> >
Famílias que sobrevivem com doações sonham com emprego e mais empatia

Famílias que sobrevivem com doações sonham com emprego e mais empatia

As famílias que vivem em áreas de vulnerabilidade social estão entre os mais afetados pela crise econômica causada pela pandemia. Passaram a viver, em sua maioria, de doações, mas ainda assim não perderam o sonho de mudar suas realidades

Publicado em 26 de dezembro de 2020 às 06:01

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Criança
O jovem T.P., de 13 anos, que toma conta do seu irmão de 1 ano e sete meses. (Carlos Alberto Silva)

Quando perguntamos para a adolescente T.P, de 13 anos, o que gostaria de ganhar de Natal, ela foi taxativa: “Fralda, leite e um sapatinho para meu irmão”. E arrematou: "Não precisa se preocupar comigo, eu me viro.”  A garota faz parte do grupo de famílias  que vivem em regiões de vulnerabilidade social, um dos mais afetados pela pandemia do novo coronavírus.

Tão rápido quanto a velocidade do contágio, essas famílias viram desaparecer seus empregos informais, as possibilidades de obterem algum tipo de renda nas ruas e passaram a viver de doações, principalmente de projetos sociais. 

"Eles sempre nos ajudam, fazem o que podem", relata Ana Paula Nascimento Freitas, mãe de cinco filhos. Mas, ainda assim, famílias como a dela não deixaram de sonhar com um mundo mais generoso, solidário, e com mais oportunidades, principalmente de emprego.

Um exemplo é a garota de 13 anos, moradora de Boa Vista 2, em Vila Velha, que almeja fazer um concurso público para ser policial militar. Mas ela sabe que irá enfrentar uma longa trajetória. “Eu sonho que tudo mude. Que eu volte a estudar, em começar a trabalhar como menor aprendiz e receber mais, e em daqui a alguns anos ter carteira assinada, fazer o concurso da PM. Quem sabe, se Deus quiser, tudo mude. Assim, um dia, eu chego lá”, desabafa.

Ela mora com a bisavó, de 70 anos, que é aposentada, e ajuda a cuidar do irmãozinho de um ano e sete meses. “Já acostumei com esta vida. Tem coisa pior do que o coronavírus”, relata, ao se referir ao abandono materno.

A jovem foi entregue para a bisavó aos seis meses. “Minha mãe voltou quando eu tinha 5 anos e pouco, depois sumiu de novo. Só retornou, grávida, quando eu já estava com 12 anos. Quando meu irmão completou um ano, ela foi embora de novo. Está de volta, desempregada, mas não sei até quando”, conta.

Desde o início da pandemia a jovem deixou de cursar a 7ª série na escola local. “Vou repetir de ano. Não tenho celular, computador ou internet em casa”, conta. Ela aproveita o tempo trabalhando na casa de uma família, onde cuida de crianças. Recebe por semana R$ 50. “Com o dinheiro compro as coisas para o meu irmão, mas sempre falta”.

Daí o diferente pedido de Natal: um sapatinho tamanho 24 para o irmão, além de fralda, mucilon e leite, que nunca é o suficiente. “Eu me viro, quero só para ele”, desabafa.

Família
O seu Aloísio Ferreira Santos, 65, a esposa Aline Maria de Jesus, 27 anos, e filhos. (Carlos Alberto Silva)

SOBREVIVENDO NO DIA A DIA

No mesmo bairro vive o aposentado Aloisio Ferreira Santos, 65 anos, aposentado, com a esposa Aline e os quatro filhos de 13, 8, 4 e 1 ano. O que recebe por mês mal dá para pagar o aluguel de R$ 500, água, luz e gás. “Não sobra quase nada e às vezes fica em falta de alguma coisa para que a gente possa pagar alguma conta ou comprar algum remédio”, relata.

Em casa, só tem uma televisão. “Não tenho computador e nem internet. As crianças estão sem estudar”, conta. Aloísio sonha com um emprego ou uma oportunidade de trabalho que o permita melhorar as condições em que vive a sua família. “A gente quer paz, um ano de alegria e mais oportunidades para todos”, desabafa.

Família
Ana Paula Nascimento Freitas, 36 anos, com três de seus cinco filhos. (Carlos Alberto Silva)

A DURA VIDA DE UMA MÃE SOLO

Ana Paula Nascimento Freitas, 36 anos, é solteira e mãe de cinco filhos de 18, 12, 7, 5 e 1 ano. Desempregada, fazia faxinas para complementar a pensão de R$ 450 que recebe, mas desde o início da pandemia não tem conseguido trabalho.

A renda da família é complementada com ajuda do filho de 18 anos, que trabalha nos finais de semana recebendo R$ 50 por dia. “Vai quase tudo no aluguel de R$ 700 e na luz”, conta.

Além de receber R$ 300 do auxílio emergencial, ela conta com a ajuda do projeto social Recriares para garantir a alimentação da família. “Sou manicure, mas não tenho material de trabalho. E depois da pandemia, ficou ainda mais difícil, ninguém contrata faxina com medo”, relata.

Mas nem sempre o que recebe é suficiente para manter as crianças. “Sempre tenho que estar pedindo ajuda e um dá leite, outro um pão, cesta básica, um pacote de fralda. Hoje eu tenho uma cesta, mas no geral tenho passado bastante sufoco, tem dia que só tem arroz e feijão, e criança quer fruta, carme, iogurte, e nem sempre posso dar”, desabafa.

Na casa delas, as crianças não querem brinquedo de presente de Natal. “Eles pedem biscoito, frango, comida e uma televisão, mesmo que seja velha. Tudo o que mais querem é uma televisão, mas não tenho. Eu levo para o parquinho para distraírem”, conta.

Seu sonho para 2021 é que a família consiga ser vacinada contra o novo coronavírus e que ela consiga montar o próprio negócio. “Como manicure, para dar uma vida digna para meus filhos, sem depender de ninguém”, desabafa.

Família
Maria Emanulle Santos de Oliveira, 21 anos, e seus três filhos. (Carlos Alberto Silva)

ELA SONHA COM UM EMPREGO

Quem também vive no sufoco é a família de Maria Emanuele Santos de Oliveira, a Manu, de 21 anos. Desempregada, ela não consegue mais oportunidades de faxina. Com o marido, que conseguiu há dois meses um trabalho na construção civil, ela mantém os três filhos: os gêmeos de 4 anos, e a bebê de quatro meses.

 Maria Emanuele Rrelata que depende da ajuda dos projetos sociais porque o salário do marido mal dá para pagar o aluguel de R$ 500 e as demais contas. “Sempre precisamos de ajuda porque é difícil com um só trabalhando. Falta alimento para as crianças”, conta.

Em 2021, ela sonha com a oportunidade de emprego “Às vezes deixo de comprar leite, para comprar arroz e feijão”, diz. Quer ter a possibilidade de realizar pelo menos um sonho de seus filhos: uma bicicleta. “Nem penso em nada para mim, só preciso de um emprego para ajudar a cuidar deles e, quem sabe, um dia realizar o sonho deles”, desabafa.

Cesta Básica
Cesta Básica. (Arquivo A gazeta)

DE ONDE VEM O APOIO

As famílias citadas nesta reportagem recebem ajuda do projeto social Recriares (veja dados abaixo). Segundo Melissa Emanuelle da Vitória Alves, presidente e idealizadora do projeto, são mais de 600 famílias cadastradas nos bairros de Boa Vista 1, Boa Vista 2, Soteco, Cocal, Coqueiral, Morro do Soteco e Santa Inês.

São famílias em situação de pobreza que dependem de doação de roupas, alimentos, brinquedos. Elas residem no entorno da sede do projeto, localizado em Boa Vista 2, em Vila Velha. “São pessoas muito carentes, desempregadas, e quase toda a renda que obtém vai para o pagamento de aluguel. Em geral, a alimentação é garantida com doações”, relata.

PROJETOS QUE PRECISAM DE AJUDA

Confira abaixo alguns projetos sociais que recebem doações para auxiliar famílias em todo o Estado.

1 - Projeto Recriares

2 - Ateliê de Ideias

3 - Central Única das Favelas do Espírito Santo (Cufa-ES)

4 - Central Comunidades

5 - Instituto Aprender Cultura

6 - Instituto Raízes

7 - Projeto Tudo Por Ele

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais