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Grupo de caxambu mirim guarda tradição ancestral em quilombo de Vargem Alta

Grupo de caxambu mirim guarda tradição ancestral em quilombo de Vargem Alta

O grupo foi criado há cerca de um ano e conta com 12 crianças, com idade entre 2 e 16 anos

Publicado em 27 de junho de 2024 às 17:06

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Sara Oliveira
Repórter / [email protected]

Aos dois anos, Jordan Dutra é o membro mais novo do grupo mirim de caxambu do quilombo de Pedra Branca, em Vargem Alta, no Sul do Espírito Santo. Neto da mestre Maria Auxiliadora Ravera, o pequeno morador já tem uma relação estreita com os tambores, que, além do fascínio das crianças, ajudam a preservar a história negra entre as novas gerações da comunidade.

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A família brinca que ele quase nasceu na roda de caxambu. A mãe dele tava dançando o caxambu em uma noite e no outro dia cedinho iniciou o trabalho de parto, foi para o hospital e ele nasceu. A gente vê que tá no sangue

Fábio Ravera Lyrio
Presidente da Associação de Caxambu da comunidade Pedra Branca
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Grupo de caxambu mirim guarda tradição ancestral em quilombo de Vargem Alta
Jordan Piovezam Dutra (esquerda) e Juan Piovezan Dutra são membros do grupo. (Luiz Gonçalves)

O grupo mirim foi criado há cerca de um ano e conta com 12 crianças, com idade entre 2 e 16 anos. O objetivo é apresentar às novas gerações as danças, canções e instrumentos do caxambu, tradição afro-brasileira que deu origem ao jongo e ao congo e está presente em diferentes cidades do Espírito Santo. “A minha avó era de origem africana e ela falava que o caxambu era uma forma de se divertir no meio do sofrimento da escravidão”, conta Maria Auxiliadora, mestre do grupo mirim de Caxambu.

Presidente da Associação de Caxambu da Comunidade Pedra Branca, Fábio Ravera Lyrio conta que, mesmo antes da criação do grupo mirim, as crianças sempre estiveram ao redor das rodas dos adultos, apaixonadas pelos tambores. “Antigamente, minha mãe contava que criança não podia participar, mas elas sempre tiveram uma admiração muito grande pelos instrumentos”, conta.

A mãe é Maria Auxiliadora Ravera - ou “Dora”, como é conhecida, mestre de caxambu e rainha do quilombo Pedra Branca. Apesar de ter nascido na comunidade quilombola, Dora só começou a dançar há oito anos, convencida enquanto trabalhava no corte de cana. “O pai de uma colega sempre comentava com a gente sobre as rodas. Começamos a dançar com outras mulheres e depois criamos o grupo. De lá para cá não paramos mais”, relembra.

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Enquanto a mãe conduz os pequenos, Fábio organiza uma série de projetos de preservação da cultura negra da região, como apresentações e oficinas. Ele vê nas iniciativas uma possibilidade de dar continuidade ao legado do irmão, Alex Sandro Ravera Dutra, que também era ligado ao caxambu antes de morrer. 

“Ele era mestre de tambor e ensinou duas meninas a tocar também. Foi aí que tudo começou [...] Quando eu vejo uma criança tocando com paixão, isso é muito gratificante, ver que o trabalho tá dando frutos”, relata.

No último dia 8 de junho, as crianças do grupo participaram de uma oficina de confecção de tambores e casacas. A aula foi ministrada pelo Mestre Domingos Teixeira Marques, artesão e liderança reconhecida na manutenção de expressões da cultura afro-brasileira no Espírito Santo. 

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Isso é a pedra fundamental: quando a gente vê uma criança com um ano e meio, dois anos, tocando caxambu. Se eu for embora amanhã, eu vou embora sorrindo, mesmo de olho fechado

Domingos Teixeira Marques
Mestre de Caxambu
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*Com informações do repórter Gustavo Ribeiro, da TV Gazeta Sul.

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