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Internações por problemas respiratórios crescem mais de 80% no ES

Internações por problemas respiratórios crescem mais de 80% no ES

Dados da Fiocruz mostram que número de hospitalizados este ano é o maior desde 2009, quando começa a série histórica

Publicado em 3 de maio de 2020 às 20:28

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Novos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) com respirador no Hospital Jayme Santos Neves, na Serra.
Hospitalizações chegaram a 246 em 2020 contra 134 no ano anterior. (Reprodução/TV)

O número de internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) no Espírito Santo em 2020 é 83% maior do que no mesmo período do ano passado. Segundo especialista da Fiocruz, o aumento é consequência da pandemia de coronavírus que atinge o Estado, o Brasil e o mundo.

Os dados foram obtidos pela reportagem de A Gazeta através do Infogripe, projeto da Fiocruz e do Ministério da Saúde que monitora casos de internações por doenças respiratórias em todo o Brasil. Até o dia 18 de março (16ª semana epidemiológica do ano), o painel já havia registrado 246 internações desse tipo no Estado, contra 134 no ano anterior. Esse é o maior número de registros no mesmo período desde 2009, quando começa a série histórica.

A SRAG ocorre quando um paciente é internado com febre, dor de garganta ou tosse e dificuldade para respirar. Os sintomas podem ser causados por vários vírus, como as Influenzas A e B, incluindo o H1N1, adenovírus e outros. Este ano, o Sars-Cov-2, que causa a Covid-19 também entrou na lista. É ele que tem provocado o aumento expressivo das internações, segundo o coordenador do Infogripe e pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz, Marcelo Gomes.

Ele explica que, em outros anos, a incidência dessas hospitalizações era concentrada principalmente no período de inverno. Com o novo coronavírus, o número de casos aumentou bastante em um período incomum.  "O que estamos observando hoje é que no país todo, esse número começou a subir mais cedo e na semana 11 e 12 houve um salto enorme. Essa mudança ocorreu justamente na época de identificação dos primeiros casos do novo coronavírus", diz.

Outro ponto que sustenta a hipótese de que o aumento é provocado pelos crescentes casos de Covid-19 é a mudança no perfil das pessoas internadas. Enquanto em anos anteriores, a SRAG acometia principalmente crianças pequenas, neste ano, houve um aumento no número de internações de pessoas em outras faixas de idade. "Continua tendo bastante caso em crianças, mas o volume de casos em adultos e idosos passou a ser muito predominante e isso é bem diferente do que a gente tinha em anos anteriores", avalia o pesquisador.

NÚMERO PODE SER AINDA MAIOR

Gomes explica que o número de internações em 2020 podem ser ainda maior. Como há atrasos nas notificações, quanto mais recente o dado, maior a chance de ele estar incompleto. Ele também aponta que podem haver subnotificações decorrentes de testes falso negativo, ou não detectável. 

"Isso pode ocorrer por vários fatores. A amostra pode não ter sido coletada no momento correto do desenvolvimento da doença. A técnica utilizada e o material em si também afetam o resultado, assim como a maneira de transportar e armazenar a amostra. Há ainda a própria sensibilidade do teste. Tudo isso afeta capacidade de detecção e gera subnotificação".

Entre as internações registradas no Estado, apenas 8,5% (21) tiveram confirmação laboratorial para Covid-19. Outros 42 positivaram para outras doenças como Influenza A e B. Houve, porém, 101 amostras que deram negativo para todas essas doenças. As demais aguardam resultado ou são casos em que nem sequer foram colhidas amostras.

O pesquisador ressalta que as informações do Infogripe são apenas a "ponta do iceberg" quando considerados os infectados pelo novo coronavírus. Muitas pessoas infectadas são assintomáticas ou apresentam sintomas leves e não necessitam de internação.

INVERNO PODE FAZER CASOS DE COVID-19 E INFLUENZA SE ACUMULAREM

A aproximação do inverno, época em que comumente há um pico de doenças respiratórias, pode fazer com que o aumento no número de casos de coronavírus coincida com o pico de registros de influenza. Marcelo Gomes afirma, contudo, que ainda não é possível saber como essas duas doenças vão interagir.

Especialistas na área têm algumas hipóteses do que pode acontecer nos próximos meses. Uma delas é que haja algum tipo de imunidade cruzada entre os dois vírus (coronavírus e Influenza), o que faria com que pessoas que pegasse um deles, ficasse imune ao outro. Essa suposição tem como base a redução do número de internações por Influenza que coincide com o aumento dos casos de coronavírus. 

Contudo, essa queda pode decorrer de uma sobrecarga dos laboratórios no processamento de testes de Covid-19 o que deixa pouco espaço para outras testagens. "Temos uma diminuição de casos confirmados de Influenza, mas ainda não está claro se isso é efeito de competição biológica ou se é questão dos testes", diz o pesquisador.

Ele lembra ainda que as medidas de contenção à pandemia funcionam, como distanciamento social e reforço na higiene das mãos, e que também fazem cair a chance de contaminação por Influenza. "Há um consenso entre a comunidade científica especializada de que de fato esse vírus (novo coronavírus) tem características particulares. É um cenário novo que dificulta um pouco utilizar doenças anteriores para prever qual vai ser o comportamento dessa", afirmou.

DADOS DO GOVERNO

A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) foi procurada desde o dia 3 de abril, por meio da assessoria, para informar sobre o número de internados por síndromes respiratórias no Espírito Santo. O órgão divulgou dados sobre mortes, cujo número até a 15ª semana epidemiológica foi de seis casos: três por Influenza B, um por  H1N1, outro por H3N2 e um Influenza A sem subtipo. Contudo, o levantamento sobre internações não foi apresentado.

Na última semana, a Sesa também foi procurada para se manifestar sobre os dados da Fiocruz, mas, até o fechamento desta matéria, não se manifestou. Caso a secretaria apresente um posicionamento, este texto será atualizado. 

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