No Espírito Santo, o período do final da primavera e início do verão é sempre marcado por fortes chuvas. Nos últimos dias, o estado voltou a sofrer impactos do grande volume de chuva. Fundão foi a cidade onde mais choveu de quinta para sexta com quase 200 milímetros de chuva acumulados, seguido por Cariacica, com 134 mm. E já são mais de 2 mil pessoas fora de casa no Estado.
Os últimos períodos chuvosos que mais trouxeram prejuízo para a população, com queda de barreiras, inundações, famílias fora de casa e pontes quebradas ocorreram no início de 2020 e, antes, no final de 2013, enchente que deixou mais de 60 mil fora de casa e provocou a morte de mais de 20 pessoas. A chuva de 2022 já tem sido comparada ao que ocorreu em 2013 segundo o Corpo de Bombeiros.
Para evitar que situações como essa se repitam, o governo do Espírito Santo e as prefeituras da Grande Vitória têm feito investimentos contra os impactos das chuvas. Nos últimos três anos, já foram destinados mais de R$ 1,2 bilhão em obras de contenção de encostas, macrodrenagem, limpeza de galerias, sistemas de monitoramento das chuvas, estações de bombeamento e outros.
O valor investido pelo governo do Estado chega a R$ 780 milhões e, pelas prefeituras chega a quase R$ 500 milhões. Outros R$ 800 milhões estão sendo estimados para gastos nos próximos anos.
Só na Grande Vitória, segundo dados das prefeituras, são mais de 350 áreas consideradas de risco, sendo a maior parte de risco alto e muito alto de deslizamento. De acordo com dados disponibilizados pelas prefeituras, cerca de 33.930 pessoas na Grande Vitória moram em regiões de risco iminente de deslizamentos, inundações, entre outras tragédias.
Especialistas apontam que os investimentos feitos já têm dado resultado com o volume de chuva atual em algumas regiões, principalmente com os equipamentos de drenagem, mas a desordem urbana ainda é um desafio visto que o movimento de urbanização também presente nas cidades do interior leva à ocupação e aterro em áreas de recarga hídrica, que naturalmente ficam inundadas com chuvas fortes e aumento do nível dos rios.
O doutor em Ciência Florestal e Ambientalista Luiz Fernando Schettino, que é professor do Departamento de Oceanografia e Ecologia da Ufes, afirma que estamos vivendo uma época que a falta de planejamento no crescimento das cidades tem provocado impacto significativo quando há chuvas volumosas.
“Precisamos estar de olho no aumento da população e no movimento de urbanização que leva a população a ocupar áreas que não deveriam ser ocupadas. Às margens das estradas, por exemplo, há muitas regiões onde estão se aterrando áreas de recarga hídrica, locais naturais de acúmulo de água da chuva”, explica.
Além disso, ele destaca que outro desafio são os lixos nos grandes centros, que acabam entupindo os sistema de drenagem e dificultando o escoamento da água.
“Tem áreas que não podem ser ocupadas. Em algumas regiões se aterra minimamente e quando a água vem segue o curso d’água antigo. O poder público tem que interferir. Só estão gastando tanto porque algumas coisas não foram feitas de forma a prevenir as situações”, frisa.
Já o reflorestamento – embora esteja sendo feito pelo governo – ainda precisa ser mais robusto na avaliação do professor, com o plantio de mais de 300 mil hectares. Ele explica que áreas com maior cobertura florestal ajudam a não cair barreiras, a segurar a água no solo e a reduzir a seca.
GOVERNO DO ES
Nos últimos anos, os investimentos feitos pelo governo do Espírito Santo superam R$ 780 milhões contra impactos de chuvas e a previsão é de mais R$ 500 milhões para dar continuidade a projetos, com acordo de US$ 100 milhões com o Banco Mundial.
Segundo o secretário de Estado de Governo, Álvaro Duboc, foi criado um sistema de prevenção a eventos extremos depois das chuvas de 2013. Foi feito então um contrato com o Banco Mundial onde foi desenhada uma parceria de financiamento para fortalecer o sistema de prevenção e defesa civil, e também na área de saneamento.
“O mais importante foi o Centro de Inteligência e Defesa Civil do Espírito Santo, o centro mais moderno do país instalado no quartel do Corpo de Bombeiros. Esse centro de inteligência é uma estrutura integrada que faz análise das informações e mapeamento dos riscos hidrológicos e geológicos e funciona 24 horas”, detalha.
Só o Centro de Inteligência da Defesa Civil teve custo de R$ 56 milhões. Além disso, também foram criadas novas estações meteorológicas e hidrológicas para a prevenção.
Outro investimento importante do Espírito Santo foi nas obras de macrodrenagem ao custo de mais de R$ 500 milhões, sendo cerca de R$ 400 milhões para Vila Velha e Cariacica e R$ 100 milhões para as regiões de Colatina e São Mateus. “Em Vila Velha são nove estações de bombeamento em fase de construção. Já inauguramos três e percebemos o quanto isso já ajudou.
O governo do Estado também liberou R$ 214 milhões para os municípios atingidos pelas fortes chuvas de janeiro de 2020. Deste total, R$ 130 milhões foram investidos na reconstrução de estradas, pontes e contenções, além do fornecimento de horas máquina para limpeza das cidades.
Outro investimento foi o repasse de R$ 10, 6 milhões pela Defesa Civil para os municípios para demandas relacionadas a desastres naturais. Os valores foram destinados a obras de prevenção, como contenção e estabilização de encostas, obras de drenagem para a contenção de alagamentos e estabilização rochosa, e também para atendimento de pronta resposta, como aquisição de itens de ajuda humanitária, reconstrução de pontes, limpeza de cidades e recuperação de estradas.
VITÓRIA
Entre os investimentos feitos pela Capital nos últimos anos estão o mapeamento de 67 áreas como risco geológico R3 (Alto) ou R4 (Muito Alto). Obras de contenção foram iniciadas e 35 foram concluídas em 20 meses. Quatro estão em andamento. Outras 39 obras foram licitadas e serão iniciadas nos próximos meses. Segundo o secretário de Obras Gustavo Perin explicou, a prefeitura investiu R$ 26 milhões em obras em contenção e drenagem em 2021 e 2022.
Outro trabalho que a prefeitura tem feito é o da recuperação e proteção de encostas a partir de identificação de riscos geológicos. Quando é possível, a prefeitura retira as famílias de casa para proteger a encosta e até reconstruir casas para quem quer voltar. Desde 2021 foram 35 reconstruções. Outras 130 famílias que viviam em áreas de risco foram retiradas do local e vivem em aluguel social provisório.
Outro gasto foi com obras de macrodrenagem na região da Grande Santo Antônio, ao custo de R$ 144 milhões, que já estão em execução. E ainda está previsto para o ano que vem melhorias na região de Ilha de Santa Maria, Monte Belo, Jucutuquara e Fradinhos, ao custo de R$ 125 milhões nessas bacias.
Em agosto de 2022, foi lançado um edital para mais 139 obras de contenção em 57 bairros, com investimento é de R$ 60.453.674,05 para minimizar o risco geológico em Vitória.
Ainda há obras para iniciar em 2023 e 2024 nas áreas de contenção de encostas e drenagem no valor de R$ 9 milhões. Serão 125 reconstruções e 1.200 melhorias em imóveis, com investimento de R$ 60 milhões.
VILA VELHA
Entre as intervenções da Prefeitura de Vila Velha para conter impactos das chuvas, há um contrato de R$ 35 milhões por ano – iniciado em 2022 – para contratar empresa que vai realizar a limpeza profunda (desassoreamento) dos canais, galerias e córregos. Diariamente, em 42 quilômetros de canal, são retiradas uma média de quase 5 toneladas de lixo e entulho, informou a prefeitura.
Em macrodrenagem os investimentos são feitos com recursos do governo do Espírito Santo. Atualmente, há três estações de bombeamento de águas pluviais (Ebaps) aptas para serem acionadas se os níveis das águas subirem. Em parceria com o Governo do Estado, nove novas estações vão se juntar as estações de bombeamento municipais e compor um sistema inteligente de interligação que será ativado pela central de operação remota das estações (sob gestão municipal). As Ebaps já entregues são Cobilândia, Jardim Marilandia e Foz do Costa.
A prefeitura prevê ainda investir mais de R$ 200 milhões para prevenção de riscos. O município possui o Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR) que identificou 103 setores de risco geológico no município, sendo: 27 de Risco Médio (R2), 72 de Risco Alto (R3) e 04 de Risco Muito Alto (R4). O plano abrange a necessidade de mais de 200 intervenções nesses 103 setores.
SERRA
Um dos investimentos que está sendo realizado pela Prefeitura da Serra para conter o impacto das chuvas é na drenagem e pavimentação. São recursos de R$ 111 milhões para pavimentar e ter 65 km de vias drenadas para poder coletar águas provenientes da chuva e escoá-las para galerias de águas pluviais até um curso hídrico.
Com gasto de R$ 10 milhões ao ano, a prefeitura também implantou um programa de limpeza programada e frequente de córregos, valões, canais, grelhas e bueiros, durante todo o ano. Assim, foram R$ 20 milhões para essas ações nos últimos dois anos.
Segundo o secretário de Obras da Serra, Halpher Luiggi, a prefeitura está planejando ainda investimentos de R$ 20 milhões a R$ 30 milhões em contenção de encostas, faltando ainda a conclusão dos projetos e disponibilidade orçamentária para prosseguir.
Ele explica que no planejamento para dimensionar as obras de macrodrenagem a equipe tem buscando o histórico da maior chuva nos últimos 10 anos, chegando a olhar até 50 anos atrás o maior pico para fazer o novo sistema. "Com isso a expectativa é que haja menos surpresa. Fica mais caro, mas o entendimento é que é um investimento que vale a pena", ressalta.
CARIACICA
Em Cariacica, nos últimos dois anos a prefeitura investiu R$ 20 milhões em obras de contenção de barreiras em pontos mais críticos da cidade. Segundo o secretário de Obras Weverton Moraes, são gastos importantes para conter impactos das chuvas de uma cidade com geografia de muito relevo e crescimento desordenado, com construções em locais indevidos em muitos bairros. A cidade tem hoje entre 30 a 40 pontos de risco.
"Serão R$ 20 milhões em obras de contenção nos pontos mais críticos. Na construção civil, as obras mais caras são as de contenção", conta o secretário, que acrescenta que outro trabalho que tem sido recorrente na prefeitura para amenizar impactos das chuvas é a limpeza de canais de drenagem. Nos últimos dois anos, foram recolhidas 900 mil toneladas de lixo.
Outro investimento realizado na cidade nos últimos anos foram R$ 60 milhões para obras de pavimentação e drenagem, valor até acima do previsto segundo o secretário, depois da prefeitura ter conseguido parcerias e convênios.
Além disso, novos investimentos estão previstos em uma nova parceria do governo do Estado com o Banco Mundial de US$ 100 milhões. Neste projeto estão previstos estudos para melhor conhecer e ampliar a capacidade do Estado para a gestão dos recursos hídricos e respostas a riscos hidrológicos extremos; ampliar ações do Reflorestar; elaboração do plano integrado de gestão de risco de inundação na bacia do rio Itapemirim.
E ainda aperfeiçoar o sistema de monitoramento, previsão e alerta de cheias na bacia do rio Itapemirim; execução de obras de infraestrutura para minimização das inundações nos municípios de Águia Branca, João Neiva e Ibiraçu; estudos de alternativas e identificação de soluções para redução dos riscos de inundação nos municípios de Iconha e Alfredo Chaves e execução de soluções prioritárias definidas pelos estudos.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta