Em março deste ano, milhares de moradores da região da Grande São Pedro, em Vitória, ficaram sem água durante quase uma semana por conta de um problema na estação de tratamento. Famílias estavam impedidas de tomar banho, lavar roupa ou cozinhar em casa por conta da falta de água.
Embora este tenha sido um evento extremo, ele não foi isolado. Em cinco anos, faltou água pelo menos 64 vezes nas casas e comércios dos moradores de Vitória. Esse foi o número de vezes que as torneiras ficaram secas por mais de seis horas consecutivas na capital do Espírito Santo.
Os dados são do Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento (Snis), vinculado ao Ministério do Desenvolvimento Regional, e contemplam o período de 2016 a 2020.
No ano de 2020, o mais recente disponível na plataforma, foram registradas 16 paralisações de fornecimento longas em Vitória, afetando mais de 41 mil clientes da Cesan. Ao todo, faltou água por 161 horas.
Entre as cidades da Grande Vitória, a Capital foi onde faltou água mais vezes naquele ano e onde a água demorou mais para voltar. Em Vila Velha, por exemplo, foram registradas sete paralisações longas (mais de seis horas), que duraram 67 horas ao todo.
A falta de água pode acontecer por diversos motivos, que são divididos em duas categorias. Há as interrupções programadas e as emergenciais.
No primeiro grupo, como explica o gerente de Engenharia de Serviços da Cesan, Roger Puziol, estão aquelas paradas para manutenção do sistema.
As principais costumam constar em um calendário da administradora do sistema de abastecimento e devem ser amplamente divulgadas à população com pelo menos três dias de antecedência, para que as pessoas possam se programar.
Já as paradas emergenciais ocorrem quando há algum problema no sistema, que pode ser desde um vazamento ou roubo de fiação elétrica até a má qualidade da água do manancial de onde ela é coletada para tratamento.
Segundo Puziol, algumas áreas da cidade costumam “sofrer” mais com esse tipo de paralisação. Uma delas é a região continental de Vitória, que engloba bairros como Jardim Camburi e Jardim da Penha, além de todos os bairros da Serra.
Essa região é abastecida pelo Rio Santa Maria da Vitória. Em épocas de chuvas fortes, ele chega à estação de tratamento com muita turbidez, ou seja, com barro misturado na água. Como a unidade não dá conta de tratar, o abastecimento tem que ser interrompido.
O diretor de Engenharia e Meio Ambiente da Cesan, Pablo Andreão, ressalta que a população da região também cresceu bastante, o que faz a demanda por água aumentar.
“A ETA (Estação de Tratamento de Água) Carapina vai receber investimento de R$ 65 milhões. Com isso, elimina essa situação de paralisação originária no Santa Maria. Estamos ampliando e modernizando para que ela suporte cargas mais elevadas de turbidez. Assim, será capaz de tratar uma vazão maior com turbidez maior também”, afirma.
O prazo previsto para o fim da obra é de dois anos.
Outro ponto da cidade que costuma passar por desabastecimento são as partes altas, principalmente a região dos bairros Jaburuna e São Benedito. Isso acontece porque, em áreas elevadas, é preciso que haja uma forte pressão na água para que ela chegue a todos.
Para evitar esse problema, uma solução é armazenar a água no topo dos morros. Assim, o reservatório garante a estabilidade no fornecimento, mesmo quando a pressão não é suficiente para chegar em todas as casas.
A Cesan afirma que a questão está no radar e que deve ser endereçada em breve. “Devemos concluir o projeto (do reservatório) no primeiro semestre e devemos contratar a obra no segundo semestre. O contrato prevê prazo até 2024”, aponta Roger Puziol.
Segundo a Cesan, o caso da falta de água em São Pedro, que aconteceu depois do carnaval, foi provocado por um problema elétrico na estação que abastece a região. Pablo Andreão afirma, contudo, que o que mais levou tempo não foi a solução da questão elétrica e, sim, fazer chegar novamente a água nas casas e comércios.
“O problema ocorreu em um período em que o consumo era muito elevado, associado à temperatura elevada. A rede vem distribuindo ao longo da rodovia Serafim Derenzi (de Santo Antônio em direção à São Pedro). Quando há um consumo muito alto, as partes baixas são atendidas, mas as altas ficam sem”, esclarece.
Ele afirma que estão previstos investimentos para aumentar a pressão da água e fazer com que ela retorne de forma mais rápida, seja em uma parada programada ou em uma emergência.
“Não há ali uma situação de infraestrutura fraca, mas mapeamos algumas melhorias: instalação de alguns equipamentos na rede para melhorar o funcionamento e rede de reforço, implantação de 800 metros de rede já iniciado, reabilitação do sistema de bombeamento”, cita.
Ele adianta que será preciso, inclusive, fazer uma parada programada para interligar o novo trecho da rede à estrutura já existente.
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