Diante do aumento de casos de Covid-19 registrado nas últimas semanas no Espírito Santo, mais capixabas estão procurando os autotestes de detecção da doença em farmácias. Por meio deles, a própria pessoa colhe o material e tem o diagnóstico em casa, sem precisar recorrer aos serviços de saúde. Essa praticidade, no entanto, muito provavelmente está levando à subnotificação do número de infecções, alertam especialistas.
Isso porque não há qualquer tipo de controle sobre os resultados dos exames caseiros, já que não são repassados às autoridades sanitárias. Com isso, infectologistas apontam que o número real de casos pode ser bem maior do que o registrados pelas secretarias de Saúde no país, mascarando as estatísticas nacionais. Sem um panorama fiel da pandemia, o planejamento de medidas pelos governos pode ser prejudicado, e a população pode ter uma ideia equivocada do momento que o país atravessa.
"O controle dos dados é muito precário e não há dúvidas de que há subnotificação", comenta o infectologista Crispim Cerutti. "Se a pessoa tiver a conscientização adequada, o autoteste é uma medida muito boa e válida. Agora, se a pessoa tiver um resultado positivo e mudar de comportamento, é uma medida inócua."
Os autotestes estão disponíveis para compra em farmácias brasileiras desde março deste ano, com preços que variam de R$ 35 a R$ 70. Desde que eles chegaram às prateleiras, as vendas no país cresceram e não foi diferente no Espírito Santo, segundo os estabelecimentos consultados por A Gazeta. Em algumas farmácias, os estoques esgotam-se em questão de dias.
A indicação de especialistas é utilizar o autoteste de antígeno. O procedimento é semelhante ao que é feito em unidades de saúde, por exemplo. Com ele, coleta-se uma amostra de fluidos nasal ou oral (da saliva) e, depois, é segue as orientações previstas na bula, que variam conforme o fabricante. O resultado sai em até 15 minutos.
Contudo, não há um mecanismo que comunique o diagnóstico para a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). E não necessariamente quem testou positivo procura laboratórios oficiais para testar novamente e entrar para as estatísticas.
Por meio de nota, a Sesa reforçou que a deliberação para a compra e venda de autoteste para detectar a infecção pela Covid-19 foi feita pelo Ministério da Saúde. "As secretarias estaduais não são notificadas sobre o resultado porque as pessoas realizam os testes em casa, não sendo possível o controle dos órgãos estaduais, já que o Ministério e a Anvisa não criaram mecanismos formais para esta notificação", informou a pasta.
Nas justificativas apresentadas à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a aprovação do autoteste para Covid-19 no Brasil em janeiro deste ano, o Ministério da Saúde defendeu que os exames caseiros são uma estratégia é complementar ao plano nacional de testagem. Isso porque, com o resultado rápido, as pessoas postivadas podem iniciar imediatamente o isolamento, o que ajuda a interromper da cadeia de transmissão.
Para o infectologista Lauro Ferreira Pinto, mesmo com a subnotificação de casos de infecção, o uso dos testes caseiros é importante. "Independentemente do autoteste, já há mais casos do que se tem registro oficialmente", aponta.
Segundo o médico, o autoteste não tem precisão absoluta, mas é eficaz. "O teste não é tão perfeito quanto o molecular, mas tem índice de acerto de 80%. Se deu positivo, a pessoa tem o vírus. Se der negativo, mas continuar com sintomas, a orientação fazer o diagnóstico molecular", explica.
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