Depois que o filho nasce, um dos momentos mais marcantes costuma ser quando ele dá os primeiros passos. Porém, uma família do Espírito Santo talvez nunca viva isso caso não consiga a ajuda necessária a tempo. O pequeno Gael, de seis meses, sofre com uma má-formação na perna direita e precisa passar por uma cirurgia até o início do ano que vem. O problema é que todo o tratamento custa cerca de R$ 200 mil.
Mãe do capixabinha, a empresária Luanda dos Santos Câmara explica que o plano de saúde cobre a maior parte do valor da cirurgia, mas não arca com os custos do médico, das fisioterapias e da moradia necessária para viabilizar o procedimento, que será feito em uma clínica especializada na cidade de Curitiba, no Paraná.
Nascido em setembro do ano passado, o Gael não tem a tíbia – o principal osso da panturrilha e o segundo maior do corpo humano. Essa alteração recebe o nome de hemimelia tibial. Dessa forma, o pezinho do menino fica logo após o joelho. Além disso, o pé dele é torto e possui oito dedos, um problema chamado polidactilia.
Apesar de já confirmadas na gestação, as más-formações foram devidamente diagnosticadas somente após o nascimento e uma série de exames. O parecer final foi dado pelos médicos em janeiro deste ano. Logo depois, a família deu início à "vaquinha" que, por enquanto, acumula cerca de R$ 16 mil.
O prazo para arrecadar toda a quantia necessária se deve às limitações do tratamento. Antes de ter um ano de idade, o pequeno não pode receber anestesia, porque poderia afetar os neurônios. Porém, se ele não fizer essa cirurgia até completar um ano e seis meses, o alongamento pode ficar comprometido.
Para não depender da solidariedade de outras pessoas e garantir um futuro melhor ao filho, a família tentou passar pelo Sistema Único de Saúde (SUS). "Nós demos entrada pelo SUS quando ele estava com dois ou três meses, mas ainda não conseguimos passar pela primeira consulta", desabafa Luanda.
Outra possibilidade avaliada foi realizar o tratamento no Espírito Santo. Entretanto, a falta de prática dos profissionais assustou. "Passamos por ortopedistas, mas eles só viram esse tipo de caso em livros e estudos. Ficamos inseguros de deixar na mão de quem não têm essa experiência", explica a mãe.
Se tudo der certo e a cirurgia virar realidade dentro de um ano, o pequeno Gael ainda terá que fazer duas fisioterapias por dia. "Elas servem para alongar o osso da perninha direita e evitar problemas na circulação sanguínea. Se não forem feitas corretamente, ele pode perder o pé", esclarece Luanda.
Depois de ficar meses com um fixador na perna, o menino precisará passar por mais um procedimento quando tiver entre quatro e cinco anos. "Essa segunda fase, o plano de saúde cobre e teremos que arcar 'só' com os custos médicos, que, pelo o que conversei, está entre R$ 9 mil e R$ 11 mil", diz.
O médico ortopedista Richard Luzzi é quem deve operar o pequeno Gael, no Centro de Excelência em Reconstrução Óssea, em Curitiba (PR). Especializado nesse tipo de caso, ele explica que há cinco níveis de complexidade de hemimelia tibial e que a do capixabinha é, provavelmente, do mais sério.
"São várias formas, desde um encurtamento leve e com boa mobilidade do joelho e tornozelo, sem alterações no número de dedos nos pés, até a ausência completa da tíbia, com grande deformidade da fíbula, duplicação ou redução de dedos no pé, e ausência do quadríceps e da patela", detalha.
O especialista também esclarece que o tratamento é complexo e consiste, inicialmente, em três cirurgias separadas por seis meses cada. "Na primeira, via de regra, a fíbula é corrigida, os tendões são liberados e é instalado um fixador externo. A correção é progressiva e muito lenta", diz.
"Depois, ele volta para o centro cirúrgico para alinhamento final e reconstrução do joelho, se possível. Essa é a maior cirurgia, e algumas crianças precisam ser encaminhadas para a UTI nas primeiras 24 horas. Na terceira, o aparelho é retirado e ele fica com um gesso e uma órtese para proteção", completa.
O pequeno Gael é o primeiro filho da Luanda e do Natã Amorim. Moradores de Venda Nova do Imigrante, ela é dona de uma empresa de estética automotiva, e ele é policial militar na cidade. O jovem casal não consegue arcar com os custos do tratamento e contam com a solidariedade das pessoas.
Sensibilizados com a história, amigos deles organizaram duas rifas. A primeira custa R$ 5 e tem como prêmio uma cesta de chocolate, que será sorteada no dia 15 de abril. Já a segunda custa R$ 10 e dará uma arma e R$ 1 mil para os vencedores em setembro. A participação é pelo Instagram.
Quem quiser ajudar também tem a opção de fazer uma transferência de qualquer valor por meio do aplicativo Picpay (@Luandacamara) ou Pix (CPF: 132.607.397-42). No mesmo perfil nas redes sociais, a família promete fazer uma espécie de "prestação de contas" e postar a evolução do Gael.
"Tudo ainda é muito difícil. Eu não consigo calçar um sapato nele, por exemplo. Às vezes, é desesperador pensar que poderemos não conseguir, mas ver que tem gente que ajuda, acalma. Agora, com a campanha organizada, a gente fica mais esperançoso de que tudo vai dar certo", comenta Luanda.
Sobre a reclamação de demora para o atendimento do Gael no SUS, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) informou que a consulta dele na ortopedia pediátrica está agendada para esta sexta-feira (18), às 9 horas, no ambulatório do Hospital Estadual Infantil Nossa Senhora da Glória, em Vitória.
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