Sem um medicamento eficaz no combate à Covid-19, a aplicação da vacina contra o coronavírus é considerada a principal arma no enfrentamento à doença. Pelo Plano Nacional de Operacionalização da Vacina, apresentado pelo governo federal na última quarta-feira (16), o país terá quatro fases de vacinação para grupos prioritários em 2021. As três primeiras devem imunizar 49,65 milhões de pessoas.
E para tirar dúvidas sobre a vacina contra a Covid-19, A Gazeta procurou especialistas para explicar pontos questionados por leitores. Participaram da produção: a doutora em Epidemiologia e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel; o professor de Epidemiologia da USP, Expedito Luna; o imunologista, professor e pesquisador da Ufes, Daniel Oliveira Gomes; além de consultores da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
O governo federal não definiu o calendário de vacinação. No entanto, o Ministério da Saúde afirma que a imunização será iniciada cinco dias após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizar o uso de uma vacina no país.
O Ministério da Saúde definiu quatro fases de vacinação. Na Fase 1, deverão ser vacinados um grupo formado por trabalhadores da saúde, pessoas de 80 anos ou mais, pessoas de 75 a 79 anos e indígenas com idade acima de 18 anos. Na Fase 2, serão imunizadas pessoas de 70 a 74 anos, de 65 a 69 anos e de 60 a 64 anos. Já na Fase 3, a previsão é vacinar 12,66 milhões de pessoas acima dos 18 anos que tenham as seguintes comorbidades: hipertensão de difícil controle, diabetes mellitus, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença renal, doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, indivíduos transplantados de órgão sólido, anemia falciforme, câncer e obesidade grave (IMC maior ou igual a 40). Na Fase 4 deverão ser vacinados professores do nível básico ao superior, forças de segurança e salvamento e funcionários do sistema prisional. Os grupos poderão ser alterados.
Cada fabricante de vacina definiu uma idade mínima para imunização. Os especialistas em saúde informam que a maioria dos estudos relacionam adultos jovens, acima de 18 anos.
Os especialistas alertam que grávidas e crianças não foram incluídas na maioria dos estudos clínicos dos laboratórios responsáveis pelas vacinas. Como não há informações que atestam a segurança e eficácia dos compostos nestes dois grupos, eles ainda não foram incluídos em nenhum plano de vacinação iniciado no mundo. Há expectativa de que essas pessoas sejam contempladas à medida que os dados sejam analisados e publicados pelos cientistas. Os médicos destacam que, com a vacinação dos outros grupos, o vírus perde força de circulação, diminuindo assim o risco de contágio dos grupos não beneficiados com a vacina.
Sim. Assim como acontece com outras doenças, como o sarampo, pessoas que já tiveram Covid-19 podem tomar a vacina sem nenhum problema. Há pessoas que tiveram o diagnóstico positivo para a doença e outras que apresentaram sintomas leves ou foram assintomáticas e nem foram ao médico ou realizaram o teste. Como ainda não há comprovação científica que ateste a duração da imunidade adquirida após a cura da infecção, os médicos recomendam que os contemplados (já curados ou nunca infectados) nos grupos prioritários compareçam aos postos de vacinação quando forem convocados.
Geralmente, cerca de 15 dias após a aplicação da segunda dose. Neste intervalo, os protocolos de higiene como lavagem das mãos, uso de máscara e distanciamento social devem ser mantidos.
Alguns fabricantes informaram o intervalo de 14 dias, outros de 21 e 28 dias. Quando a Anvisa aprovar uma vacina, o governo federal vai anunciar o prazo entre uma dose e outra.
A vacina cria um processo infeccioso natural. De maneira artificial, induz à imunidade, mexendo nos processos imunológicos do indivíduo, que pode apresentar sintomas mais brandos do que se tivesse sido infectado pelo coronavírus (Sars-CoV-2). Essa reação é esperada principalmente nas vacinas que estão sendo produzidas com vetores virais - outro tipo de vírus que carrega o material genético do Sars-CoV-2 - e sintomas semelhantes como dor de cabeça e febre controlável com antitérmico podem se manifestar. Pode haver também dor no local, inchaço, vermelhidão.
Até o momento, só a Pfizer liberou a bula com informações detalhadas acerca das reações provocadas pelo uso do imunizante. Os médicos e especialistas em saúde ouvidos por A Gazeta destacam que é preciso esperar a aprovação das vacinas que serão disponibilizadas no Brasil para que então as bulas sejam liberadas. Por enquanto, como não há informações de ensaios clínicos que envolvam grávidas e crianças, esses grupos não devem receber a vacina num primeiro momento.
Pessoas alérgicas podem tomar qualquer vacina, inclusive as que estão sendo aprovadas agora. Apenas em casos específicos alérgicos não devem se vacinar. As únicas pessoas que não poderiam tomar a vacina são as que já tiveram reações alérgicas graves a vacinas anteriores ou quem é alérgico a um componente da vacina que será aplicada no Brasil , que vai contar com uma bula indicando a sua composição. Sintomas alérgicos graves são aqueles que ocorrem imediatamente após a vacinação. Entre eles se incluem urticária generalizada, falta de ar e crises convulsivas.
Depende da doença autoimune e do tratamento que está sendo realizado. As pessoas em tratamento de radioterapia ou quimioterapia para qualquer tipo de câncer não devem se vacinar porque a doença ativa e o tratamento debilitam o sistema imunológico. Não é nem mesmo algo específico para a Covid-19. Pessoas transplantadas também não devem ser vacinadas, porque após o procedimento tomam imunossupressores, isto é, medicamentos que alteram o sistema de defesa do corpo humano. No entanto, pessoas HIV positivas em tratamento com coquetel de medicamentos podem tomar a vacina contra o coronavírus porque a terapia retroviral faz com que a pessoa tenha o sistema imunológico perfeitamente normal.
Sim, pessoas com deficiências que não afetam o sistema imunológico podem se vacinar. Os médicos informam que não há indícios de que uma deficiência afete a resposta imune, e isso diz respeito a qualquer vacina.
Antes de uma vacina ser disponibilizada para aplicação em massa na população, é necessário passar por uma série de testes, com protocolos primeiro em animais até a realização de estudos em humanos. Com as pessoas, três fases têm de ser cumpridas para a indústria farmacêutica receber a autorização de comercialização do produto. Na primeira etapa, é avaliada a segurança da vacina, se o produto não causará toxicidade ao organismo do indivíduo. Na segunda fase, é verificada a eficácia do imunizante, ou seja, a capacidade de prevenir a doença para o qual está sendo desenvolvido. Nesses dois momentos, o grupo pesquisado é pequeno para maior controle dos efeitos. Na terceira etapa o estudo é ampliado, abrangendo maior número de pessoas para testar a imunidade em massa, e assim levar à validação de uma produção em larga escala para vacinar a população. As vacinas que estão sendo consideradas para o Brasil - Pfizer, Moderna, AstraZeneca e CoronaVac - já passaram pelo teste de segurança e apresentam eficácia elevada para serem incorporadas no plano de imunização do país, mas ainda dependem de aprovação da Anvisa - órgão regulador do governo federal na área de medicamentos.
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