Os 27 hospitais do Espírito Santo que fazem atendimento a pacientes com a Covid-19 vão receber kits para ajudar na interação da equipe de saúde com as pessoas que forem intubadas. O material é composto por pranchas de comunicação alternativa, que são preparadas com desenhos, letras e números, e visam estabelecer um diálogo, mesmo se o doente tem alguma dificuldade para falar. A proposta é a de garantir bem-estar e, assim, colaborar no processo de recuperação dos internados.
A previsão é de distribuição de 500 kits aos hospitais nas próximas semanas, segundo informações da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), que firmou uma parceria com o Conselho Regional de Fonoaudiologia da 6ª região (Crefono-6) - Minas Gerais e Espírito Santo - para possibilitar uma comunicação mais efetiva entre a equipe dos hospitais e os pacientes que estejam com a expressão oral limitada. O material será distribuído na rede própria, e também para unidades filantrópicas e particulares que estão realizando atendimento da Covid-19 pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
As pranchas de comunicação alternativa são recursos já utilizados na área da saúde, mas especialmente em atendimento clínico, e a proposta de fazer um material específico para atender pacientes intubados em decorrência da Covid-19 surgiu na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), de onde partiram os primeiros kits para hospitais da região metropolitana de Porto Alegre (RS). Agora, a produção do material vai ser levada para todo o Estado do sul do país.
Eduardo Cardoso, professor do Departamento de Design e Expressão Gráfica da Faculdade de Arquitetura da UFRGS e coordenador de um grupo que promove a comunicação acessível, ressalta que as pranchas oferecem conforto e segurança tanto para os que estão internados, quanto para suas famílias pelo fato de o diálogo ser estabelecido e, deste modo, contribuir para o tratamento.
E essa comunicação é promovida com os elementos - desenhos, letras e números - impressos no material. Há, por exemplo, escalas de dor, e outros indicadores de sensações, como frio, calor, fome ou necessidade de utilização do banheiro. "O público-alvo dessas pranchas é bem abrangente e, até mesmo uma criança não alfabetizada, pode se beneficiar do recurso durante o tratamento", observa Eduardo Cardoso, acrescentando que a produção dos kits já foi traduzida para seis idiomas, incluindo o chinês.
Além do período de internação, o professor avalia que o material desenvolvido por sua equipe - que trabalha de maneira remota em decorrência da pandemia - pode ser aproveitado também para a fase posterior à intubação. Eduardo Cardoso aponta que há muitos pacientes que, devido ao longo período de utilização do respirador, acabam desenvolvendo dificuldades na fala, que pode ser restabelecida por meio da comunicação alternativa.
A iniciativa chamou a atenção da fonoaudióloga Janaína Maynard, conselheira do Crefono-6, e a entidade decidiu pela implementação do recurso também nos hospitais de Minas Gerais, onde já houve a distribuição, e do Espírito Santo. Para ela, o valor humanitário das pranchas é imensurável.
"A comunicação alternativa já existe há muitos anos, mas, com a questão da pandemia, os países que tinham vivenciado o auge da doença passaram a desenvolver trabalhos para os pacientes com a Covid-19, e foram um sucesso. Foi quando o pessoal da UFRGS começou a desenvolver o projeto e decidimos implementá-lo", conta a fonoaudióloga.
Janaína Maynard ressalta que, além dos casos de intubação, as pranchas são funcionais em qualquer atendimento neste momento em que a paramentação das equipes de saúde com Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) é muito maior, criando barreiras para a comunicação.
"Pesquisas comprovam, e isso é o mais importante, que a boa comunicação entre os profissionais e o paciente melhora quadros de ansiedade e reduz sofrimento. No caso da Covid, em que não se pode ter acompanhante e é grande a vulnerabilidade comunicativa, o uso dos recursos melhora não só a expressão do paciente, mas sua compreensão em relação ao seu tratamento. As pranchas ajudam no monitoramento do quadro", pontua.
Favorecer a comunicação, acrescenta a fonoaudióloga, contribui, em alguns casos, para a redução da sedação de pacientes, que ficam menos agitados quando conseguem ser compreendidos. A garantia do bem-estar, por sua vez, é um componente no processo de recuperação. "A perspectiva desse trabalho é promover um serviço de saúde cada vez mais humanizado", finaliza Janaína Maynard.
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