A identificação de três aves silvestres com gripe aviária no Espírito Santo, ocorrida nesta segunda-feira (15), levanta uma série de dúvidas sobre os riscos de transmissão desse tipo de influenza para humanos. A transmissão do vírus pode acontecer em caso de contato com secreções dos animais doentes. Quando detectada em humanos, a doença tem alta mortalidade, resultando em morte em mais de 50% dos casos, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Entretanto, o vírus não é transmitido entre humanos.
A detecção do vírus da influenza aviária H5N1, considerado de alta patogenicidade, aconteceu pela primeira vez no Brasil em aves da espécie Thalasseus acuflavidus, conhecida como Trinta-réis-bando. Uma estava localizada em Marataízes, litoral Sul do Estado, e outra em Jardim Camburi, em Vitória.
Os pássaros foram resgatados na quarta-feira (10) pelo Serviço Veterinário Oficial (SVO), que iniciou a investigação para confirmar a suspeita após uma notificação recebida pelo Instituto de Pesquisa e Reabilitação de Animais Marinhos de Cariacica.
Segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), as pessoas sob risco de serem infectadas pelo vírus da influenza aviária A (H5N1) são aquelas expostas direta ou indiretamente a aves infectadas (vivas ou mortas) e/ou ambientes contaminados. Exemplos são funcionários/colaboradores de granjas, abatedouros e CETAS, incluindo aqueles que realizam a limpeza e desinfecção desses locais.
Em relação à influenza em aves silvestres de vida livre, considera-se que todas as pessoas que manipularam ou estiveram em contato próximo a essas aves também estão sob risco. Assim, para evitar a transmissão zoonótica, recomenda-se o uso adequado de EPIs e outras medidas de proteção na manipulação desses animais.
A professora do Departamento de Patologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Liliane Cruz Spano fala sobre os riscos de se contrair o vírus, considerado de alta patogenicidade. A transmissão ocorre no contato entre as aves e também pelo contato com as fezes eliminadas por elas. Aves silvestres chegam a ser mais resistentes ao vírus, que é levado nos movimentos migratórios desses pássaros. Quando a transmissão chega no contato com aves domésticas (ou de granja), a mortalidade acaba sendo alta. Nesse caso, a transmissão ocorre também com mais facilidade.
Liliane destaca que, quando um humano é infectado, a letalidade passa de 50%. Segundo informações da Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 2003 e março de 2022 foram registrados 864 casos e 456 mortes causadas pelo H5N1 em seres humanos. Os últimos casos aconteceram em Camboja, China, Espanha, Equador, Reino Unido, Estados Unidos e Vietnã.
Por enquanto, não há registro de transmissão de humano para humano no país. Por isso, ela destaca que no momento o ideal é focar no controle voltado para as aves.
E a orientação ao avistar uma ave ou animal com comportamento diferente é não chegar perto, não encostar e acionar as autoridades. Segundo o Mapa, qualquer cidadão que identifique mortalidade anormal e inexplicável de aves silvestres (qualquer espécie) ou grupo de aves moribundas com sinais clínicos compatíveis com gripe aviária (corrimento ocular, inchaço ocular, dificuldade para respirar, letargia, incapacidade de se levantar ou andar, convulsões, tremores, torcicolo), deve comunicar imediatamente ao SVO da unidade federativa ou aos órgãos ambientais ou de saúde atuantes na região, para garantir que a investigação apropriada seja realizada.
O infectologista Crispim Cerutti, que é professor da Ufes, destacou que as aves silvestres são elos potenciais para que o vírus da influenza, no caso o H5N1, passe a circular nas aves domésticas, que podem transmitir para humanos. Há chance maior de a doença ser transmitida para humanos quando existe grande concentração de aves infectadas (carga viral aumentada), como em granjas.
"Quando acomete seres humanos, o vírus é agressivo e mata boa parte dos infectados. Por isso é importante toda a preocupação neste momento", detalha.
Os sintomas são de gripe em geral, com paciente podendo apresentar:
A exposição direta a aves silvestres infectadas é o principal fator de transmissão da influenza aviária (IA). Estas aves atuam como hospedeiro natural e reservatório dos vírus da IA desempenhando um papel importante na evolução, manutenção e disseminação desses vírus. Essas aves normalmente apresentam infecção sem adoecer, o que lhes permite transportar o vírus a longas distâncias ao longo das rotas de migração. As principais espécies silvestres envolvidas parecem ser aves aquáticas, gaivotas e aves costeiras.
O vírus H5N1 é considerado uma influenza aviária de alta patogenicidade – IAAP (Highly Pathogenic Avian Influenza – HPAI), que pode causar graves sinais clínicos e altas taxas de mortalidade.
O secretário de Agricultura do Espírito Santo, Enio Bergoli, destacou que até o momento não há risco de qualquer embargo e sanção dos produtos agrícolas do Brasil para fora do país por se tratar de doença apenas em animais silvestres. "Agora vamos intensificar as nossas medidas protetivas para que essa doença não chegue nos aviários comerciais", frisa.
Essas medidas de contenção definidas pelo governo do Espírito Santo serão detalhadas nesta terça-feira (16), às 15h30, em coletiva de imprensa a ser realizadas pela Seag.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta