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Estudantes fazem ato em apoio à professora intimidada por vereador de Vitória

Estudantes fazem ato em apoio à professora intimidada por vereador de Vitória

Professora forneceu aos alunos texto sobre os significados do termo LGBTQIA+ e o Mês do Orgulho LGBT. Uma mãe de aluno reclamou com o parlamentar, que fez cobranças na escola e enviou áudio sobre a docente

Publicado em 21 de junho de 2021 às 18:28- Atualizado há 4 anos

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Manifestação em defesa de professora que foi intimidada por vereador em Vitória ao passar texto sobre mês do orgulho LGBTQI+
Manifestação em defesa de professora que foi intimidada por vereador em Vitória ao passar texto sobre mês do orgulho LGBTQI+. (Carlos Alberto Silva)

Um grupo formado em grande parte por estudantes realizou na noite desta segunda-feira (21)  um ato de apoio à professora Rafaella Machado, da Escola Estadual Renato Pacheco, em Jardim CamburiVitória. Aos gritos de "Rafaella Machado, estamos com você", o grupo seguiu da praça Nilze Mendes até o portão do colégio, no bairro. 

Estudantes fazem ato em apoio à professora intimidada por vereador de Vitória

O vereador de Vitória Gilvan da Federal (Patriota) encaminhou à mãe de uma estudante da Escola Estadual Renato Pacheco um áudio em que afirmou que ia "aguardar na saída", nesta segunda-feira (21), a professora, que ministrou uma tarefa escolar sobre os significados do termo LGBTQIA+ e o Mês do Orgulho LGBTQIA+ , para deixá-la "acuada". 

"Estamos na manifestação, pois não temos tolerância com racista, preconceituoso e com quem não tem respeito. Estamos representando a Rafaella Machado porque o vereador quis ameaçá-la, estamos aqui com ela e não vamos tolerar o preconceito. Homofobia não é opinião, é crime", pontuou a estudante Júlia de Almeida Salsa, 18 anos. 

A consultora de vendas Mell Nascimento, 34, participou do ato de apoio e fez questão de levar a filha Helena, de 9 anos.

"Eu trouxe minha filha para ela entender como é uma manifestação. Estou aqui para ensiná-la e para apoiar a Rafaella. Esse é o mês de orgulho LGBTQIA+ e é triste ver esse preconceito e essa limitação na educação. Estamos em defesa da liberdade de expressão também", afirma.

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Na frente da escola, a professora Rafaella se juntou ao grupo ao terminar o horário do expediente. Ela foi recebida com flores e aplausos.

"Eu sempre dei esse tema no mês de junho. Nunca houve uma reação adversa tão violenta quanto essa. Isso é antidemocrático, isso vai contra os princípios de uma nação que preza por educação. Eu tenho muito orgulho de ser professora. Essa manifestação e o apoio que estou recebendo mostram o quanto a ação do vereador é homofóbica, antidemocrática e truculenta", disse a professora, enquanto exibia uma bandeira com as cores do arco-íris, símbolo do Movimento LGBTQIA+ . 

Durante o ato,  algumas pessoas acenderam velas e colaram cartazes com frases "Força, Rafaella. Apoiamos você".

Estudantes acendem velas no muro de escola em Jardim Camburi
Estudantes acendem velas no muro de escola em Jardim Camburi. (Carlos Alberto Silva)

Já acompanhados da professora Rafaella, o grupo caminhou novamente até a praça Nilze Mendes, em Jardim Camburi, onde a profissional discursou para os apoiadores. 

"Eu sou muito grata a todos que estão aqui me apoiando. Não sou  uma professora que se acua facilmente, é estranho e assustador um sistema permitir que esse tipo de situação siga acontecendo com professores. O vereador nos tentou acuar, em especial porque estava eu, a pedagoga e a coordenadora, pois somos todas mulheres. Esses alunos são adolescentes, são seres críticos e em processo de formação. Não são influenciáveis como o vereador disse", destacou a professora. 

RECLAMAÇÃO DE MÃE DE ALUNO

O caso ocorreu após a mãe reclamar com o parlamentar sobre a atitude da docente na aula on-line, alegando que o tema não deveria ser abordado na escola. A mensagem, enviada por Gilvan para a mãe, foi compartilhada pela mulher em um grupo de responsáveis pelos estudantes no WhatsApp.

A atividade da disciplina de Inglês, para alunos do 1º ano do ensino médio, fornecia um texto, retirado da Livraria do Congresso Americano (Library of Congress – LOC, na sigla em inglês), sobre os significados do termo LGBTQIA+ e o Mês do Orgulho LGBT, celebrado em junho.

Após ser acionado pela mãe da aluna, Gilvan enviou um áudio, em que informou quais atitudes tomaria sobre o caso, inclusive externou que pretendia "deixar a professora acuada". "Amanhã, eu vou conversar com a diretora e dizer que, se isso não resolver, eu vou representar a professora no Ministério Público e, na segunda-feira, vou olhar olho no olho com essa professora, vou aguardar ela na saída e nós vamos bater boca, vamos discutir, mas eu vou filmar tudo. Eu quero deixar ela acuada".

Na sexta-feira (18), Gilvan esteve na escola para conversar com a professora Rafaella Machado, 35 anos, responsável pela disciplina. Funcionários da unidade disseram que ele entrou em uma área restrita e disse à docente que a atividade era um "absurdo" e que "tomaria as medidas cabíveis". Ele confirma o encontro, mas nega ter invadido uma área restrita.

Rafaella informou que não poderia conversar com o vereador, porque ministraria uma aula naquele horário. O parlamentar, então, foi recebido pela coordenadora da escola.

Manifestação em defesa de professora que foi intimidada por vereador em Vitória ao passar texto sobre mês do orgulho LGBTQI+
Manifestação em defesa de professora que foi intimidada por vereador em Vitória ao passar texto sobre mês do orgulho LGBTQI+. (Carlos Alberto Silva)

O caso foi levado à Polícia Civil. A professora registrou um boletim de ocorrência contra Gilvan por ameaça e intimidação. Ela cita a tentativa de acuá-la e intimidá-la durante o trabalho.

O secretário estadual de Educação, Vitor de Angelo Amorim, escreveu uma mensagem nesta segunda-feira (21) no Twitter em apoio à professora. "Manifestamos nossa solidariedade à professora da rede estadual intimidada no exercício do seu trabalho e repudiamos qualquer atitude dessa natureza. Acionamos o Ministério Público para apurar as ameaças atribuídas ao vereador Gilvan da Federal contra a nossa servidora", publicou.

A Secretaria Estadual de Educação (Sedu), responsável pela escola, disse que está acompanhando o caso e que vai representar contra Gilvan no Ministério Público do Espírito Santo (MPES) por "possível ameaça" contra a professora. "A Sedu informa que acompanha o caso e que tomará as medidas cabíveis junto ao Ministério Público diante da possível configuração de ameaça contra a professora", diz a nota.

A ATIVIDADE ESCOLAR

O texto fornecido aos alunos para a atividade aborda o significado de cada letra da sigla LGBTQIA+ e conta a história da origem do movimento nos Estados Unidos. O objetivo da tarefa era interpretar o conteúdo em inglês e responder a perguntas objetivas em português. De acordo com a professora, Rafaella Machado, a atividade foi elaborada seguindo as diretrizes curriculares e acompanhada pela equipe pedagógica da escola.

A atividade utiliza um texto, em inglês, retirado do site da Livraria do Congresso dos EUA
A atividade utiliza um texto, em inglês, retirado do site da Livraria do Congresso dos EUA. (Reprodução)

As questões que os alunos deveriam responder referem-se a informações tratadas ao longo do texto, como qual é o mês do orgulho LGBTQIA+, onde surgiu a primeira passeata do movimento e qual o objetivo de celebrar a data. Em um outro trecho, o conteúdo também narra dificuldades de um professor para lidar com a homofobia em sala de aula.

A docente explica que todos os anos, no mês de junho, que marca a data de combate à homofobia, leva para a sala de aula textos sobre o cotidiano, que, de alguma forma, inserem o tema em sala de aula. Segundo ela, essa metodologia, que é prevista na base curricular nacional, também é utilizada no mês de março, em que se debate o empoderamento feminino, e no mês de novembro, em que se aborda o combate ao preconceito racial.

A professora relata que a forma como o vereador tentou abordá-la, dentro das dependências da escola, foi agressiva. Como teria que ministrar uma aula, ela pediu para que ele procurasse a pedagoga e a coordenadora da unidade. "O vereador ultrapassou o portão da escola e veio atrás de mim, disse que queria falar sobre a atividade que dei e que iria tomar providências contra mim. Fez isso de uma forma agressiva, tanto em relação a mim como a outras mulheres que estavam lá na hora", afirma.

VEREADOR DIZ QUE VAI AO MPES

O vereador Gilvan da Federal disse que vai representar contra a escola no Ministério Público por conta da atividade escolar sobre o tema LGBT. Negou, porém, ter ameaçado a professora. Ele alega que sua ação foi motivada por um pedido da mãe da aluna.

Aspas de citação

Seria burrice minha ameaçar alguém em uma escola cheia de testemunhas. Não houve ameaça. Para mim, quem tem autoridade para ensinar o que é certo e errado é o pai e a mãe. Falei com a coordenadora, educadamente, que esse tipo de atividade não pode voltar a ocorrer, mas não forcei portão e nem invadi a escola

Gilvan da Federal
Vereador de Vitória pelo Patriota
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A mãe da aluna que se queixou da atividade foi procurada pela reportagem de A Gazeta, mas não foi localizada.

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