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Gastroenterite, mão-pé-boca e bronquiolite: viroses entre crianças crescem no ES

Gastroenterite, mão-pé-boca e bronquiolite: viroses entre crianças crescem no ES

Especialistas consultados por A Gazeta explicam os motivos do reaparecimento dessas doenças e orientam pais e creches sobre os cuidados necessários

Publicado em 29 de novembro de 2021 às 09:23

Ícone - Tempo de Leitura 6min de leitura
Gabrieli Paulino e o filho Joaquim
O filho Joaquim da pedagoga Gabrieli Paulino apresentou a virose mão-pé-boca e depois de dois meses, sofreu com a gastroenterite. (Arquivo Pessoal )
Autor - Matheus Metzker Vieira
Matheus Metzker Vieira
Aluno do 24º Curso de Residência em Jornalismo / [email protected]

Os casos de infecções virais têm aumentado entre as crianças de 0 a 9 anos no Brasil, de acordo com o boletim InfoGripe, divulgado no dia 18 de novembro pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Vitória é uma das seis capitais que apresentam sinal de crescimento na tendência de longo prazo. Especialistas capixabas consultados por A Gazeta confirmaram que doenças, como gastroenterite, mão-pé-boca e bronquiolite, estão aparecendo com mais frequência nos atendimentos médicos e, por isso, é necessário que os pais e as creches tenham atenção aos cuidados.

Segundo o boletim da Fiocruz, o número de crianças diagnosticadas com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) aumentou e já é superior aos casos de Covid-19. Nos registros da fundação, são mais de 1.500 casos semanais de doenças respiratórias graves no país. No entanto, os resultados laboratoriais indicam que outras viroses menos graves têm maior volume, como Vírus Sincicial Respiratório (VSR),  Rinovírus, Adenovírus, Bocavírus, Parainfluenza 3 e Parainfluenza 4.

No Espírito Santo,  além de alguns casos de bronquiolite fora de época, segundo especialistas, há uma elevação de atendimentos em consultórios e nos prontos-socorros de crianças com gastroenterite ou mão-pé-boca — duas viroses que não causam necessariamente complicações respiratórias, mas estão afetando os pequenos nos últimos meses do ano.

É o caso do Joaquim de 1 ano e 5 meses. O filho da pedagoga Gabrieli Paulino sofreu com duas enfermidades. Há dois meses, apareceram manchas na boca, língua, perna e nos pés. Ele ainda apresentou febre e falta de apetite. Foi diagnosticado com a virose mão-pé-boca. Agora, recentemente, em uma troca de fralda, a mãe notou a mudança na textura das fezes do pequeno. Em seguida, vieram os episódios de vômito e diarreia, típicos da gastroenterite.

“Levei ao pediatra e ele receitou alguns remédios. Demorou uma semana para que o Joaquim ficasse 100% bem. Como ele ainda não frequentava creche, ficou em casa e tomei os devidos cuidados. Deixei de sair para parquinhos e ficamos isolados para não contaminar outras crianças”, contou a pedagoga e mãe do Joaquim.

PRINCIPAIS VIROSES ENTRE AS CRIANÇAS

  • 01

    Gastroenterite

    A gastroenterite é uma inflamação do trato digestivo que resulta em vômitos e/ou diarreia e, por vezes, é acompanhada de febre. Os responsáveis devem manter a criança hidratada, oferecendo líquido várias vezes ao dia e em pouco volume.

  • 02

    Mão-pé-boca

    Doença altamente contagiosa, o mão-pé-boca atinge crianças menores de 5 anos.  Ela se manifesta como feridas na boca (aftas) e erupções nas mãos e nos pés.  Como forma de tratamento, o mais indicado é dar antitérmico em caso de febre e também evitar alimentos ácidos e condimentados, já que provoca uma maior recusa pelo desconforto.

  • 03

    Bronquiolite

    A bronquiolite é uma infecção nos bronquíolos, que são as ramificações dos brônquios que levam oxigênio aos pulmões. Em geral, sua causa é o Vírus Sincicial Respiratório (VSR).  Acometendo mais bebês, entre os sintomas estão uma respiração rápida e esforço respiratório, além de febre, tosse e dor de garganta. Nesses casos, é válido procurar atendimento médico e até fazer o teste de Covid na criança, já que são sintomas bem semelhantes a essa doença. 

O filho da pedagoga Lecimar Will Nunes também apresentou gastroenterite. No mês passado, o Luan começou a se sentir mal na escola e a família foi orientada a buscá-lo.

O pequeno teve cólicas intestinais, vômitos, febre, diarreia e perda de apetite e foi levado ao pronto-socorro, onde precisou receber bolsas de soro. “Busco manter uma alimentação adequada para que ele seja uma criança forte e saudável. A médica inclusive deixou claro que, se ele não estivesse com a imunidade boa, precisaria ficar internado”, explicou Lecimar.

MOTIVOS DO AUMENTO DE VIROSES 

Afinal, por que está acontecendo esse aumento? A médica Euzanete Coser, infectologista pediátrica e membro do departamento de infectologia pediátrica da Sociedade Espiritossantense (Soespe), explicou que as viroses não são notificações compulsórias e por isso, não têm acesso a números consolidados do aumento. Mesmo assim, percebeu, junto aos outros colegas, a elevação de atendimentos em prontos-socorros e consultórios e uma maior quantidade de crianças com atestados nas escolas. E isso se daria por dois motivos.

O primeiro é o fato que, em 2020, a sociedade estava muito mais reclusa dentro de casa e em quarentena, devido às altas taxas de Covid-19. Logo, havia poucas crianças nas escolas, o que promoveu a diminuição da circulação de outros vírus. Neste ano, com o retorno do público infantil às instituições de ensino, foi comum o reaparecimento de doenças gastrointestinais como também aquelas ligadas às vias respiratórias.

O segundo fator é o tempo, já que os capixabas têm enfrentado uma primavera atípica. “Estamos tendo uma primavera com mudanças climáticas. Então, notamos o aumento da circulação desses vírus nessas mudanças de tempo. Em períodos chuvosos e frios, as pessoas mantêm os ambientes menos arejados”, salientou a infectologista pediátrica.

MOTIVO PARA ALARDE? 

Apesar do reaparecimento desses vírus entre as crianças, não chega a ser um motivo para alarde.

O pediatra e coordenador da região Sudeste da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Rodrigo Aboudib, diz que as viroses atingem mais as crianças que o coronavírus, já que esse público não apresenta uma enzima facilitadora para a Covid-19. Mesmo assim, a mortalidade da maioria dessas outras doenças beira a zero.

“A gastroenterite, por exemplo, era uma doença muito séria no nosso país, com números importantes na mortalidade infantil. Mas, com o saneamento básico e o advento dos sais de hidratação, esse cenário mudou. Agora, em se tratando de uma gripe pelo vírus influenza, há possibilidade de óbito na população pediátrica. E 4,5 vezes maior do que a Covid-19”, advertiu o pediatra.

Ainda segundo Aboudib, a gravidade de uma virose irá depender da imunidade da criança e também da presença ou não de infecções paralelas. Ou seja, ela apresentar, ao mesmo tempo, uma bactéria, que pode levar, por exemplo, a um estágio de pneumonia.

PREVENÇÃO

Para prevenir viroses entre as crianças, a máscara funciona como um dos métodos mais eficazes
Para prevenir viroses entre as crianças, a máscara funciona como um dos métodos mais eficazes . (Freepik)

As viroses infantis são transmitidas facilmente no contato de uma criança com a outra. Por isso, a prevenção é responsabilidade, primeiramente, dos pais dos pequenos que já foram infectados.

Então, para Coser, se os pais perceberem que a criança está apresentando quadro gripal ou diarreia, não deve levá-la para a escola ou creche. Nas situações que houver necessidade, elas, inclusive, precisam ser testadas para a Covid, já que, ainda, não estão vacinadas.

“É muito importante ter o diagnóstico, ainda mais porque se a criança for diagnosticada com coronavírus, ela ficará fora da escola por 10 dias. Se for como uma doença comum, ela voltará mais rápido para a escola. Se não for dado um diagnóstico e ela volta para a escola, ela voltará transmitindo”, resumiu.

Outras medidas a serem seguidas, segundo a pediatra, são arejar os ambientes, higienizar sempre as mãos e continuar com o uso da máscara nas crianças acima de 5 anos, seguindo a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS). “Se as pessoas isolarem e mantiverem as crianças doentes em casa, a circulação do vírus também reduz”, completou Coser.

DICAS FUNDAMENTAIS

Apareceu um sintoma na criança. A recomendação é ir imediatamente para o médico? Para Aboudib, não é necessário. É preciso de um tempo de observação, que varia de dois a três dias. Esse período possibilita o aparecimento de outros sinais e um diagnóstico mais preciso do profissional de saúde. “A nossa sociedade é imediatista. E lida com o tempo de uma forma difícil. A criança precisa de tempo de observação. O tempo dela”, afirmou.

Mas, claro, há exceções pelo caminho. Alguns sinais apresentados pelos pequenos devem gerar ações imediatas por parte dos pais ou responsáveis.

“Quando devo correr para o hospital? Quando a criança estiver prostrada, desanimada, mesmo sem estar com febre, tem que ir ao pronto-socorro para saber o que está acontecendo. Esse olhar cuidadoso e atento é uma dica de ouro, porque realmente salva uma vida”, aconselhou Aboudib.

AÇÕES DAS CRECHES 

Seguindo as regras sanitárias de saúde, as creches do Espírito Santo têm se esforçado para evitar surtos de doenças entre as crianças.

Mariah Monjardim é diretora de uma creche privada em Vila Velha e atua com medidas de prevenção a essas doenças no ambiente escolar, já que entende que as crianças estão bem susceptíveis a enfermidades. Tais medidas vão desde a solicitação rotineira do cartão vacinal até orientação aos pais e funcionários quanto aos cuidados necessários.

As creches da Grande Vitória seguem medidas para evitar surtos de viroses entre as crianças
As creches da Grande Vitória seguem medidas para evitar surtos de viroses entre as crianças. (Freepik)

“Priorizamos também os protocolos de limpeza e sanitização do ambiente, ventilação natural e protocolo de higienização das mãos. Inclusive, quando é detectado uma virose dentro da escola, realizamos o monitoramento e de imediato comunicamos aos responsáveis para buscar a criança”, ressaltou.

Outro exemplo é a atuação de uma creche localizada em Jardim Camburi, Vitória. De acordo com a diretora Alessandra Salazar, para manter as 96 crianças seguras, é preciso priorizar uma boa comunicação.

“Precisamos ser enfáticos na hora de não autorizar a criança frequentar a creche se estiver doente, seja com febre, coriza ou diarreia. Há uma negação dos pais. E causa uma reação em alguns casos. Mas depois a família entende, agradece e fica tudo bem”, salientou a diretora.

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