É de 26 de fevereiro de 2020 a primeira notificação oficial de um caso de Covid-19 no Espírito Santo. Passados 15 meses daquele diagnóstico positivo, o Estado já superou a marca de meio milhão de contaminados pelo Sars-Cov-2 (coronavírus). Ao longo desse período, muito se avançou em conhecimento sobre a doença, porém outros tantos questionamentos permanecem sem resposta. Pessoas infectadas logo no início da pandemia contam o que, para elas, mudou após o contágio e do que não abrem mão como regra de convivência.
Quando o psicólogo Paulo Ferri foi diagnosticado com a Covid-19, em março do ano passado, havia apenas outros 16 casos confirmados em todo o Espírito Santo e ele era a segunda ocorrência em Linhares. Além da cidade de Ferri, no Norte capixaba, havia registros em Vitória, Vila Velha, Cariacica e Cachoeiro de Itapemirim. Atualmente, todos os municípios têm casos e mortes contabilizados em decorrência da infecção por coronavírus.
Mesmo sendo uma doença nova e sobre a qual havia pouca informação, o psicólogo considerou que o melhor era tornar o seu caso público para que vizinhos e conhecidos se mantivessem afastados de seu apartamento no condomínio em que morava e pudessem se prevenir. Ferri conta que essa decisão teve duas repercussões: uma, positiva, de pessoas preocupadas com seu estado de saúde e que, mesmo após a recuperação, declararam seus bons desejos. A outra, porém, foi de um grupo que manifestou estranhamento pela postura que o psicólogo adotou e que ainda sugeria que ele era culpado pela contaminação.
No seu círculo familiar, não houve nenhuma morte. Ferri acredita que a doença não afetou gravemente ninguém próximo porque, quando ele foi infectado, todos ficaram mais atentos aos cuidados que deveriam adotar para não contrair o vírus.
Paulo Ferri adotava, no início, um isolamento rigoroso, mas com a retomada do trabalho presencial, agora circula mais. Contudo, a máscara continua fazendo parte da sua rotina, assim como se mantém distante de aglomerações. O psicólogo admite que, até para sua saúde mental, participa de alguns encontros sociais, mas com pequenos grupos "dentro de sua bolha". Ele já recebeu as duas doses da vacina, por ser do grupo prioritário de profissionais da saúde, porém ressalta que não dispensa as medidas de prevenção.
Apesar de já ter passado mais de um ano da contaminação, Paulo Ferri ainda lida com uma sequela da Covid-19: intestino irritado. Um dos problemas que o psicólogo apresentou durante a infecção foi a diarreia. Desde então, ele desenvolveu uma sensibilidade e muitos alimentos hoje causam irritação ao intestino.
Já a professora, jornalista e universitária Rayza Fontes enfrenta uma queda de cabelo acentuada - uma condição também decorrente da Covid-19, segundo sua dermatologista. Ela ainda apresentou um quadro de fadiga crônica, três meses depois de já ter se curado da infecção.
Rayza contraiu o coronavírus no início da pandemia, em maio do ano passado. Casada com o médico Lucas Donateli, a suspeita é que o contágio tenha ocorrido justamente no ambiente em que o marido trabalhava, pois ele também adoeceu. O casal teve um quadro leve e tratou apenas de sintomas, como enjoo e dor de cabeça.
Apesar de não apresentarem gravidade, Rayza recorda-se que eles ficaram preocupados sobre como a doença poderia evoluir e, diante de tantas incertezas em relação à Covid-19 na época, optaram por não contar a ninguém da família que estavam doentes e se isolaram em casa. Os pais só foram saber que os filhos tinham sido infectados uma semana depois, com sinais e sintomas praticamente desaparecidos.
Para ela, o mais difícil do período foi a necessidade de ficar os 15 dias em quarentena - medida que cumpriu rigorosamente com o Lucas. Como Rayza trabalha em hospital, ela não adotou o home office a exemplo de muitos outros profissionais. No entanto, durante a infecção, precisou fazer o isolamento recomendado pelas autoridades em saúde.
Hoje, mesmo com ambos vacinados, uso de máscara e distanciamento não deixaram de ser adotados pelo casal. Os encontros familiares são menos frequentes e, na casa da avó, Rayza só vai com proteção no rosto. "Às vezes, até vamos a um restaurante, mas procuramos lugares mais vazios e abertos. E saímos sempre de máscara", descreve.
Desde a contaminação, há pouco mais de um ano, cuidados foram reforçados, mas outros também puderam ser deixados de lado. "Antes, se chegasse um livro em casa, por exemplo, deixava o pacote em quarentena. Na época, era a informação que tínhamos. Pudemos relaxar mais em alguns aspectos, mas nunca deixamos de usar máscara, mesmo vacinados. É cuidado necessário para todo mundo", conclui.
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