O ex-policial civil Hilário Frasson, acusado de ser um dos mandantes do assassinato de Milena Gottardi ao lado do pai, Esperidião Frasson, foi interrogado neste sábado (28) por quase cinco horas no sexto dia do julgamento dos seis réus pelo crime. Ele negou qualquer participação na trama que levou à morte de Milena e afirmou que jamais mandaria matar a ex-companheira.
O ex-marido de Milena afirmou que ligou para a médica no dia do crime para tentar reatar o relacionamento. Isso teria acontecido, segundo ele, na manhã do dia 14 de setembro de 2017, data em que Milena foi baleada na saída do Hospital Universitário (Hucam) no início da noite.
Hilário afirmou: "Às 10h30 liguei para Milena, era o horário em que ela estava mais livre".
O ex-policial afirmou ainda que, na tarde do mesmo dia, Milena ligou para ele. "Já por volta das 14h ou 14h30 ela me ligou e disse: 'amor você pode pegar as crianças? infelizmente cheguei um pouco tarde no hospital hoje'. Eu disse: 'Milena, tenho reunião na Maçonaria às 19h, com o desembargador Ney, mas vou buscar as minhas filhas'. Cheguei às 17h40 na escola", declarou.
Ele ficou na escola esperando o horário das filhas saírem da aula, mas negou que estava agitado e inquieto, como relatou a coordenadora do colégio em depoimento nesta semana. Durante este tempo, ele confirmou que ligou novamente para Milena. Essa ligação, segundo a investigação, foi feita para saber onde a vítima estava para informar aos comparsas.
As interceptações telefônicas feitas pela polícia mostraram que, minutos antes do crime, Hilário ligou para Milena e pouco tempo depois ligou para o pai. A investigação ainda mostrou que após isso Esperidião ligou para Valcir Silva, apontado como intermediário do crime. Valcir, segundo a denúncia, estava na hora no estacionamento do Hucam e orientou, juntamente com Hermenegildo, o Judinho, quem era a vítima que o executor Dionathas Alves deveria abordar.
Hilário, no entanto, afirmou que ligou para o pai para dizer que não levaria a roupa para mãe lavar naquela noite. "Enquanto esperava (na escola), liguei para a Milena e depois liguei para o celular do meu pai para avisar que não iria para a casa do meu pai levar roupa para lavar. E aproveitei para falar com meu pai sobre a venda do cavalo do médico Tarciso, uma venda difícil", afirmou. Mais cedo, Esperidião também afirmou em depoimento que ligou para Valcir para tratar da venda do cavalo.
Último dos réus a depor, Hilário admitiu que, conforme apontou a investigação Polícia Civil, entrou em contato com uma garota de programa poucos dias após a morte de Milena.
Segundo Hilário, isso aconteceu em um momento de fraqueza e que ele estava desnorteado. Ele afirmou, porém, que não concretizou o ato. Acompanhe o júri em tempo real aqui.
"Dias após o ocorrido, tentando digerir tudo o que aconteceu, e na companhia de uma pessoa amiga, que me estimulou a procurar a companhia de outra pessoa. E, num momento em que estava extremamente desnorteado, de extrema fraqueza, eu procurei", relatou.
Hilário também falou sobre a pesquisa por conteúdos pornográficos na internet, também apontada pela polícia, dias após o crime. Ele negou que tenha feito intencionalmente qualquer pesquisa do gênero.
"Eu participava de diversos grupos, com pessoas de idades diversas. Sou analfabeto digital. Sempre abria todas as mensagens e em algumas destas, acabei clicando em algum link. Não fiz pesquisa pornográfica. Não fiz e não faria, principalmente naquele momento".
O advogado Rodrigo Bandeira de Melo, que atua na defesa de Hilário, fez uma avaliação positiva do depoimento do cliente. "Ele falou com clareza tudo que ele vem defendendo para a gente. Optou por responder perguntas de todos, esclareceu tudo de acordo com o que vem defendendo, então nosso balanço é que foi um depoimento positivo."
Melo afirmou que agora o júri entra na reta final do júri, com a fase dos debates, que é de extrema importância. "É onde temos a possibilidade de expor nossa tese, nossa linha de raciocínio para os jurados. Vamos contar a nossa versão da história, que ao nosso ver faz mais sentido, e aí fica a critério dos jurados".
Já o promotor de Justiça Leonardo Augusto de Andrade Cezar dos Santos avaliou que os depoimentos deste sábado, sobretudo o de Hilário, "foram totalmente desconexos com as outras provas que existem nos autos".
"O réu tem o direito de permanecer em silêncio, pode falar a verdade, mas a legislação também garante ao réu o direito de mentir. Mas uma declaração dada em Juízo tem que ser harmônica e combinar com as demais com as provas nos autos. Todos os interrogatórios de hoje foram desconexos. Ninguém estava em lugar nenhum, tudo era coincidência", avaliou o promotor.
A médica Milena Gottardi, 38 anos, foi baleada no dia 14 de setembro de 2017, quando encerrava um plantão no Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (Hucam), em Maruípe, Vitória. Ela havia parado no estacionamento para conversar com uma amiga, quando foi atingida na cabeça.
Socorrida em estado gravíssimo, a médica teve a morte cerebral confirmada às 16h50 de 15 de setembro.
As investigações da Polícia Civil descartaram, já nos primeiros dias, o que aparentava ser um assalto seguido de morte da médica (latrocínio). Naquele momento as suspeitas já eram de um homicídio, com participação de familiares.
Ao liberar o corpo de Milena no Departamento Médico Legal (DML) de Vitória, o ex-policial civil Hilário Frasson teve a arma e o celular apreendidos pela polícia. Ele não foi ao velório e enterro, que aconteceram em Fundão, onde Milena nasceu.
Os dois primeiros suspeitos foram presos, no dia 16 de setembro de 2017: Dionathas Alves Vieira, que confessou ter atirado contra a médica para receber R$ 2 mil; e Bruno Rodrigues Broeto, acusado de roubar a moto usada no crime. O veículo foi apreendido em um sítio, onde foram queimadas as roupas do executor.
Em 21 de setembro de 2017, o sogro de Milena, Esperidião Carlos Frasson, foi preso, suspeito de ser o mandante do crime. Também foi detido o lavrador Valcir da Silva Dias, suspeito de ser o intermediário. Na mesma data, o ex-marido Hilário Frasson foi preso.
O último a ser detido foi Hermenegildo Palauro Filho, o Judinho, em 25 de setembro de 2017, apontado como intermediário. Ele tinha fugido para o interior de Aimorés, em Minas Gerais.
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