O sonho de fazer intercâmbio em uma universidade francesa está sendo motivo de preocupação para 23 estudantes capixabas. Embora a França tenha anunciado a liberação da entrada de viajantes, inclusive brasileiros, totalmente vacinados contra a Covid-19, a faixa etária deles - entre 20 e 25 anos - ainda não foi contemplada na campanha de imunização do Espírito Santo.
Além de estar totalmente vacinado, segundo o anúncio do país francês, é necessário que a pessoa esteja imunizada com uma vacina aprovada pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA), que são a Pfizer, a Moderna, a Astrazeneca e a Janssen. No Brasil, com exceção da Moderna, as outras já estão sendo aplicadas.
Dessa forma, os estudantes que vão viajar tem como opção a aplicação da Janssen, que é a única vacina aplicada com dose única, ou diminuir o intervalo de aplicação da vacina da Pfizer para 21 dias, como já acontece em outros países. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, o intervalo recomendado é de 12 semanas, o equivalente a três meses.
Para o estudante de Engenharia Elétrica do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), Wyctor Fogos da Rocha, 24 anos, a incerteza da vacinação tem sido uma angústia. Ele foi selecionado pelo Programa Brafitec da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), na categoria Graduação Sanduíche, para estudar na Universidade Télécom SudParis, na França.
“Estou me preparando para ir desde 2018, quando comecei a me organizar financeiramente. Com o início da pandemia, os processos de 2020 foram congelados e postergados para este ano. Agora, as minhas aulas começam dia 03 de setembro, mas a universidade pede pra chegar no final de agosto. Já fui em Unidades de Saúde, que respondem de forma padrão, dizendo que não estamos dentro do público-alvo ainda. Com isso, ainda não fui vacinado”, explica.
Quem também vive a mesma angústia é o estudante de Engenharia Mecânica da Unicamp, Guilherme Pontes Tavares, de 22 anos. Ele foi aceito na Ecole Centrale de Nantes, listada entre as melhores instituições francesas para o seu curso, e também se prepara desde 2018 para este intercâmbio.
“A gente precisa aprender o idioma, manter as notas boas, garantir participação em programas curriculares. Não é uma decisão tomada da noite para o dia. Eu farei o Programa Duplo Diploma, que consiste em estudar dois anos na França e sair formada como Engenheiro Mecânico lá e também aqui no Brasil, onde iniciei a minha graduação. O meu semestre começa dia 02 de setembro, já estou com as passagens compradas, e não quero perder essa oportunidade por não estar vacinado”, destaca Guilherme.
De acordo com a estudante e líder do grupo, Tainã Oliveira, que também precisa ser imunizada para conseguir fazer o intercâmbio, uma carta já foi enviada para o governador Renato Casagrande e para a Secretaria Estadual de Saúde, mas os jovens seguem sem nenhuma garantia da imunização.
“Cada um de nós, individualmente, tentou ir às Unidades Básicas de Saúde de alguns municípios, e fomos orientados a procurar a Sesa. Enviamos uma carta, que explica toda a nossa situação. A Sesa nos respondeu, pedindo algumas informações, mas não disse se seremos vacinados ou, caso isso aconteça, quando”, pontua a estudante.
Tainá acrescentou ainda que em contato com outros estudantes fora do Espírito Santo, a imunização para quem vai fazer intercâmbio foi garantida de forma mais rápida pelas secretarias de saúde de suas cidades.
“Conhecemos estudantes de Juiz de Fora, em Minas Gerais, e do Pará, que foram vacinados a partir do momento que apresentaram a sua realidade. Aqui ainda não sabemos, e cada dia que passa é um dia a menos para o organismo desenvolver a imunidade e sermos aceitos na França”.
Procurada pela reportagem, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) informou que recebeu o ofício dos estudantes e vai analisar a solicitação. Informa, ainda, que as doses da vacina contra a Covid-19 são disponibilizadas pelo Ministério da Saúde para redução da morbimortalidade dos grupos prioritários contemplados no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19. E reitera que, embora esta seja uma solicitação que ocorre também em outros estados brasileiros, não há recomendação por parte da Coordenação Geral do Programa Nacional de Imunizações para a vacinação de viajantes que não façam parte dos grupos prioritários descritos no Plano.
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