O fungo preto, denominação usada para a mucormicose, doença que afeta quem tem baixa imunidade e está sendo investigada em pacientes infectados pelo coronavírus, apresenta-se como uma nova ameaça. O agente que provoca a infecção tem alto potencial de letalidade, o que pode se tornar um complicador para pessoas já fragilizadas com a Covid-19.
A infectologista Ana Carolina D'Ettorres, da Unimed Vitória, diz que a mucormicose se desencadeia a partir da contaminação por um gênero de fungo encontrado no meio ambiente, em vegetais, alimentos em decomposição, no solo. Todos são expostos diariamente a esse agente infeccioso, mas as pessoas com imunidade preservada eliminam o fungo de forma natural pelos mecanismos de defesa do organismo.
Mas, segundo explica Ana Carolina, para as pessoas com imunidade prejudicada como diabéticos, em tratamento de câncer, ou que usam altas doses de corticoides, os fungos podem se tornar potencialmente invasivos e acabar provocando doenças mais sérias.
A infectologista ressalta que a mucormicose não é uma doença nova. Os fungos causadores sempre estiveram presentes no ambiente e o contágio ocorre por inalação dos chamados esporos - uma das formas evolutivas do fungo - mais resistentes e que se disseminam mais rápido. O fungo não é preto, mas provoca lesões de cor escura.
A prevenção, afirma Ana Carolina, é um pouco difícil, uma vez que o fungo está no meio ambiente. A recomendação é que as pessoas com baixa imunidade evitem locais de obras, com muita movimentação de poeira e até o contato direto com a terra.
A médica aponta que os sintomas são amplos e a doença pode se manifestar desde uma rinite com febre até doenças muito invasivas, provocando necrose pulmonar, dano cerebral e osteomielite (inflamação nos ossos).
Ana Carolina afirma que já foram relatados alguns casos de pacientes com Covid-19 e mucormicose, mas observa que ainda não está estabelecido o nexo causal (vínculo) entre as duas doenças.
Uma das hipóteses para pacientes com coronavírus ficarem mais suscetíveis à contaminação pelo fungo é o uso prolongado de corticoides, além do fato de pessoas com comorbidades, como diabéticos, serem do grupo de risco para a doença provocada pelo coronavírus.
Paulo Peçanha, professor do curso de Medicina da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e infectologista, aponta que a mucormicose é uma doença rara, mas pode ser uma complicação adicional nos quadros graves de Covid-19.
"Aproveito para chamar a atenção sobre o uso indiscriminado de corticoides em pacientes com a Covid. Os corticoides podem ajudar em situações muito específicas e por curtos períodos, em pacientes internados em uso de assistência ventilatória (respirador) e lesão pulmonar extensa. Usar de maneira indiscriminada não só não vai ajudar como vai predispor a outras complicações", adverte.
No início deste mês, um homem de 71 anos, positivo para Covid-19 e com suspeita de ser portador do fungo preto, morreu em Campo Grande (MS). O idoso teve diagnóstico para o coronavírus e já estava hospitalizado quando surgiram os sintomas da mucormicose - inchaço e lesão com necrose nas pálpebras, além de hemorragia no olho esquerdo.
É o primeiro caso suspeito da doença no Mato Grosso do Sul, e outros casos foram relatados em Santa Catarina, no Amazonas e em São Paulo.
Desde o início de março, médicos da Índia registram aumento de casos de mucormicose em pacientes que tinham o coronavírus ou haviam se curado da Covid-19 recentemente naquele país. Segundo especialistas, isso acontece porque o sistema imunológico do paciente foi enfraquecido pelo vírus.
Paulo Peçanha revela que a alta incidência de fungo preto na Índia está relacionada ao perfil epidemiológico do país asiático, com grande número de diabéticos. "Essa seria uma das razões para vermos muito mais casos de mucormicose por lá do que em outros locais", explica o infectologista.
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