo uma maior interação entre pessoas. Nós cansamos do vírus, mas ele não cansou da gente. Não podemos afrouxar as medidas de segurança", defende.
Para corroborar sua afirmação, Lira cita os novos índices de taxa de transmissão. "As regiões em que o contágio mais cresceu, como o Litoral Sul e a Serra Capixaba, por exemplo, são áreas onde o turismo é muito forte. Praias e montanhas, quase sempre, atraem muitas pessoas em épocas de feriado. A chance de aglomeração - e de contágio - aumenta muito. Além disso, há uma realidade não só no interior como na Grande Vitória: os jovens estão se expondo mais. Eles voltaram a interagir em bares e em espaços públicos. São ambientes propícios à propagação da Covid-19."
Além do aumento das taxas de contaminação, o número de mortes também cresceu no Espírito Santo, ainda ancorado pelo aumento do interior do Estado. Durante os dias analisados pelos novos índices, de 3 a 9 de dezembro, foram 70 mortes no interior e 66 na Região Metropolitana. "Está estabilizando o número de óbitos na Grande Vitória, porém no interior está aumentando. Por isso, compreendemos melhor o aumento de óbitos no Estado, esse dado está sendo puxado pelo interior, principalmente", comentou Pablo Lira.
"Vivemos de ciclos epidemiológicos. A Grande Vitória, por exemplo, passou a ter um aumento de casos e de óbitos em outubro. O interior absorveu esses índices com duas a três semanas de atraso. Acreditamos que, com a estabilização dos números na Região Metropolitana, a tendência é que os dados do Espírito Santo voltem a se normalizar", avalia, dizendo que, para isso, é preciso que o capixaba faça a sua parte, mantendo o isolamento social e seguindo as medidas de segurança sanitária.
"Precisamos ter consciência, especialmente na hora de programar as comemorações de fim de ano e férias de verão. A vacina deve vir nos próximos meses. Com ela, teremos um controle maior das infecções, visto que a vacinação vai criar uma série de pessoas imunizadas".
Pablo Lira também comentou sobre as taxas de ocupação das UTIs no Espírito Santo disponibilizadas para o tratamento da Covid-19. De acordo com dados divulgados nesta sexta-feira (11), os índices estão em 86,48%, ou seja: dos 525 leitos disponíveis, 454 estão ocupados.
"Estamos tentando não ultrapassar a taxa de ocupação preferencial, que hoje está em 63,50%. Nossa ampliação máxima de leitos chega a 715 unidades. Em julho, chegamos a ocupar quase 90% deles. Foi um período muito complicado da pandemia, onde o sistema de saúde quase entrou em colapso. Não podemos passar por isso novamente", avalia.
No interior, a taxa de ocupação das UTIs também está em elevação. No Sul do Estado, os índices estão em 81,43%; no Norte, 85% e, na Região Central, a situação é mais preocupante, com taxa de 86,64%. Há unidades de saúde que estão com sua capacidade de operação comprometida, como o Hospital Estadual Roberto Arnizaut Silvares, em São Mateus, que conta com apenas um leito livre para o tratamento da Covid-19. Há unidades de saúde que já não têm mais leitos disponíveis, com a Santa Casa de Misericórdia de Colatina e a Santa Casa de Misericórdia de Guaçuí.
Abaixo, veja como está a taxa de transmissão da Covid-19 no interior do Espírito Santo
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