As regras anunciadas pelo governo do Estado, que autorizou que passageiros possam andar em pé nos ônibus duas pessoas a cada um metro quadrado além de alguns coletivos circularem com ar-condicionado, foram criticadas por especialistas. Eles avaliam que o risco de contaminação para os passageiros do transporte coletivo é grande, sem contar o fato de serem diferentes das regras do próprio Estado para outros setores, que estabelecem distanciamento bem maior.
Segundo o subsecretário estadual de Vigilância em Saúde, Luiz Carlos Reblin, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) estabelece que os ônibus podem, pela área física total, transportar até seis pessoas viajando em pé por metro quadrado. Em função disto o Estado estabeleceu uma redução para 2 pessoas por metro quadrado.
A doutora em saúde coletiva e epidemiologia, Ethel Maciel, observa que o cálculo da ABNT é voltado para situações não-pandêmicas. Observa ainda que a regra estabelecida pelo Estado desrespeita as próprias recomendações feitas pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) para outras atividades, que estabelecem um distanciamento de 1,5 m.
Os cinemas, por exemplo, foram autorizados a funcionar com 40% de sua capacidade, exatamente para evitar este tipo de proximidade. E estudo mais recentes, como os realizados pela Universidade de Princeton, a partir da análise aerodinâmica das gotículas, já apontam que o distanciamento seja de 2 metros. É estranho que as atividades recreativas obedeçam às recomendações de 1,5 m de distância e no ônibus duas pessoas possam ficar em um metro quadrado, pondera.
Na avaliação dela, os ônibus não deveriam transportar passageiros em pé. Não justifica o transporte coletivo, que é um local de transmissão de várias doenças, com evidências que o próprio inquérito sorológico feito pelo Estado já apontou, ter este tipo de liberação, assinala.
O infectologista Crispim Cerutti também é contrário à medida. Não sou favorável a aproximação de pessoas. O trajeto do transporte coletivo, em geral, não é menor que meia hora. É sempre para mais. E as pessoas estão em contato o tempo todo, o que é problemático, destaca.
Na avaliação dos dois, o Estado deveria promover uma fiscalização para evitar não só que os passageiros andem em pé nos coletivos, mas também evitar as aglomerações nas filas e nas entradas dos coletivos. Ao invés de protocolos mais rígidos para impedir a proximidade, o que esta sendo feito é oficializar para que isto aconteça, o que é muito preocupante, principalmente em um momento que temos sinais de que a contaminação volta a aumentar, destaca Ethel.
Outra medida considerada polêmica é a circulação de coletivos com ar-condicionado. Segundo o subsecretário Reblin, a medida é positiva para o cenário da Covid-19 no Estado.
"O ar-refrigerado é um equipamento que renova o ar interior do veículo. Além disso, entendemos que ele é o padrão que já se aplica a todos os ambientes de trabalho que enfrentamos cotidianamente, bem como no comércio e nos shoppings centers. Então a entrada destes veículos em funcionamento reduz também a quantidade média de pessoas pelos ônibus que anteriormente eram somente os sem ar-condicionado", disse.
O infectologista considera a decisão um desastre. Com o ar condicionado a premissa do distanciamento cai por terra e não faz diferença, porque as gotículas ficam em aerosol pelo sistema de circulação fechado do ar-condicionado, relata.
Na avaliação dele, o Estado deveria ampliar a frota em bem mais de 100%, deixando que as pessoas possam viajar sentadas. E, de preferência, distantes, com uma pessoa por cada instalação de banco, assinala.
Ethel pondera que um dos legados da pandemia deveria ser um transporte coletivo mais respeitoso. É indigno que a pessoa vá para o trabalho e tenha que ficar em um ambiente desconfortável, desrespeitoso. Minimamente é momento de reforçar que não podemos retornar ao que tínhamos antes, precisam ter melhorias no transporte coletivo. Se a pandemia não for razão suficiente para investir no transporte coletivo, o que será?, questiona a doutora.
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