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Falta de gás em Vitória não foi responsabilidade da ES Gás, conclui Arsp

Falta de gás em Vitória não foi responsabilidade da ES Gás, conclui Arsp

Investigação realizada pela agência reguladora aponta que dano em tubulação na Avenida Dante Michelini, no mês passado, foi causado por terceiros

Publicado em 10 de maio de 2024 às 18:51

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Equipes da ES Gás trabalhando no local onde duto de gás foi perfurado
Equipes da ES Gás trabalhando no local onde duto de gás foi perfurado. (TV Gazeta)
Felipe Sena
Repórter / [email protected]

Agência de Regulação de Serviços Públicos do Espírito Santo (Arsp-ES) se manifestou sobre a apuração referente à perfuração de um duto de gás na Avenida Dante Michelini, em Vitória, ocorrida no dia 7 de abril, que afetou cerca de 13 mil unidades consumidoras. De acordo com a agência, a ES Gás — concessionária que administra a distribuição de gás na Capital — não foi a responsável pelo ocorrido, tendo o dano sido provocado por terceiros. A empresa que estava realizando a obra, segundo informado pela Prefeitura de Vitória, era a QMC Telecom

"Identificou-se que a origem do dano no gasoduto foi provocada por terceiros interferentes e que o procedimento adotado pela ES Gás para interromper o serviço de distribuição de gás buscou principalmente preservar a segurança das pessoas e dos ativos", diz nota da Arsp enviada à reportagem de A Gazeta.

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Apesar disso, a agência afirma também que a fiscalização está em andamento e fez apontamentos à ES Gás. Agora, a concessionária tem um prazo para manifestar sua defesa. A assessoria da Arsp foi questionada sobre quais seriam esses apontamentos. Por nota, foi dito que, como o processo de fiscalização está em andamento, não é possível divulgar muitas informações. 

"A apuração foi consolidada pela Arsp em relatório de fiscalização e termo de notificação enviados para a concessionária, que possui o direito de se manifestar e apresentar sua defesa prévia. Esta Agência Reguladora respeita o estabelecido na Resolução Arsp n° 048/2021 que dispõe sobre o processo sancionador. Após o recebimento da defesa prévia, em caso de não conformidades não afastadas pela Arsp durante o rito processual, há a previsão de emissão de auto de infração. Ademais, o plano de ação apresentado está sendo avaliado quanto à sua viabilidade, uma vez que envolve a participação de outros agentes, entre outros aspectos", afirma a agência, por nota.

A agência explica que, quando instaura uma investigação, solicita várias informações para verificar a conformidade das ações. A partir disso, fez alguns apontamentos à ES Gás, que ainda está dentro do prazo para enviar sua defesa prévia. Contudo, a Arsp afirma que, com as informações já obtidas na primeira etapa da fiscalização, identificou-se que o dano no gasoduto foi causado por terceiros e que o procedimento adotado pela ES Gás buscou preservar a vida das pessoas.

Além do processo fiscalizatório, a agência do governo do Espírito Santo informa que foram solicitados esclarecimentos formais, avaliadas as documentações enviadas pela ES Gás, realizadas reuniões e inspeção in loco e solicitado um plano de ação por parte da ES Gás , com medidas de curto, médio e longo prazo com a finalidade de evitar novas ocorrências dessa natureza.

Outros órgãos também investigam

Três dias depois da perfuração, em 10 de abril, o Procon de Vitória notificou a ES Gás e pediu detalhes sobre a perfuração, dando um prazo de 10 dias para a manifestação, contados a partir do recebimento da notificação.

A ES Gás afirmou, por nota, que a resposta aos questionamentos do Procon de Vitória foi enviada dentro do prazo previsto, conforme solicitado, e disse seguir à disposição do instituto. "A empresa reforça que todo o serviço foi reestabelecido no dia 10 de abril, seguindo os protocolos necessários para priorizar, sobretudo, a segurança de suas equipes e dos usuários", diz a empresa. 

A gerente do Procon de Vitória, Raquel Vionet, confirmou que a concessionária se manifestou dentro do prazo. "Foi enviada uma manifestação muito robusta e completa, com datas, horários e instruções fotográficas", destaca.

Raquel disse que o caso agora está sob análise do departamento jurídico do órgão, que vai analisar se a empresa tomou todas as providências dentro daquilo que é competência dela. 

Depois dessa análise, o órgão municipal de defesa do consumidor vai decidir se multa a ES Gás ou arquiva o caso. A gerente também reforça que possíveis danos a consumidores são tratados na esfera jurídica, destacando que o Procon tem competência para atuar nas relações de consumo, expressas no Código de Defesa do Consumidor (CDC). 

Raquel também esclarece que, por conta dessa delimitação, o Procon de Vitória não autuou a QMC Telecom.  "Isso foi amplamente debatido aqui. A gente analisa a relação de consumo, que tem um consumidor e um fornecedor de bem ou serviço. Nesse caso, o serviço prejudicado foi o fornecimento de gás. A empresa de telefonia não está dentro dessa relação de consumo. A empresa pode, sim, ser eventualmente responsabilizada pelo dano, mas em outras esferas do Direito", explica.

O Ministério Público do Espírito Santo (MPES), por meio da Promotoria de Justiça Regional do Consumidor, também conduz uma apuração sobre o caso e pode propor uma ação civil pública em favor dos consumidores afetados pela suspensão no abastecimento de gás, segundo afirmou o advogado Marcelo Pacheco Machado. Ele acrescenta que moradores e comerciantes prejudicados também podem, individualmente, recorrer à Justiça, solicitando indenização, tanto por dano moral quanto material. 

A Promotoria de Justiça Regional do Consumidor explica que, diante das informações recebidas das partes envolvidas, prorrogou a tramitação dos autos e oficiou novamente a Agência de Regulação de Serviços Públicos do Espírito Santo (Arsp) e a ES Gás para que apresentem novas informações.

"O MPES solicitou à Arsp que informe sobre o processo de fiscalização instaurado pela concessionária a respeito da ocorrência. Da mesma forma, solicitou novas explicações por parte da ES GÁS sobre o caso. Assim, o MPES aguarda as respostas, para a adoção das demais medidas necessárias à proteção dos direitos dos consumidores", afirma o Ministério Público, por nota, sobre o andamento da apuração.

Também no mês passado, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil - seccional Espírito Santo (OAB-ES), José Carlos Risk Filho, afirmou que o vazamento de gás em Vitória não poderia ficar impune e que iria acionar a Comissão de Direito do Consumidor da Ordem para acompanhar e emitir parecer sobre o caso. A ordem também foi procurada para saber o andamento do parecer, mas não enviou resposta.

De acordo com a Unidade de Fiscalização do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Espírito Santo (Crea-ES), a QMC Telecom não tem registro no conselho estadual e, por isso, já tem um auto de infração lavrado pelo órgão.

Relembre

Durante uma obra de instalação de estrutura para a tecnologia 5G, realizada na Avenida Dante Michelini, em Vitória, na noite de 7 de abril, pela empresa QMC Telecom, um duto de gás foi perfurado. Foi preciso suspender o fornecimento de gás em quatro bairros de Vitória: Jardim da Penha, Mata da Praia, Bairro República e Goiabeiras. Cerca de 13 mil unidades consumidoras foram afetadas, incluindo restaurantes. Após três de serviços executados pela ES Gás, o abastecimento foi restabelecido no dia 10 de abril.

Desde que foi revelado o nome da empresa responsável pela obra, a reportagem fez diversas tentativas de contato com a QMC Telecom. Mensagens foram enviadas por diversos canais de comunicação da empresa, como telefone, perfis em redes sociais, na área "Entre em Contato" do site da companhia e por e-mail ao setor de marketing. 

Na tarde desta sexta-feira (10), mais uma tentativa de contato foi realizada no número disponibilizado no site. Inicialmente, uma gravação identifica a empresa e diz para aguardar em linha. Em seguida, outra gravação, essa em inglês, instrui a gravar um recado na caixa de mensagem. Entretanto, logo depois que é dado o sinal para iniciar o recado, outra gravação em inglês informa que a caixa está cheia e não é possível deixar mensagem. 

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