Todas as noites de segunda-feira, os feirantes e produtores rurais Delfino Schwanz, seu filho Laerte Schwanz e a nora Júlia Schaffelen Ott , saem do distrito Rio Possmoser, em Santa Maria de Jetibá, na região Serrana do Espírito Santo, e enfrentam mais de quatro horas de viagem até São Mateus, no Norte do Estado, para vender frutas, verduras e legumes em um feira livre do município, que acontece nas manhãs de terça-feira. A rotina da família começa cedo, depois de dormir poucas horas no caminhão, ainda durante a madrugada, eles começam a preparar a banca com os produtos. Eles trabalham no local há mais de cinco anos.
Na manhã desta terça-feira (26), eles tiveram a rotina alterada. A família não conseguiu trabalhar e ainda teve parte dos produtos recolhida por fiscais da Prefeitura de São Mateus.
A Prefeitura de São Mateus justificou a ação como uma medida para evitar a proliferação do coronavírus no município. Segundo o Executivo, apenas os feirantes que moram na cidade podem participar das feiras. "O objetivo é evitar que feirantes de fora levem o vírus para a cidade ou sejam infectados em território mateense e contaminem outras pessoas em seus locais de origem", afirmou, em nota, a administração municipal.
Ainda de acordo com o Executivo, essa e outras medidas para evitar a propagação do novo coronavírus valem desde do dia 25 de abril. Apesar disso, a feirante relatou que a família não recebeu nenhuma notificação oficial da Prefeitura de São Mateus e seguia trabalhando normalmente, até que foram impedidos nesta terça-feira (26).
A abordagem dos fiscais da prefeitura também desagradou a feirante, ela reclamou do tratamento recebido. Nós fomos humilhados, os fiscais desrespeitaram a gente, nos chamavam pejorativamente de alemães, um desrespeito e um preconceito com a nossa cultura, lamentou Júlia. Santa Maria de Jetibá concentra uma grande população de descendentes de pomeranos.
A feirante contou que mesmo com os pedidos de que os produtos não fossem apreendidos, os fiscais colocaram a maioria da mercadoria da família em um caminhão da prefeitura. A feirante explicou ainda que a família foi conduzida para fora dos limites de São Mateus e não teve a oportunidade de recuperar os produtos. O valor estimado das mercadorias recolhidas fica entre R$ 10 mil e R$ 15 mil, relatou.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santa Maria de Jetibá, Egnaldo Andreatta, manisfestou preocupação com a maneira que os agricultores do município foram tratados pelos fiscais da Prefeitura de São Mateus e repudiou a ação da prefeitura.
Procurada, a Prefeitura de São Mateus não esclareceu se notificou os feirantes de fora do município sobre a proibição. O Executivo também não se manifestou sobre a postura dos fiscais do município. A prefeitura se limitou a informar que os feirantes de fora de São Mateus estão proibidos de trabalhar no município durante a pandemia.
Segundo a administração municipal, a fiscalização está sendo feita pelos fiscais da Prefeitura, com o apoio da Polícia Militar. Quem descumpre as regras é notificado e tem a mercadoria apreendida, seguindo o que consta em uma lei municipal.
No caso de material ou mercadoria perecível, o prazo para reclamação ou retirada será de 24 horas; expirado esse prazo, se as referidas mercadorias ainda se encontrarem próprias para o consumo humano, poderão ser doados às instituições de assistência social, e, no caso de deterioração, deverão ser inutilizadas, detalhou o Executivo.
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