Aos 24 anos, a jovem Luiza Martins de Souza Scrivani chama atenção quando passa pelas ruas de Guarapari. E isso não somente pela beleza e simpatia que a levaram a ter sucesso na carreira como modelo, mas também porque ela trabalha justamente varrendo vias e espaços públicos do município, como gari.
Em 2018, Luiza passou em um concurso da Companhia de Melhoramentos e Desenvolvimento Urbano de Guarapari (Codeg). Assim, no início do ano passado, ela começou a trabalhar na limpeza da cidade e há seis meses optou por sair do emprego de carteira assinada que tinha em uma academia.
"Fiz isso pela estabilidade e pela remuneração, que é quase três vezes maior do que o que eu ganhava. Nunca tive preconceito com a profissão e, no final das contas, acabei gostando do serviço, da turma e do horário", diz a jovem, que mora no bairro Muquiçaba e acorda de madrugada para pegar no batente às 4h.
Para desconstruir a ideia de que a pessoa se torna gari por falta de opção, Luiza afirma que conseguir a vaga é difícil e que o trabalho não é fácil. "A prova é complicada e o concurso, bem concorrido. Não é qualquer um que entra. Acho que as pessoas pecam por falta de conhecimento", comenta.
Apesar de nunca ter sofrido preconceito explícito ou ouvido grosserias, a jovem confessa que passa por momentos que, de forma mais sutil, desmerecem a profissão. "Muitas pessoas falam que eu sou muito bonita para trabalhar como gari e eu digo que sou modelo, mas que sou gari também."
Desde que começou, Luiza já atuou na capina, nas praias e na varrição – área em que trabalha atualmente, ajudando a manter limpo o bairro Ipiranga. "Depois que comecei, dei ainda mais importância para o trabalho. É muito puxado: são seis horas andando com um carrinho pesado", relata.
Depois do serviço junto ao município, ela usa as tardes e noites para cumprir os compromissos como modelo. "Trabalho para cerca de quatro lojas fixas, fazendo provador, e tem as que me chamam de forma esporádica. Além de uma parceria com uma marca local de produtos de cabelo", conta.
Há seis anos no ramo, a jovem conseguiu monetizar o hobby somente em 2021. "Eu comecei a fotografar para a loja de uma amiga, bem informal. Depois, fiz alguns conteúdos externos e as lojas foram me chamando, até que comecei a levar mais a sério e passei a ter retorno financeiro pelo Instagram", continua.
Nascida na cidade de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, Luiza mora no Espírito Santo desde 2014 e viu no Estado capixaba uma possibilidade concreta de realizar um antigo sonho: virar policial militar. "A família da minha mãe é praticamente toda militar e cresci com essa influência no Rio de Janeiro", explica.
"Aqui em Guarapari é mais tranquilo e vi chance real de seguir na carreira, porque no Rio de Janeiro, apesar das oportunidades, sempre achei muito perigoso", continua ela, que chegou a fazer um concurso da Polícia Militar em 2018, mas acabou reprovada no Teste de Aptidão Física (TAF).
Para ter sucesso no próximo, para o qual já está inscrita, Luiza continua estudando, faz crossfit e tem acompanhamento nutricional. "Até nisso o trabalho como gari me ajuda. É um serviço que contribui para a minha disposição e preparo físico. Querendo ou não, são horas de caminhada", conclui.
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