Morando com o tio desde o assassinato da mãe, a filha mais nova da médica Milena Gottardi, uma menina de 5 anos, ainda chama pela pediatra. A vítima foi baleada com um tiro na cabeça, no estacionamento do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam), em Vitória, no dia 14 de setembro de 2017.
Em outubro de 2019, o irmão dela, Douglas Gottardi, de 39 anos, conseguiu na Justiça a guarda definitiva das sobrinhas, de 5 e 12 anos. As meninas são fruto do relacionamento de Milena com o policial civil Hilário Frasson, acusado de ser um dos mandantes do crime. A decisão é da juíza da 1° Vara da Infância e da Juventude de Vitória, Lorena Laranja.
Foram três anos bem sofridos. A gente viveu muita coisa complicada, muita fase de adaptação nossa, das meninas, saudade da Milena. Medo também do que poderia acontecer. Foram três anos bem intensos para nossa família. Agora que a gente consegue voltar um pouco à normalidade
Douglas Gottardi
•Irmão de Milena Gottardi
Segundo ele, a garota de 12 anos tem noção do que aconteceu com os pais. Para aprenderem a lidar com o processo, as duas receberam acompanhamento psicológico. Mesmo durante a pandemia, as irmãs estão estudando de forma remota. Apesar de sentirem saudade da mãe, as duas estão saudáveis.
A menina de 5 anos ainda está tentando começar a entender o que aconteceu. A gente tem que saber o que fala para não causar problema futuro, é uma situação delicada. Ela perguntava mais vezes quem era a mãe dela. Muitas vezes, quando chora e fica um pouco nervosa, ela chama a mãe e é bem complicado
Douglas Gottardi
•Irmão de Milena
MISSAS
Para marcar a data do assassinato e homenagear Milena, a família promoveu duas missas no último domingo (13). A primeira aconteceu na Paróquia São José, em Fundão. A segunda foi realizada na Paróquia São Francisco de Assis, em Laranjeiras, na Serra.
O pessoal diz que com o tempo, a gente vai esquecendo um pouquinho, mas parece que a saudade está aumentando. Sinto falta dela vir aqui em Fundão conversar comigo, parece que sempre estou com ela perto de mim. É muito difícil porque um coração de mãe é coração de mãe, a gente não tem outro igual, não esquece, lamentou Zilca Maria Gottardi Tonini, de 74 anos, mãe de Milena.
Família de Milena Gottardi realizaram missas para médica. (Acervo pessoal)
Douglas Gottardi e a mãe Zilca Maria Gottardi Tonini estão na expectativa de que os seis réus acusados de envolvimento na morte de médica Milena Gottardi sejam julgados e condenados.
Como não acontece o julgamento, parece que está faltando alguma coisa. A gente sabe que não é culpa do Judiciário porque realmente essa pandemia tem atrasado os processos. Quando tiver julgamento vai ser feito o que tem que ser feito, e vai ser feita a justiça, analisou Douglas.
Zilca também aguarda o agendamento da audiência. Assim como o filho, ela acredita que o combate ao coronavírus prejudicou o trabalho do Judiciário.
Essa pandemia atrapalhou bastante, mas temos fé que vai acontecer sim. Eu espero em Deus e a justiça dele é muito certa. Pode demorar um pouco mas ela vem, finalizou.
O CRIME
O crime aconteceu no estacionamento do Hospital Universitário Cassiano de Moraes (Hucam), localizado em Maruípe, Vitória. A pediatra Milena Gottardi morreu após ser baleada na cabeça quando saía do trabalho, em setembro de 2017. Hilário, que estava separado da vítima, e o pai dele, o fazendeiro Esperidião Frasson, foram acusados de serem os mandantes do crime.
Outras quatro pessoas foram também denunciadas: Dionathas Alves é acusado de ter atirado na médica; o lavrador Valcir Dias e Hermenegildo Palaoro Filho, conhecido como Judinho, são apontados como intermediários do crime. Por fim, Bruno Broetto é acusado de ter fornecido a moto do crime.
Milena Gottardi, de 38 anos, foi morta com um tiro na cabeça no estacionamento do Hucam, em Maruípe. (Reprodução/Facebook)
O QUE DIZ A DEFESA DOS RÉUS
Hilário Frasson
O advogado Leonardo Gagno defende o policial civil Hilário Frasson. Na avaliação dele, o julgamento deverá acontecer somente no início do ano que vem, quando a situação da pandemia do coronavírus estiver mais controlada. Neste intervalo, ele está estudando o processo e preparando o discurso da defesa.
Nós estamos bem ansiosos. Estamos visitando o Hilário com uma rotina mais intensa para prepararmos a tese. Ele está muito triste, emocionalmente bem abatido e tem muita fé em Deus. Ele é cristão, está se apegando a isso. O Hilário está concentrado para que tenha sucesso no julgamento, para conseguir provar que ele não participou desse crime que tirou a vida da Milena."
Dionathas Alves Vieira
A defesa de Dionathas Alves Vieira informou que o homem apontado como executor do crime é réu confesso e tem colaborado com a polícia e a Justiça desde o início do processo. O advogado Leonardo da Rocha de Souza disse que o cliente dele vive a expectativa de que o julgamento seja agendado o mais breve possível.
A expectativa do Bruno é que ele seja julgado o quanto antes possível pelo conselho de sentença da cidade de Vitória para que seja feita justiça. É isso que ele pede todos os dias na cadeia. Ele também espera julgamento para que ele venha receber uma conduta que ele não nega desde o início desse processo, declarou.
Bruno Rodrigues Broetto
Bruno Rodrigues Broetto está preso acusado de ter fornecido uma moto CB 300 vermelha que teria sido usada por Dionathas Alves Vieira na execução da médica Milena Gottardi. O advogado Leonardo da Rocha de Souza, contratado por Dionathas, também defende Bruno.
A expectativa é enorme porque meus clientes estão presos aguardando julgamento. O Bruno é inocente e nega a autoria desde o início. É uma injustiça o que está sendo feito desde o início desse processo, visto que a única imputação que recai sobre ele é o fato dele ter cedido a moto que foi utilizada no crime pelo Dionathas, destacou.
Valcir da Silva
O advogado Alexandre Lyra Trancoso é o responsável pela defesa de Valcir da Silva, acusado de ter contratado o executor do crime. A audiência está suspensa devido a pandemia. Estamos aguardando a marcação da data. Acredito que não aconteça esse ano. Seria incoerência marcar audiência presencial nessa época, devido a pandemia, disse.
Espiridião Carlos e Hermenegildo Palauro Até o fechamento desta edição, a reportagem não conseguiu contato com os advogados que representam Espiridião Carlos Frasson e Hermenegildo Palauro Filho.