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Estou curado da Covid-19: o que posso ou não fazer?

Estou curado da Covid-19: o que posso ou não fazer?

A reportagem de A Gazeta conversou com a doutora em Epidemiologia e professora da Ufes, Ethel Maciel, que está na linha de frente contra o novo coronavírus para saber como deve ser o comportamento dos curados

Publicado em 31 de agosto de 2020 às 19:05

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Curado covid-19
Como um paciente curado da Covid-19 pode e deve agir?. (Pixabay)

Mais de seis meses após o primeiro caso confirmado do novo coronavírus no Brasil, ainda restam dúvidas sobre o desenvolvimento e o impacto da doença na saúde de cada indivíduo. O desconhecimento, segundo especialistas, aumenta a tensão e compromete o combate à Covid-19. Entre as perguntas que esperam respostas estão: como saber se já estou curado? Pode haver reinfecção? Estar curado é um "passaporte" para voltar a viver normalmente? A reportagem de A Gazeta conversou com a enfermeira, doutora em Epidemiologia e professora da Universidade Federal do Espírito Santo, Ethel Maciel, que está na linha de frente contra o coronavírus, que respondeu a esses e outros questionamentos.

Apesar das dúvidas, as poucas certezas são que o isolamento social impede a transmissão em massa do vírus e que o uso de máscara evita que gotículas contaminadas atinjam superfícies ou fiquem no ar.

Remédios sem comprovação científica foram divulgados como salvadores e ferramentas que impediriam a proliferação do vírus. A divulgação, sem base na ciência, ganhou um apoiador principal: o presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido). Afirmações repetidas da Organização Mundial de Saúde ressaltam que não havendo embasamento em pesquisas, a orientação para uso dos medicamentos não é indicada.

Ethel Maciel, lembrou que pelo desconhecimento da doença, os cuidados precisam ser seguidos a risca. A especialista também é autora de uma coluna em A Gazeta.

APÓS TER A DOENÇA POSSO DEIXAR DE USAR A MÁSCARA?

O fato de você já ter se curado da doença não significa que não há necessidade de proteção. Mesmo que não haja transmissão para outras pessoas nos dias subsequentes, casos de reinfecção que começaram a surgir no mundo mostram que a doença pode voltar ao organismo das pessoas.

"Não pode deixar de usar a máscara, porque antes tínhamos dúvida sobre reinfecção. Agora temos comprovação. A memória imunológica é curta", afirma a especialista.

A máscara de proteção facial, algo necessário no cotidiano dos brasileiros, não era indicada no início da pandemia, lá no começo de  março, às pessoas que não estavam com o vírus ou com sintomas da doença. A orientação foi drasticamente alterada e sair de casa sem a máscara nos dias atuais é fora do comum e pode até render multa.

APÓS O DIAGNÓSTICO, FIZ O ISOLAMENTO POR ALGUNS DIAS E VOLTEI A TESTAR NEGATIVO. POSSO SAIR DE CASA?

Uma vez que nunca houve um decreto que estabelecesse bloqueio total, o chamado "lockdown", sair de casa nunca foi proibido. A permanência dentro da própria residência é, portanto, uma recomendação, principalmente para as pessoas que estão com o vírus no organismo e que podem contaminar os outros.

"A recomendação da OMS é que com 10 dias depois do início da apresentação dos sintomas as pessoas podem voltar às atividades. Isso considerando pacientes com sintomas leves, depende do quadro. Teoricamente o indivíduo pode retomar, mas não há risco de infecção", disse Ethel Maciel.

O MEU CONVÍVIO PODE SE DAR NORMALMENTE COM PESSOAS QUE TAMBÉM TESTARAM POSITIVO?

Segundo a Doutora em Saúde Coletiva e Epidemiologia, Ethel Maciel, o convívio deve ser regulado com os cuidados que cada um se impõe. Dessa forma, se relacionar com outras pessoas é permitido, mas é preciso que haja cuidado.

"Uma estratégia muito usada na Nova Zelândia é a bolha social. Por exemplo, quando você está em casa, seguindo as mesmas recomendações, você 'aumenta sua bolha', expandindo o convívio com outras pessoas. As alterações devem ser cuidadosas para uma estratégia inteligente. Isso depende da forma como a pessoa se cuida", ressalta Doutora em Saúde Coletiva e Epidemiologia.

A ferramente que impede ou delibera o convívio entre pessoas de outras residências é semelhante ao de países de diferentes continentes. É o caso, por exemplo, dos Estados Unidos da América, que chegaram a impedir a entrada de brasileiros no país. Na Europa, em determinado momento, a Suécia, por não demonstrar uma política de controle da Covid-19, não entrou na bolha de outros países.

EU OFEREÇO RISCOS APÓS ESTAR CURADO? SE SIM, QUAIS RISCOS?

"Passado o período de isolamento os curados não oferecem riscos, já que não transmitem", disse Ethel Maciel.

O risco de reinfecção pode ocorrer, como mostram estudos, após alguns meses.

HÁ ALGUMA CHANCE DE EU AINDA ESTAR COM A DOENÇA E O TESTE NEGATIVO ESTAR ERRADO?

O chamado "falso negativo" é quando um paciente recebe um resultado negativo para a presença de anticorpos da Covid-19, mesmo tendo sido acometido pela doença. A data escolhida para a coleta do exame interfere no resultado e pode ocorrer um erro. Por outro lado, para saber se o paciente está curado, é usado o RT-PCR, mais sensível e certeiro.

"Muito difícil acontecer um erro neste teste (RT-PCR). Existem chances, mas é algo raro, confiamos no teste molecular", completa Ethel.

EU NUNCA MAIS TEREI A DOENÇA APÓS TESTAR NEGATIVO?

Em junho, um estudo realizado na China mostrou que a produção de anticorpos dura apenas dois ou três meses. Após esse tempo, há a possibilidade de reinfecção. Contrair a doença pela segunda vez não indica, necessariamente, que os impactos serão menores. Portanto, pessoas que já tiveram a Covid-19 podem voltar a ter.

CASO HAJA POSSIBILIDADE DE IMUNIDADE, DEVO TOMAR ALGUM REMÉDIO PARA PROLONGAR O TEMPO DE IMUNIZAÇÃO?

Ethel Maciel foi enfática ao dizer que "ainda não há cientificamente nada que comprove um prolongamento da imunidade".

ESTAR CURADO SIGNIFICA ESTAR COM A SAÚDE TOTALMENTE COMO ANTES?

Segundo a professora da Ufes, "são muitas incertezas" dos impactos na saúde de pessoas que já conseguiram vencer a Covid-19.

"É um vírus desconhecido que ainda estamos estudando como funciona. Alguns estudos mostram danos ao sistema neurológico, (paciente) começa a não lembrar de coisas. Muitos precisam de fisioterapia respiratória, outros têm problema de depressão. São muitas incertezas", finaliza.

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