Após fala do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), nesta quinta-feira (10), no sentido de que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, prepara um parecer para desobrigar do uso da máscara quem já foi vacinado contra a Covid-19 ou quem já se infectou com o coronavírus, especialistas do Espírito Santo foram questionados sobre a segurança da medida diante do estágio em que o país se encontra da pandemia da Covid-19.
O secretário de Saúde do Estado, Nésio Fernandes se posicionou nas redes sociais, afirmando que "prescindir do uso de máscaras no atual estágio de evolução da pandemia no Brasil é mais uma negação da realidade e uma improbidade sanitária inaceitável".
Nésio Fernandes reforçou que mesmo com a população vacinada, a máscara é necessária. "As vacinas são estratégia coletiva, sem cobertura vacinal ampla, não há redução plena da circulação do vírus e pessoas vacinadas podem desenvolver formas leves da doença. No futuro, o uso de "máscara" será necessário mesmo com ampla cobertura em lugares como aeroportos", publicou.
Para o médico infectologista Lauro Ferreira Pinto, a informação divulgada pelo chefe do Executivo está na mesma linha de declarações anteriores, como a teoria da imunidade de rebanho, a qual diz que quanto mais a população se expor, mais rápido haverá pessoas imunes ao vírus.
Segundo o especialista, é possível que o presidente tenha se baseado no exemplo norte-americano. "Nos Estados Unidos o CDC autorizou os vacinados a não usarem máscara em ambientes abertos, com exceção de transportes públicos. Mas lá são 100 milhões de vacinados com duas doses, o que corresponde a quase metade da população americana protegida e em uma circunstância diferente da nossa. Não sei se é para levar a sério o que ele disse", questionou.
Em concordância, Ethel Maciel, enfermeira, pós-doutora em Epidemiologia, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e consultora da Organização Mundial de Saúde (OMS), diz que ainda não há no Brasil indicadores epidemiológicos para implantação dessa medida.
Segundo Maciel, ainda está sendo aprendido com outros países mais adiantados com a vacinação que, quando se chega em um percentual de mais de 40% de pessoas vacinadas com esquema completo, de duas doses, é possível ver uma redução na transmissão, nos indicadores de casos e óbitos, e começa-se então a ter segurança epidemiológica para que pessoas que já se vacinaram possam se encontrar sem máscara, mesmo em eventos para grande quantidade de pessoas.
"É como vemos nos EUA, em Israel, em países da Europa. Há restaurantes voltando, fazendo várias ações coordenadas com o governo. O Brasil neste momento tem uma pandemia descontrolada, em que nós temos um número de casos novos por dia em torno de 70 mil e uma média móvel de 2 mil óbitos por dia. Não temos indicador nenhum para que essa medida de desobrigação da máscara seja sequer cogitada. Junto com o distanciamento físico, a máscara é o principal caminho para driblar o contágio da Covid-19", apontou a enfermeira.
Para a infectologista Rúbia Miossi, outros aspectos que devem ser considerados são: quem já foi infectado pelo coronavírus pode se infectar novamente e quem foi vacinado também pode contrair o vírus.
"A gente já sabe que há pessoas que pegaram mais de uma vez a Covid. Ter tido Covid não garante que não pegue mais. Temos pessoas que pegaram depois de vacinadas, então estar vacinado também não garante que não tenha de novo. Pode ser que Bolsonaro tenha feito um paralelo com países como os EUA, que estão liberando o uso da máscara e talvez o presidente esteja um pouco deslocado com relação a esta informação. Mas os EUA conseguem retirar a máscara por ver que a circulação do vírus já caiu muito. Nós, por outro lado, estamos um pouco longe dessa faixa de cobertura vacinal", pontuou a médica.
Segundo Miossi, o ideal seria retirar as máscaras apenas ao atingir uma cobertura vacinal próxima a 70 ou 75% da população geral. "Repito: devemos lembrar que quem teve Covid pega de novo, ou seja, não está protegido para andar sem máscara. E a vacina sozinha, considerando cada pessoa, não é suficiente", finalizou.
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