Antes e durante as eleições deste ano bastava uma navegada nas redes sociais para encontrar alguém dizendo que a pandemia do novo coronavírus havia acabado e que a doença só voltaria a ser assunto com o fim do pleito eleitoral. O argumento era de que os políticos criaram um cenário de normalidade, com omissão de dados oficiais, para a escolha dos candidatos seguir um curso normal.
No mês de outubro, A Gazeta denunciou atividades de campanha que promoviam aglomeração, registrou apoiadores de candidatos que não usavam máscara e não respeitavam o protocolo de distanciamento social. À época, diversos candidatos ficaram infectados e tiveram de se afastar dos compromissos eleitorais.
O descumprimento das medidas provocou reação do secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes. Mesmo com comícios e passeatas barrados por decreto estadual desde abril, o que foi reforçado em outro decreto, de setembro, ele pediu que o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-ES) proibisse atividades com aglomeração de pessoas durante a campanha.
De forma alguma houve omissão. O Estado mantém os dados sobre a pandemia atualizados com toda a transparência. Temos total segurança e credibilidade sobre as estatísticas da pandemia aqui, ressalta Pablo Lira, diretor de Integração e Projetos Especiais do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) e membro do Núcleo Interinstitucional de Estudos Epidemiológicos (NIEE).
Outro indicador importante que precisa ser analisado no período, segundo Lira, é a taxa de transmissão (RT) do coronavírus. Na última análise realizada, que corresponde à semana entre os dias 27 de novembro e 4 de dezembro, a taxa era 1,2. Neste caso, 10 contaminados infectam outras 12 pessoas.
O professor do Departamento de Matemática da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e membro do NIEE, Etereldes Gonçalves Júnior, lembra que a partir do mês de julho até o fim de setembro o Espírito Santo apresentou uma queda sustentada do número de casos confirmados e mortes provocadas pelo vírus.
A gente vinha dizendo que tinha uma queda sustentada, mas o evento que fez com que mudasse a tendência no Brasil inteiro foram as eleições. Não é que foi criada uma narrativa para que se tivesse eleições, a eleição é que criou esse evento diferente da dinâmica da doença e fez com que a contaminação aumentasse, as pessoas parassem de respeitar os protocolos e passassem a se aglomerar, destaca Etereldes.
A partir do dia 31 de agosto foram autorizadas realização de convenções partidárias. No dia 27 de setembro começaram as propagandas eleitorais. O primeiro turno aconteceu no dia 15 de novembro e o segundo turno no dia 29 do mesmo mês.
Dados do Painel Covid-19, ferramenta do governo do Estado, informam que a média móvel de casos confirmados (últimos 14 dias) cresceu 197,5% entre os dias 7 de setembro a 7 de dezembro. A média móvel desta quarta-feira (23) é 925.
As eleições foram feitas de forma mal planejada porque ela não foi controlada o suficiente para conter a doença. Após as eleições, a doença deu um salto absurdo. A mudança de tendência acontece justamente no período eleitoral e se intensifica nas últimas semanas do primeiro turno. Ali a inclinação da curva dá um salto no Espírito Santo, avalia o professor.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta