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Hospedagem para profissionais de saúde no ES ainda não saiu do papel

Hospedagem para profissionais de saúde no ES ainda não saiu do papel

O anúncio foi feito pelo Governo do ES no dia 30 de abril, mas até esta quinta-feira (18), passados 48 dias, os profissionais de saúde ainda não foram beneficiados com a medida

Publicado em 18 de junho de 2020 às 16:29

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Disponibilidade de hotel para profissionais da área da saúde do município
Governo anunciou em abril que promoveria hospedagens para profissionais da área da saúde. (Felipe Reis/Felipe Tozatto)
Hospedagem para profissionais de saúde no ES ainda não saiu do papel

No dia 30 de abril, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) anunciou que o Governo do Espírito Santo alugaria quartos de hotel para que profissionais da saúde, que atuam no combate ao coronavírus, ficassem hospedados, evitando-se assim o aumento do risco de contaminar pessoas que convivem com estes profissionais em casa, após o expediente no trabalho. Apesar do anúncio, nesta quinta-feira (18), passados 48 dias, a iniciativa ainda não foi colocada em prática.

O conselheiro da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Espírito Santo (Abih-ES) e gerente-geral de um hotel em Vitória, Paulo Maia, informou que  os valores alcançados por meio de pregão eletrônico, realizado pelo Estado, não foram suficientes para custear o serviço. Ele lamenta a situação."Para o nosso padrão de hotel, o valor não ficou satisfatório. No pregão, ganha quem oferece o menor valor. O preço estimado para nosso hotel, seria de R$ 178,00 por apartamento duplo. Quando percebemos que chegou o nosso limite, retiramos a proposta", iniciou.

Ainda de acordo com Maia, os hotéis capixabas estão aptos a manter o elevado padrão de higiene necessário à hospedagem de profissionais da saúde que estão na linha de frente no combate à Covid-19. "Nossa ideia era participar não só pelo valor financeiro, gostaríamos realmente de contribuir com a classe dos profissionais da saúde. Com certeza iríamos oferecer total segurança para os envolvidos. Nossos gastos com materiais de higienização estão muito altos. O que faltou na proposta do Governo é a participação da Abih-ES, que deveria ser ouvida para discutir o que o mercado hoteleiro poderia fazer para ajudar", afirmou.

EQUIPES DE ENFERMAGEM

Para Andressa Barcellos, enfermeira e presidente do Conselho Regional de Enfermagem (Coren-ES), a necessidade de garantir alternativas para os profissionais da saúde que atuam na linha de frente, em especial os da enfermagem, é urgente. Segundo ela, mais do que os médicos, enfermeiros e técnicos em enfermagem, precisam de apoio do Governo, já que recebem salários menores e, em tese, não poderiam arcar, sozinhos com o custeio de serviços de hotelaria.

Na visão dela, o problema com as equipes de enfermagem vai além da grande exposição ao contágio do novo coronavírus, esbarra na questão social. "Talvez, para alguns médicos, não sejam necessários hotéis, ou já estejam pagando. Mas os profissionais da enfermagem não têm condições. Chegam em casa sem conseguir garantir a mesma proteção que tiveram enquanto estavam trabalhando, paramentados. Há muitos casos de profissionais que contraíram a doença e a família inteira acabou adoecendo", contou.

Aspas de citação

13 profissionais de saúde já foram a óbito no Estado, menos 13 capacitados que poderiam estar cuidando da sociedade nesse momento. Mais de 90 dias que o mundo tomou conhecimento da pandemia e até hoje os profissionais continuam trabalhando e retornando para casa, colocando em risco os familiares. Nós acabamos carregando uma culpa por não conseguirmos garantir a proteção da nossa família

Andressa Barcellos
Presidente do Coren-ES
Aspas de citação

Barcellos afirma ainda que o dado que justificaria ainda mais a ida destes profissionais para hospedagens, é a análise do aumento do número de diagnosticados entre enfermeiros e técnicos em enfermagem. "No dia 9 de maio, eram 167 enfermeiros diagnosticados com a Covid-19 e 447 técnicos de enfermagem. Já no dia 11 de junho, cerca de 30 dias depois, havia 605 enfermeiros diagnosticados e 1804 técnicos. É um aumento de 362% para enfermeiros e de 404% entre técnicos. E estas pessoas trabalham muito e voltam para casa, expondo familiares", concluiu.

"O ESTADO PODE TER PERDIDO O TIMING", DIZ MÉDICO

Em entrevista concedida à TV Gazeta nesta quinta-feira (18), à repórter Danielle Cariello, o médico cirurgião vascular e presidente da Associação Médica do Espírito Santo (Ames), Leonardo Lessa, afirmou que o Governo do Estado tem apresentado lentidão em desenvolver a iniciativa do aluguel de quartos em hotéis. "Arrisco falar até que acho que já foi perdido o timing para isso", disse.

Segundo ele, o Espírito Santo tem um dos maiores índices de contaminação de profissionais de saúde do Brasil e grande parte dos médicos já foi infectada. O médico disse ainda que, talvez, a adesão às hospedagens, neste momento da pandemia, seja baixa e que, apesar disso, alguns poucos colegas de profissão já estão afastados de casa.

O OUTRO LADO

Procurada pela reportagem, a Secretaria de Estado de Saúde (Sesa) informou, por meio de nota, que o Pregão Eletrônico 0267/2020, que visa a contratação de serviços de hospedagem exclusiva aos trabalhadores da área da saúde que estão à frente do atendimento da Covid-19, foi realizado em 1º de junho, mas não deu uma previsão de quando o projeto será colocado em prática. Confira na íntegra

"A documentação das empresas está em análise para cumprir os trâmites necessários, e o valor da licitação é de cerca de R$ 7 milhões. A Sesa esclarece que o levantamento de servidores para a hospedagem é feito pelos próprios hospitais de referência, de forma regionalizada, e que aproximadamente 800 profissionais já sinalizaram interesse pela estadia de forma voluntária. A previsão de permanência de cada profissional nos hotéis pode variar de 30 a 180 dias, a depender do comportamento da pandemia no Estado".

DESCLASSIFICAÇÃO DE EMPRESA QUE VENCEU PREGÃO

Uma empresa que faz eventos venceu o pregão eletrônico realizado pela Secretaria de Estado de Saúde do Espírito Santo (Sesa), no dia 1 de junho, para contratação de serviços de hospedagem para atender profissionais à frente do combate à Covid-19 no Estado. O Centro de Eventos Vitória Comércio e Serviços Eireli apresentou a melhor oferta em quatro dos cinco lotes do leilão, mas foi desclassificado por descumprir uma exigência do edital. A empresa não é do ramo de hotelaria, mas seria responsável por fornecer mais de 500 apartamentos em hotéis para cumprir o contrato. Para isso, ela teria que realizar subcontratação do serviço, o que é proibido pelo edital.

O pregão eletrônico é uma modalidade de licitação utilizada pelo governo para contratar bens e serviços, independentemente do valor estimado. As propostas são apresentadas pelas empresas em forma de leilão e o Estado deve realizar a contratação mais econômica, ou seja, que apresente melhor custo benefício.

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