Durante live realizada na plataforma de uma das gigantes mundiais de tecnologia, a Amazon, com sede nos Estados Unidos, dois jovens capixabas relataram a intenção de promover ataques a escolas de Vila Velha. O monitoramento realizado pela empresa em suas redes flagrou a manifestação e o fato foi comunicado ao FBI, o departamento de investigação norte-americano, que acionou a Polícia Federal e a Polícia Civil do Espírito Santo.
De acordo com o delegado Guilherme Eugênio Rodrigues, adjunto da 2ª Delegacia Regional de Vila Velha, que realizou as investigações no Espírito Santo, os jovens, de 16 e 17 anos, agiram em um ambiente virtual onde se sentiam seguros. “Mas não consideraram que as empresas estão preparadas e que qualquer tipo de ameaça é reportada para as autoridades”, pondera.
Ele explicou ainda que toda ameaça de ataque a escola é tratada com prioridade absoluta pelas forças policiais, pelas instituições de ensino e pelas empresas privadas que administram os debates em redes sociais.
“Em nenhum ambiente os infratores estão isentos da ação preventiva e repressiva do Estado. As forças policiais do mundo estão organizadas e imbuídas no propósito de evitar novos eventos. Tudo o que pode ser feito para que não haja mais tragédias em escolas está sendo feito”, destacou.
A live foi realizada no último dia 11 de abril, por meio da plataforma “Amazon Twitch”. O evento foi criado por uma terceira pessoa, que chegou a abordar sobre o tema “massacre em escolas” e aconselhou aos participantes a não “realizarem nenhum ato de violência em escolas”.
De acordo com as investigações, foi nesse momento que um dos jovens declarou: “Dia 20 vou para a escola matar todo mundo”. O outro adolescente também fez um comentário: “Pensando em fazer um massacre na minha escola, o que vc acha”.
Ao identificar os comentários, a Amazon informou ao FBI, que fez uma investigação inicial, identificando dados disponíveis sobre os usuários das duas contas, e comunicou os fatos à Polícia Federal, que por sua vez acionou a Polícia Civil do Espírito Santo.
Com base nas informações recebidas, a investigação chegou ao nome de duas pessoas. Uma delas um jovem de 17 anos, que usava várias contas de e-mail e cujo acesso à internet era pago pela irmã.
Ao ser ouvido pela polícia, o jovem permitiu o acesso ao celular dele, onde foi identificada a participação na live. “Foi quando ele admitiu a autoria das postagens e alegou ter realizado o comentário em tom jocoso, que não estaria preparando um ataque e que a fala seria uma brincadeira”, informa o delegado.
A situação mais complexa envolveu o segundo jovem, de 16 anos, que utilizou o nome de um professor em seu perfil. Com isso, as informações recebidas eram todas do professor, que, em um primeiro momento, chegou a figurar na investigação como suspeito e prestou depoimento para a polícia.
Com o avanço das investigações, segundo o delegado, foi possível constatar detalhes nas informações prestadas às redes sociais que não conferiam com os dados do professor. E permitiram identificar que o autor das postagens era um jovem, cujo nome era igual ao do professor, mas com sobrenome diferente. E mais, ele era vizinho do professor.
Após ser localizado, o jovem de 16 anos foi levado à delegacia para ser ouvido e permitiu acesso ao seu smartphone. “Foi então constatado que ele é o titular da conta na Amazon Twitch, empregada na realização da postagem. Confrontado por essa constatação, ele finalmente admitiu a autoria das postagens e alegou a ter realizado em tom jocoso e que não tinha intenção de atacar escolas”, relata o delegado.
A investigação apontou ainda que o jovem usou indevidamente o nome do professor. “Uma pessoa inocente, envolvida em uma situação que poderia ter acarretado a ela e à família graves implicações, que felizmente não foram concretizadas”, pontua o delegado.
As investigações apontam que os dois jovens não estudam e nem trabalham. O que tem 17 anos utilizou a internet paga pela irmã. “Ele leva uma vida muito simples, não estuda e não trabalha. Ao que tudo indica, não possui acesso a armas de fogo e não chegou a atingir o grau de escolaridade peculiar de sua faixa etária”, explica o delegado.
Uma situação bem semelhante à do segundo jovem, de 16 anos. Em depoimento, ele assinalou que, durante a live, “fez uma brincadeira, em tom de piada”. Afirmou ainda que “não tinha e não tem a intenção de atacar escolas”. Também afirmou não possuir armas em sua casa, reconheceu que o professor é seu vizinho, mas negou ter usado o wi-fi dele.
De acordo com o delegado, um representante do Conselho Tutelar e os pais dos jovens acompanharam os depoimentos. “As famílias demonstraram raiva, indignação, desespero e, nos dois casos, narraram que os adolescentes ficam no quarto e que não têm domínio sobre o que eles fazem com o celular ou computadores. Ambos são jovens de baixa renda”, conta.
A investigação, que contou ainda com o apoio do setor de inteligência da Guarda Municipal de Vila Velha e da Secretaria de Educação do município na identificação dos estudantes, apontou que as postagens citavam o dia 20 de abril como as datas dos possíveis ataques. Os trabalhos de apuração foram concluídos em menos de 48 horas e finalizados no dia 14 de abril.
"Também contamos com a cooperação do delegado federal Guilherme Helmer, da Delegacia de Defesa Institucional e Direitos Humanos da Polícia Federal, cujo trabalho foi fundamental na identificação do adolescente de 16 anos que usava indevidamente o nome do professor", acrescentou o delegado da PCES.
Não foram identificados indícios de que os jovens tinham plano de ataque, armas, facas ou outros equipamentos e cenários. Eles não foram apreendidos.
Os trabalhos de apuração foram concluídos e encaminhados para a Promotoria da Vara da Infância e Juventude do município, para análise sobre as medidas socioeducativas que podem ser adotadas em relação aos dois jovens.
Por se tratar de menores de 18 anos, os nomes dos jovens e das escolas, assim como dados que possam levar à identificação deles não estão sendo informados, seguindo orientações do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta