O Restaurante Maré Alta, mais conhecido como Restaurante da Juliana, localizado no balneário de Iriri, em Anchieta, no Sul do Estado, é famoso pelos pastéis portugueses vendidos. Camarão, carne, queijo e pizza, todos deliciosos e campeões de venda. O que muitos que devoram a iguaria não sabem é o fato de os pastéis serem oriundos de uma tradicional receita de família, esta criada há mais de seis décadas.
A receita é do imigrante português Manoel das Neves Abrantes ou, como era chamado, Manoel Português. “Meu pai veio de Portugal, passou no Rio de Janeiro, depois em Cachoeiro de Itapemirim e depois aqui em Iriri”, contou a filha dele, Juliana Antônio Abrantes, de 50 anos.
Segundo o outro filho de Manoel – teve quatro ao todo – Leonardo Antônio Abrantes, de 45 anos, o pai veio para Brasil após a 2ª Guerra Mundial. No Rio de Janeiro, ele foi só de passagem; já em Cachoeiro, fixou moradia, trabalhou como garçom e casou com Lourdes Antônio Abrantes. Entretanto, foi no verão que viu a oportunidade de trabalhar em Iriri ao ser chamado para construir casas de veraneio.
No balneário de Anchieta, Manoel participou da construção do Clube de Iriri, da igreja, bem como do antigo Hotel Costa Azul e atual área de eventos da comunidade.
Com o tempo, abriu uma pequena mercearia. Em seguida, um restaurante, um bar e um hotel no Centro da região, na década de 60, conhecidos como Restaurante do Português, Bar do Manoel Português e Hotel Juliana. “Mas por anos meu pai foi sócio do tio Antônio, desde uma vida”, destacou Juliana. Segundo ela, o pai era muito conhecido dentro e fora do balneário, assim como os pastéis.
Para Juliana, o sucesso dos pastéis veio do carisma do pai e da qualidade do produto. “Do jeito que ele fez, ensinou a gente e mantivemos a receita. É muito procurado até hoje, além de ter um formato diferente, tem muita proteína, é feito manualmente, é gourmet. Na época do meu pai seria artesanal”, explicou o motivo do que torna o prato um diferencial.
Leonardo disse que o pai cuidou do restaurante até o ano de 2009, ano em que faleceu aos 75 anos.
No dia em que morreu, Manoel repetiu a rotina: acordou cedo para ir à praia onde costumava caminhar e nadar. No entanto, ele foi encontrado morto e o laudo apontou que a causa foi afogamento. “Mas foi muito no raso, acredito que ele possa ter se sentido mal, um mal súbito e se afogou no raso”, falou Leonardo.
Para a família, Manoel deixou como legado um exemplo de vida dedicado ao trabalho, a criação dos filhos e netos, assim como muitas amizades.
Depois que Manoel morreu, Leonardo e o irmão Tiago Antônio Abrantes, de 44 anos, ficaram responsáveis pelos estabelecimentos do pai. Contudo, atualmente, o bar não existe mais e o restaurante – que tem o nome preservado até hoje – não é mais mantido pela gestão familiar, uma vez que foi alugado para outra pessoa.
Já o Hotel Juliana continua administrado pela família, nas mãos do filho mais novo de Manoel, Tiago. Além dele, Leonardo também participa da administração do local.
Agora, o restaurante da família onde vendem os pastéis fica na Praia dos Namorados, aos cuidados da Juliana e do marido dela, Jailson Mantovaneli, de 49 anos. “Ele é derivado do esforço do meu pai e da família, na construção dos negócios”, disse Leonardo.
Esse restaurante, conhecido popularmente como Restaurante da Juliana, foi comprado em 1999. E o nome pegou tanto entre os moradores e turistas da região que, ao buscar no Google o nome Restaurante Maré Alta, aparece entre parênteses “Restaurantes da Juliana”.
Fora desse local, os pastéis podem ser encontrados na Praia da Areia Preta, no quiosque do Felipe Português, sobrinho de Juliana.
Embora o nome da filha de Manoel seja Juliana, Leonardo explicou que o nome do hotel e do restaurante é uma homenagem à avó materna – chamada Julieta – e paterna – chamada Ana. “Foi uma junção dos nomes Juli e Ana”, contou.
Para ela, é uma alegria trabalhar no restaurante, que, além do pastel português, oferece outros pratos como moqueca, peixe frito, filé de frango, pirão de peroá, camarão frito e empanado.
Ela disse que gosta muito do que faz e se sente feliz quando atende os clientes. E acredita que o estabelecimento é um lugar que atrai as pessoas pelas delícias e história que têm. ”Ninguém vai a Iriri sem conhecer o nosso pastel. Venham todos experimentar!”, convidou com bastante energia.
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