Há três anos a família da médica Milena Gottardi, assassinada aos 38 anos com um tiro na cabeça, aguardava que o julgamento dos seis acusados pelo crime fosse marcado, o que aconteceu nesta segunda-feira (30). O júri popular se reunirá para julgar o caso no dia 8 de março do próximo ano, Dia Internacional da Mulher.
Uma data significativa, como pondera o irmão da médica, Douglas Gottardi. Além do julgamento, é uma data apropriada para lembrar de todas as mulheres que sofreram ou ainda sofrem com este tipo de violência, e que no caso de Milena, resultou em sua morte de forma tão cruel, assinala.
Douglas observa que, embora os seis acusados já estejam presos e que existam provas suficientes da participação deles no crime, enquanto o julgamento não acontecer, para a família fica a sensação de que a Justiça não foi feita.
Parece que falta algo, que a justiça não foi completa. Sabemos da atuação sempre presente das polícias, do Ministério Público do Estado, do Tribunal de Justiça, todos atuando com excelência. E sabemos que a pandemia também postergou o trabalho, mas o que a gente espera é que no dia 8 de março do ano que vem se faça cumprir a justiça e que os acusados sejam condenados, assinalou.
No dia do julgamento, Douglas e a mãe, Zilca Gottardi, vão depor. Alguns familiares devem acompanhar, mas ainda não sabemos se conseguiremos acompanhar tudo. É muito desgastante e doloroso ter que reviver tudo novamente, observa.
Em outubro de 2019, Douglas conseguiu na Justiça a guarda definitiva das sobrinhas, de 5 e 12 anos. As meninas são fruto do relacionamento de Milena com ex-policial civil Hilário Frasson, acusado de ser um dos mandantes do crime. A decisão foi da juíza da 1° Vara da Infância e da Juventude de Vitória, Lorena Laranja.
As garotas vivem com Douglas e a esposa. A família irá crescer no início de dezembro, com a chegada do primeiro filho do casal, o bebê Vicente. Viramos pais de repente, sem tempo de curtir as crianças, que já chegaram prontas. Agora está sendo muito bom curtir a chegada do bebê. As meninas estão felizes e empolgadas com a novidade, conta.
O crime aconteceu no dia 14 de setembro de 2017. Milena foi baleada com um tiro na cabeça, no estacionamento do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam), em Vitória. Ela tinha acabado de sair do trabalho e estava acompanhada de uma amiga quando foi surpreendida por um homem que simulou um assalto. A morte foi declarada no dia seguinte.
Os acusados pelo assassinato são o ex-marido da vítima, o ex-policial civil Hilário Antonio Fiorot Frasson e o pai dele, Esperidião Carlos Frasson, ambos apontados como mandantes. Pela intermediação foram denunciados Valcir da Silva Dias e Hermenegildo Palauro Filho, o Judinho. A execução foi praticada por Dionathas Alves Vieira, que contou com o apoio de Bruno Rodrigues Broetto, que forneceu a moto. Todos estão presos.
O advogado Renan Sales, que atua como assistente de acusação, assinala de que está convencido de que os seis acusados serão condenados. Há nos autos provas robustas que são eles os responsáveis pelo covarde feminicídio que vitimou a Dra. Milena. Aguardávamos ansiosos pela data do julgamento, assinalou.
Hilário Frasson
A defesa do ex-policial civil está sendo feita pelo advogado Leonardo Gagno. Já começamos a nos preparar para o julgamento, que deve ser longo, e a preparar o Hilário para enfrentar o plenário, relata.
A expectativa, considerando pelo menos cinco testemunhas para cada acusado, além das que forem apresentadas pela assistência de acusação, além dos réus, é de que mais de 40 pessoas devem ser ouvidas, em um processo que pode durar até 12 dias. Se até lá já estiver sendo utilizado os depoimentos gravados, a velocidade pode acelerar, mais ainda assim teremos pelo menos uma semana de julgamento. É o processo natural, explica Gagno.
Ele relata que Frasson, que se encontra detido na Penitenciária de Segurança Média 2, em Viana, já foi informado sobre a data do julgamento. Ele está deprimido, mas trabalhando no presídio, e mesmo bem abatido, sobrevivendo, conta. No julgamento, segundo Gagno, sua estratégia será provar que Hilário não participou do crime. Este é o nosso caminho, assinala.
Dionathas Alves Vieira e Bruno Rodrigues Broetto
Os dois são representados pelo advogado Leonardo da Rocha de Souza. No caso de Dionathas, a expectativa do réu é de que o julgamento encerre uma etapa de sua vida. Ele assumiu a responsabilidade pelo que fez e quer receber um julgamento justo, nem mais e nem menos daquilo que a lei prevê para situações de condutas como as que estão sendo imputadas a ele, conta Souza.
De acordo com o advogado, Dionathas, que foi apontado como o executor do crime, tem tido um bom comportamento na prisão e já foi informado sobre o dia do julgamento. Ele ficou feliz, porque quer encerrar este ciclo. Enquanto não for julgado, fica algo pendente, abstrato, e quer enfrentar e assumir suas responsabilidades. Não consegue trazer de volta a vítima, mas quer reparar minimamente os seus atos com sua colaboração, postura proativa, e responsabilização de todos na trama, destaca Souza.
Em relação a Bruno, Souza destaca que é um jovem que está preso por indicar uma moto para o cunhado, o Dionathas. O veículo foi usado para chegar no hospital e de lá sair. Ele foi preso no trabalho, é um jovem que somente respondeu em sua vida a uma ação penal por furto de bateria de antena de celular, destaca o advogado.
A expectativa de Bruno e de sua família, segundo Souza, é de que não seja feita vingança em função da gravidade do crime. "No caso dele não tem outro resultado que não seja a sua absolvição e um pedido de desculpa por ter ficado preso até agora sem ter feito nada, acrescenta Souza.
Hermenegildo Palauro Filho, o Judinho
Segundo o advogado David Marlon Oliveira Passos, o acusado ainda não sabe que o julgamento foi marcado. Ele nega ter conhecimento de que iria acontecer qualquer tipo de crime. Teve contato com alguns acusados, mas não foi informado de que aconteceria o assassinato naquele dia, relatou o advogado.
Valcir da Silva Dias
O seu advogado, Alexandre Lyra Transcoso, informou que não havia nada a declarar.
Esperidião Carlos Frasson
A defesa dele é feita por Davi Pascoal Miranda, segundo consta no processo, mas ele não foi localizado pela reportagem para se manifestar.
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