Com o aumento do número de casos de pessoas contaminadas pelo novo coronavírus, o governo do Estado já assinala com a possibilidade de aumentar as restrições, como alternativa para conter o avanço da Covid-19. Especialistas em infectologia e epidemiologia defendem que haja um rigor maior, principalmente em relação à manutenção dos protocolos sanitários, e em medidas para evitar a aglomeração.
Uma nova realidade que precisa fazer parte da vida de todos até que se tenha, disponível no mercado, uma vacina contra a doença causada pelo novo coronavírus, assinalam.
A doutora em Saúde Coletiva e Epidemiologia, a professora Ethel Maciel, do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), pondera que estamos vivendo um momento difícil, em que se precisa tomar medidas para manter o controle da doença. Porém, vivemos um momento em que não temos muitas alternativas de medidas mais restritivas sem que ocasionem tensões maiores. Vivemos um momento de exaustão, e a não ser que tenha multas, vai ser dificil convencer, apenas pela necessidade de se evitar a contaminação."
Na avaliação dela, após meses de pandemia, já existe um conhecimento da doença, de sua história natural, o que já permite identificar, por exemplo, como ela se desenvolve, quais os primeiros sintomas, quando se agrava. Informações que podem ser utilizadas para qualificar as medidas que devem ser adotadas.
Entre elas, destaca, está uma atuação antecipada em relação à doença, principalmente nos municípios. A epidemiologista propõe o retorno mais efetivo dos programas municipais nas comunidades, identificando casos da doença, com uma testagem maior, o que possibilitaria até evitar que a contaminação se espalhe.
Temos que refinar as ações que foram interrompidas durante a pandemia, com os agentes de saúde fazendo as visitas, analisando a situação das famílias, se teve aumento de casos, procurar os familiares e amigos, principalmente os grupos de risco, fazendo um controle local da doença, em vez de esperar a vinda dos doentes à unidade de saúde, sugere.
Outro ponto importante, acrescenta a epidemiologista, é que as empresas voltem a estimular o trabalho remoto. Quem puder, fique em casa. Deixem circular nas ruas somente as pessoas que realmente precisam, diz, destacando que em países europeus já há campanha para que a população fique em casa para que as crianças possam ir à aula.
Do ponto de vista científico, a transmissão nas escolas é menor que em bares e restaurantes. A educação tem que ser prioridade do país, sustenta.
O governo, as instituições e representantes dos diversos segmentos também deveriam, avalia a epidemiologista, investir ainda em campanhas de conscientização. É preciso entender que a pandemia ainda não acabou. Que medidas como o uso de máscara, distanciamento, estar em locais com fluxo ar, evitar aglomeração, e manter a higienização das mãos precisam fazer parte da nossa vida, do nosso dia a dia, destaca.
O infectologista Alexandre Rodrigues destaca que as pessoas precisam observar as falhas do convívio diário que estão levando à contaminação. Seguem as regras em suas empresas ou em alguns comércios, mas esquecem dos protocolos de segurança nos momentos de confraternização, momentos sociais em que esquecem as máscaras e se tem mais transmissão da doença, pondera.
Ele acrescenta que várias medidas já foram adotadas. Seguimos tudo no local de trabalho, mas na sexta tem confraternização e este grupo vai para um bar senta, bebe, e neste momento sem máscara, com bebida, descontraído, tem risco maior de contaminação. O que acontece, tenho que fechar a empresa onde trabalham ou restringir o momento de convívio? As restrições com mais eficácia podem ser para evitar volume de grupo, ou algum tipo de evento para garantir o distanciamento, exemplifica.
Outra dificuldade, segundo ele, é a politização em torno do uso da máscara e dos demais cuidados sanitários, que precisam ser incorporados ao nosso dia a dia. Houve muita polêmica, por exemplo, quando se passou a multar por não uso do cinto de segurança. Com punição e multa, com o tempo se incorporou como hábito. No caso da máscara houve muita politização, mas é uma questão de saúde pública; ela é necessária."
Mais um problema, aponta o médico, é como as pessoas interpretam a doença. Quem tem parentes ou amigos que se recuperaram bem, tem a tendência de achar que está havendo exagero em relação à doença. As pessoas se acostumam a taxas altas de mortalidade e passam a ignorar as informações. Mas o valor muda quando alguém próximo morre. O bom seria ter uma atitude responsável sem perder alguém, observa.
Para a infectologista Rúbia Miossi, não há mistério. E mesmo com a adoção de medidas mais restritivas, as pessoas precisam se acostumar aos cuidados sanitários. Distanciamento e uso de máscara são fundamentais para evitar o contágio e a transmissão. Se possível, evitar sair. E quem precisa trabalhar, tem que seguir a recomendação. Não tem milagre ou mistério, frisa.
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