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Georgeval alega ter sido orientado por pastor a mentir em depoimento

Georgeval alega ter sido orientado por pastor a mentir em depoimento

Segundo ele, havia pressão por parte de membros da igreja para que desse uma versão falsa do dia do incêndio, inclusive para a imprensa e para a polícia

Publicado em 19 de abril de 2023 às 13:30

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Pastor Georgeval deixa Fórum de Linhares após primeiro dia de julgamento
Pastor Georgeval deixa Fórum de Linhares após primeiro dia de julgamento. (Carlos Alberto Silva)

Em depoimento na madrugada desta quarta-feira (19) no júri popular, Georgeval Alves Gonçalves disse que deu a versão de que teria tentado salvar o filho e o enteado na época dos fatos porque foi orientado a mentir por um pastor da igreja. Segundo ele, a congregação considerou que "pegava mal" a versão de que ele apenas viu o fogo e fugiu com medo de morrer e que o fato de ele não ter salvado os meninos, ou morrido tentando, alimentava boatos entre os membros. 

"Eu menti porque as pessoas começaram falar que eu deveria ter entrado, me jogado, feito alguma coisa, que se fosse fulano teria entrado. E os pastores começaram a falar pra mim: 'Não é bom que você passe essa imagem, que você foi covarde, omisso'. Fiquei com medo de ser julgado por não ter tentado salvar meus filhos", relatou.

Kauã Sales Butkovsky, 6 anos, e Joaquim Alves Sales, 3 anos, morreram em um incêndio no quarto onde dormiam em abril de 2018. Georgeval é acusado de ter estuprado, torturado e matado as crianças. Ele nega todas as acusações e afirma que o incêndio foi acidental.

Segundo Georgeval, o pastor Abisaí Gonçalves Junior ficou ao lado dele durante todo o tempo que se seguiu ao incêndio. Foi ele, de acordo com o réu, que o orientou sobre o que tinha que falar.

"O pastor Abisaí estava comigo o tempo todo. E falava: 'É bom que você fale que você fez de tudo pra salvar as crianças, porque é isso (que ele tinha sido omisso) que o pessoal está dizendo', e não era bom. Eu fui conduzido a tomar um tipo de atitude que eu e Juliana (Sales, mãe das crianças) não queríamos. Principalmente o pastor Abisaí e a mulher ficaram o tempo todo com a gente, conduzindo no que tinha que falar", afirmou no depoimento.

Teria sido de Abisaí também a ideia da entrevista coletiva improvisada em frente ao Departamento Médico Legal de Vitória, poucos dias depois do fogo, em que Georgeval e a esposa falaram para a imprensa a versão que tinha tentado salvar os filhos, sem sucesso.

"Eu estava esperando a coleta de material para o exame. O pastor Abisaí saiu e foi falar com a mídia porque ele queria que eu desse reposta para as pessoas que estavam falando que eu era omisso. Ele falou que era bom eu falar alguma coisa."

Ainda de acordo com o testemunho de Georgeval, foi por conta da orientação dos pastores da igreja Batista Vida e Paz que ele e Juliana foram para um hotel após o incêndio, ainda que a mulher tivesse parentes na cidade. Os custos do hotel, segundo consta no processo, foram bancados pela igreja.

A reportagem tenta contato com o pastor Abisaí Gonçalves Junior e, caso tenha retorno, este texto será atualizado.

Choro e desespero

Essa foi a primeira vez que o pastor Georgeval falou publicamente desde o ano do incêndio, em 2018, em Linhares. Respondendo às perguntas do advogado de defesa, ele reafirmou diversas vezes que é inocente e que não violentou e nem matou os meninos. Ao ver um vídeo de uma das crianças, chorou bastante.

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Eu tenho uma perspectiva de futuro que eu possa provar minha inocência, pra que eu não deixe esse legado de um monstro, homicida, abusador, porque eu não sou essa pessoa. Tudo isso não passa de um engano, de um erro. Eu não cometi esse crime, não incendiei nada, não assassinei os meus filhos

Georgeval Alves Gonçalves
Réu
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Aos prantos, ele afirmou que ouviu mentiras e recebeu olhares de desconfiança há cinco anos e disse que quis usar o espaço do depoimento para contar sua versão do que aconteceu na madrugada do dia 22 de abril de 2018.

"Fiquei cinco anos preso ouvindo muita mentira. Eu não abusei sexualmente dos meus filhos nem de ninguém. E pra mim dói não poder falar. É a minha vida que está em jogo, a minha vida, minha liberdade, tudo. Se eu não puder falar, me expressar, colocar tudo o que está dentro de mim para fora... Eu não sou essa pessoa. Por mais que eu receba olhares, como se quisesse voar pra cima de mim para me matar. Não só aqui, como no presídio ouvindo, e tendo que ficar quieto. Eu não aguento mais. Se eu soubesse (que seria assim) eu tinha entrado naquele quarto e morrido junto. Meus filhos não vão voltar, o meu ministério não será mais o mesmo", afirmou, chorando bastante.

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