Eram 15 horas de domingo (17) quando um forte barulho ecoou na Grande Vitória. Logo moradores de diferentes pontos da Região Metropolitana passaram a relatar, nas redes sociais, o susto causado pelo estrondo. "Tremeu tudo", disseram alguns. Uma densa nuvem de fumaça sobre a ArcelorMittal, no complexo de Tubarão, entre Vitória e Serra, revelava a origem da ocorrência. Segundo a empresa, o problema ocorreu devido a um blecaute causado pela queda de um cabo de para-raio sobre a rede de alta tensão no local. "O incidente gerou um barulho intenso, mas não resultou em vítimas ou danos ao meio ambiente", informou a siderúrgica. Veja nota da ArcelorMittal mais abaixo no texto.
Mas por que esse problema causou um barulho tão forte, que levou muitos moradores a pensarem ter havido de uma explosão? A Gazeta ouviu um especialista para explicar as possíveis razões do estrondo.
Para Ernani Rodrigues, professor do Departamento de Física da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), o estrondo, similar ao ouvido em trovões, queda de meteoros ou erupções de vulcões, pode ser resultado de uma rápida expansão do ar, que gera uma onda sonora de altíssima pressão. Ou seja, uma grande quantidade de ar ou gás comprimido em um espaço, que, quando expelido de forma abrupta, causa o som parecido com o de uma forte explosão.
“O mesmo acontece quando um avião está prestes a romper a barreira do som. Ele causa um estrondo sonoro que quebra vidros e destelha casas. Se as pessoas escutam um estrondo a quilômetros de distância do local de emissão, é pela forte expansão da onda sonora de alta pressão que se propaga pelo ar”, detalha Ernani.
Segundo o físico, a onda sonora escutada na Grande Vitória pode ter ultrapassado a velocidade de mil quilômetros por hora, carregando um “alto poder destrutivo em suas proximidades”. Ainda de acordo com Ernani, o estrondo da tarde de domingo (17) ainda não pode ser apontado como fruto da explosão de algum artefato específico (como gases), mesmo que as características do som sejam compatíveis com a de uma explosão.
“As causas de um estrondo como esse podem ser diversas e, sem uma investigação detalhada e técnica, não é possível afirmar o que de fato aconteceu apenas pelo relato das pessoas ou por estruturas abaladas”, sinaliza o professor, salientando que o estrondo pode ter sido escutado por pessoas de variadas localidades devido às condições de temperatura do ar e do relevo na região da ocorrência.
“Quem estava em Camburi, em Vitória, ou no Bairro de Fátima, na Serra, possivelmente ouviu. Já outras localidades, mais afastadas, podem também ter ouvido, pois a onda pode ser escutada a vários quilômetros devido à difração (quando o som avança contornando obstáculos, como prédios e relevo) e à refração (quando o som muda de direção devido a diferenças de temperatura no ar). Devido a condições meteorológicas, algumas regiões próximas que não ouviram poderiam estar em uma zona de silêncio. Já outras, também pelas condições meteorológicas, podem ter escutado”, explica o professor.
Em nota enviada na tarde desta segunda (18), a ArcelorMittal, unidade Tubarão, informou que o blackout (queda de energia) ocorrido no domingo (17) foi causado pela queda de um cabo para-raio sobre a rede de alta tensão.
"Após a interrupção no fornecimento de energia, apurações iniciais apontam que um problema mecânico no filtro do blower (soprador de ar dos altos-fornos) resultou em um deslocamento abrupto de ar causando o estrondo (barulho intenso)", explicou a empresa, em sintonia com a explanação do professor Ernani Rodrigues.
"Apesar do barulho intenso, é importante esclarecer que não houve incêndio na área, tampouco vítimas ou desvios ambientais. Os equipamentos de controle funcionaram corretamente para este tipo de ocasião".
Sobre as imagens que mostram chamas, a ArcelorMittal esclareceu que se referem à abertura dos bleeders, um dispositivo de segurança projetado para a queima controlada de gases em caso de falha no sistema. "O equipamento funcionou exatamente como previsto, seguindo os protocolos de segurança adotados pela empresa".
A empresa informou, ainda, que imediatamente após o incidente, o IEMA (Instituto Estadual de Meio Ambiente) esteve na unidade para realizar inspeções, e "todas as autoridades competentes foram notificadas".
"A ArcelorMittal reforça que o evento foi pontual e já está completamente controlado. As operações estão retornando ao normal e sendo conduzidas com total segurança. A empresa segue comprometida com a transparência e com a segurança das pessoas, do meio ambiente e de suas operações".
O setor do incidente ocorrido no domingo (17) é similar ao local onde um princípio de incêndio foi registrado em fevereiro deste ano, também devido a problemas na rede elétrica da ArcelorMittal. Em ambas as ocasiões, o sistema de bleeders foi acionado para a queima do gás comportado pela empresa e para evitar que o mesmo fosse expelido na atmosfera, causando danos ambientais ou comprometendo a segurança das pessoas.
Acionado logo após o incidente, o Iema informa que “segue acompanhando a situação e que novas informações [sobre a ocorrência] serão divulgadas conforme o andamento dos trabalhos”.
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