Quem está ansioso para ser imunizado contra a Covid-19 e deseja saber o período em que isso pode acontecer se animou com o lançamento da plataforma 'Quando vou ser vacinado?', que entrou no ar às 20h do dia 8 de abril e bombou nas redes. A plataforma estima a data com base na combinação de vários dados. Para buscar maior precisão na resposta, a ferramenta leva em conta informações oficiais, incluindo a média dos últimos 7 dias de vacinação coletados diariamente pela equipe do painel @CoronavirusBra1.
A iniciativa, entretanto, é criticada pelos especialistas, pois a oferta de vacinas varia e a produção do imunizante no Brasil depende de outros fatores, o que interfere nos cálculos e não garante a eficácia das respostas.
Os dados em análise na plataforma 'Quando vou ser vacinado?' incluem a projeção da população feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), além da atenção aos grupos prioritários conforme a vacinação anual da Influenza/H1N1 do DataSUS. Toda vez em que um cálculo é feito no site, o portal mostra de que forma foi feito, sendo que todas as informações são atualizadas diariamente.
O criador da ferramenta é Renan Altendorf, formado em Sistemas de Informação. Segundo ele, para fazer a estimativa do usuário interessado, bastam alguns dados pessoais básicos: idade, estado onde reside e se faz parte do Plano Nacional de Imunização (PNI).
Vale destacar, no entanto, que os cálculos não são feitos em cima das remessas. "Isso porque o governo federal sempre furou os cronogramas e agora nem vai divulgar mais. Então a única maneira é calcular com a média de 7 dias. Se por acaso um estado parar de vacinar por alguns dias, isso vai refletir rapidamente, já que atualizamos o sistema diariamente", explicou.
Por exemplo, para uma pessoa de 30 anos que resida no Espírito Santo e que não faça parte do PNI, a projeção da ferramenta é de que a primeira dose seja aplicada daqui a cinco meses e um dia.
1. Primeiro são consideradas as faixas etárias da população do Estado do Espírito Santo;
2. Entram em análise os grupos prioritários:
- Povos Indígenas - 2.547 pessoas;
- Trabalhadores da Saúde - 53.716 pessoas;
- Prioritários do PNI (Plano Nacional de Imunização) - 504.481 pessoas;
3. Quantos já foram vacinados: o Espírito Santo aplicou até terça-feira (13 de abril) um total de 620.303 doses, sendo 505.276 como primeira e 115.027 como segunda dose. Ou seja, 12.43% da população já recebeu ao menos a primeira dose da vacina. Nenhuma dose (0) foi registrada nas últimas 24 horas e a média de vacinação diária da primeira dose é de 14.890 doses - considerando os últimos 7 dias.
Para Etereldes Gonçalves Junior, professor do Departamento de Matemática da Universidade Federal do Espírito Santo e Membro do Niee do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), a ferramenta pode ser imprecisa.
"A impressão é que fazem o cálculo da velocidade média de vacinação dos últimos 7 dias e verificam quantas pessoas teriam sido vacinadas até chegar sua faixa etária (uma espécie de "distância até você"). Mas também perguntam se o interessado faz parte de grupo prioritário e, neste caso, fazem a mesma análise numa outra lista, que é a prioritária. A fórmula seria 'tempo' é igual a 'distância (pessoas até sua faixa) dividida pela 'velocidade' (pessoas por dia)", analisou.
Nesse sentido, o especialista diz que a plataforma conta com imprecisão, já que a oferta de vacinas varia. "A velocidade média está muito sujeita a oferta de vacinas e esta não é regular o suficiente. A velocidade estimada agora para prever algo em um futuro maior que 4 a 5 semanas é muito imprecisa", frisou.
Do mesmo modo a pós-doutora em Epidemiologia, professora da Ufes e consultora da Organização Mundial de Saúde (OMS) Ethel Maciel afirma que a ferramenta que faz a estimativa não é capaz de garantir 100% de eficácia.
"Infelizmente não dá para garantir o tempo, justamente por conta da entrega das vacinas, e tudo dependeria isso. Ainda dependemos do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) que vem da China. Semana passada, por exemplo, tivemos um atraso no envio e isso atrasou a produção do Butantan. Como dependemos disso, é difícil ter precisão desse tempo. Na página do Ministério da Saúde eles já até tiraram o cronograma. Ainda não dá para acreditar totalmente na ferramenta porque dependemos do envio de doses regulares para os Estados e municípios", concluiu Ethel Maciel.
De acordo com Renan Altendorf, o banco de dados que serve de fonte de pesquisa para a ferramenta é bastante amplo. "Estamos fazendo a captação desde a primeira dose na enfermeira Mônica Calazans em São Paulo, então temos um banco de dados público com muita informação, a ferramenta ficou em desenvolvimento por dois meses e continua recebendo atualizações", disse.
Para ele, tudo começou por curiosidade. "Tínhamos os dados de vacinação diárias e começamos a consultar por curiosidade, para saber quando nossos avós e pais poderiam ser vacinados. Como os cálculos estavam batendo com uma margem de erro aceitável, achamos interessante compartilhar isso com o público. Não queremos frustrar ninguém, na verdade queremos que quem recebeu inicialmente uma previsão de seis meses, consiga se vacinar em um ou dois meses, mas como todas as negociações do governo para novas doses foram feitas há poucos meses, as entregas também vão demorar", acrescentou.
A expectativa principal, de acordo com o desenvolvedor, é de mostrar que só há saída da pandemia com vacinas, e que elas estão demorando. "Com o sucesso da ferramenta, estamos todos os dias recebendo mais informações e melhorando os cálculos. Para idades dos próximos grupos de vacinação, a margem de erro é de aproximadamente 15 dias", concluiu.
A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) informou que segue o Plano Nacional de Imunização, do Ministério da Saúde. A perspectiva, segundo o Ministério, é que ao finalizar os 29 grupos prioritários, seja iniciada a vacinação do restante da população. Em nota, a Sesa esclareceu que o quantitativo de doses encaminhadas ao Estado só é informado horas antes do envio realizado pelo órgão federal.
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