Centenas de estrelas-do-mar puderam ser vistas espalhados pela areia da Praia de Camburi, em Vitória. Porém a cena não foi nada bonita, já que esses animais marinhos estavam, em sua maioria, mortos ou prestes a morrer. A funcionária pública Michele Caliman, que caminhava pela praia no último domingo (21), registrou a situação.
Na última quarta-feira (24), A Gazeta já havia mostrado imagens de vermes aquáticos que aparecem na Praia de Camburi, em Vitória. Esses animais da fauna marinha não causam danos ao ser humano, mas foram vistos em uma quantidade muito além do normal na areia. Segundo Michele, as estrelas estavam próximas ao segundo píer, mesma localidade em que foram encontrados os vermes.
O biólogo marinho Daniel Motta, que trabalha na Ethica Ambiental, empresa especializada em análises e estudos laboratoriais ambientais, viu os registros feitos por Micheli e explicou que as estrelas-do-mar que foram encontradas na Praia de Camburi são do gênero Astropecten. Já para saber a espécie é preciso uma análise mais profunda.
Segundo Motta, esses animais vivem em qualquer tipo de solo, seja ele arenoso ou lodoso (lamoso). Além disso, as estrelas-do-mar são "predadoras de topo de cadeia" e se alimentam principalmente de crustáceos, vermes tubícolas e principalmente moluscos (conchas do mar).
Ele relata que na região em que foram encontradas mortas havia também uma grande quantidade de conchas e vermes tubícolas, o que pode explicar o aumento da população de estrelas naquele local. A grande disponibilidade de alimento e a falta de predador podem ter colaborado para a proliferação da espécie.
"Por serem predadoras, elas fazem controle de moluscos e vermes - como os que foram encontrados do final da praia e no Píer de Iemanjá - e crustáceos. Além disso, as estrelas-do-mar respiram através de pequenas brânquias, chamados de pápulas. Talvez o aumento de matéria orgânica na região pode ter atrapalhado na respiração delas, o que podemos notar com a água turva", aponta.
A matéria orgânica à qual ele se refere pode ter vindo dos três rios - que vem de Cariacica, Vitória e Vila Velha - e que desaguam na baía de Vitória. Eles trazem consigo folhas e restos de animais já em estado de decomposição. Além disso, a matéria pode ser também algas ou qualquer ser vivo, planta ou animal, que esteja naquele ambiente.
"O aumento anormal dessa matéria orgânica, também pode ser proveniente do engordamento de praia, o que pode ter atrapalhado a respiração delas e ocasionado as mortes das estrelas", comenta o biólogo.
O biólogo ainda relatou que na última semana viu outros animais marinhos mortos na região, dentre eles o siri.
Na manhã da última quarta-feira (24), também na Praia de Camburi, em Vitória, uma grande quantidade de animais que pareciam larvas foi vista. Um leitor de A Gazeta registrou os bichos rastejando na areia. Esses bichinhos são Poliquetas, animais cosmopolitas, ou seja, que vivem em qualquer lugar do mundo.
De acordo com Daniel Motta, eles são importantes indicadores ambientais e podem oferecer informações sobre a qualidade da água.
Ele aponta que uma série de fatores pode ter levado ao aparecimento massivo desses pequenos animais como o fenômeno da maré Sigízia, que expôs a fauna marinha; o engordamento pode ter ajudado o aumento do número dos animais devido ao aumento de matéria orgânica que ele trouxe; a ressaca do mar e uma frente fria.
"Como está em Maré de Sigízia, a maré sobe muito e também recua muito. Nesse recuo, esses bichos ficaram evidentes, mas, nessa quantidade volumosa, que chamamos de 'bloom', é algo que nunca vi na vida. Todo 'bloom' é algo que está em descontrole no meio ambiente. Se há um 'bloom' desse animal, então há um desequilíbrio."
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