Com o objetivo de conseguir estimar qual a população infectada pelo novo coronavírus, um estudo vai investigar a presença dele em canais e rios metropolitanos, que recebem esgoto não tratado de diversas regiões da Grande Vitória. As primeiras coletas aconteceram na Ilha das Caieiras, na Capital; e a próxima deve acontecer ainda este mês, no canal da Praia da Costa, em Vila Velha.
A investigação nas águas públicas é uma alternativa enquanto os pesquisadores aguardam a liberação da Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan) para obter amostras de duas estações de esgoto: uma em Araçás, também no município canela-verde; e outra em Manguinhos, na Serra.
Membro da equipe do projeto, o professor Ricardo Franci esclareceu que esperar para seguir com o estudo poderia gerar dificuldades extras. "Como já atingimos uma fase de platô, a tendência é de queda nas infecções, o que dificultaria o nosso trabalho, que depende da presença do novo coronavírus nas águas residuais", explicou.
Segundo ele, apesar de depender de dias sem chuva para fazer a coleta, a análise, em si, é rápida. "A maior dificuldade é a logística. Não podemos ter precipitação, porque afeta a concentração do RNA viral. Mas, em condições normais, a amostragem leva um dia e a análise laboratorial, mais outro", garantiu Ricardo.
Embora não seja tão preciso quanto a testagem em ampla escala, o levantamento pode ser de grande valia. "Vários estudos detectaram o aumento do coronavírus no esgoto antes do aumento oficial de casos. É uma metodologia que traz uma agilidade grande ao comando da crise e pode ajudar na tomada de decisões", defendeu o pesquisador.
Em uma estratégia chamada de "one health" (saúde única), o estudo de águas residuais está relacionado a outro que vai investigar as fezes de capixabas, incluindo aqueles que têm ou tiveram a Covid-19. O objetivo é entender o potencial infeccioso do material, o perfil dos contaminados e o impacto da doença no meio ambiente.
Esse segundo projeto ainda aguarda a aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa, mas a expectativa é que seja iniciado no dia 1 de agosto. "Vamos analisar grupos de infectados, contactantes deles e hospitalizados por outras doenças", explicou a professora Liliana Cruz Spano, do departamento de patologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
A pesquisa deve contar com o apoio do Hospital Estadual Jayme Santos Neves e o Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória, que ficam na Serra e em Vitória, respectivamente. Os primeiros resultados estão previstos para saírem até o final deste ano. Ao todo, o custo estimado deste trabalho é de R$ 200 mil.
Procurada por A Gazeta, a Cesan não informou uma data para a liberação das amostras, mas afirmou que tem mantido diálogo com a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia, Inovação, Educação Profissional e Trabalho (Secti) para "alinhar e dar encaminhamento às solicitações recebidas" e garantiu que apoia pesquisas científicas relacionadas ao saneamento.
O anúncio dos estudos que investigarão a presença do novo coronavírus no esgoto do Espírito Santo foi feito pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) na semana passada. Procurada para comentar a respeito dos possíveis reflexos, a pasta disse apenas que "aguarda os resultados dos estudos para avaliação".
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