Já imaginou chegar à praia e simplesmente parte do horizonte "sumir"? Pode soar estranho, mas foi esta cena que banhistas se depararam no balneário de Iriri, em Anchieta, no Sul do ES, recentemente. Ao olharem para o mar, a visão era de um “paredão” ao invés da linha onde o sol nasce. O momento inusitado foi gravado pelo morador da região, Gabriel Machado, (veja vídeo acima) e não é fruto de edição ou algum filtro. O que ocorreu no litoral anchietense tem nome e se chama "Fata Morgana".
O registro foi feito na última quarta-feira (14) e já ocorreu em outras cidades do ES, como Vitória e Guarapari, e vem sendo documentada há anos. Inclusive com pesquisas que ligam o fenômeno ao acidente do navio Titanic.
Conhecido por causar miragens em alto-mar, o fenômeno natural traz a sensação de sumiço do horizonte devido refração da luz em casos de inversão térmica. Normalmente, o ar mais quente fica mais próximo ao mar, porém, quando o tempo esfria demais acontece uma troca de posições.
Isso cria, então, a imagem invertida, ao invés de ver o céu refletido na água. Desta forma, quem estava no município do Sul do Estado viu o reflexo do mar um ponto acima do que normalmente fica.
“Com a inversão, temos o fenômeno da refração desviando a luz para baixo. E aí tem a consequência interessante, você olha para a linha do horizonte e não vê ela, mas sim um ponto que faz uma curva no ar. Ela é da classe das miragens, só que não é aquela que você olha para baixo e vê o de cima refletido, mas sim quando você olha um pouquinho mais para cima e vê o de baixo refletido", explicou Ernani Rodrigues, físico e professor do Departamento de Física da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
Quando isso acontece, o reflexo pode criar cenários, o que levou as imagens gravadas em Anchieta. Além do "paredão", o Fata Morgana também torna objetos distantes maiores e mais altos do que realmente são como ilhas, penhascos, icebergs ou até barcos flutuando, criando imagens fantasmagóricas com a ilusão de óptica.
“Eu mesmo estava passando pela Praia de Camburi quando vi um navio flutuando. Eu parei na mesma hora para registrar. O Fato Morgana documentado há anos na física. Inclusive pesquisas de mais de uma década apontam que o Titanic pode ter batido no iceberg porque ele ficou omitido pelo 'degrauzinho' ligado à refração da luz causado pelo Fata Morgana. É uma teoria bem aceita”, explicou o físico.
O efeito não é exclusivo dos anchietenses no Espírito Santo. Em Guarapari, na região da Grande Vitória, existe uma lenda de que o Farol da Escalvada, localizado na Ilha da Escalvada muda de forma de tempos em tempos. A história é de que morava uma bruxa muito linda na ilha, mas com a construção do farol ela teve que se transformar em golfinho e se mudar para um local submerso.
Com a transformação, ela se tornou protetora dos mergulhadores que exploram a ilha. Reza a lenda que quando o vento nordeste sopra, ela lidera outros golfinhos para darem segurança a eles. É nesse período que acontecem as transformações na ilha. A narrativa lembra a referência fictícia sobre a meia-irmã do Rei Artur usada para nomear o fenômeno natural Fata Morgana.
Segundo relatam documentos, ela era uma fada que conseguia mudar de aparência, causando um efeito óptico, assim como o Fata Morgana.
Mas as mudanças avistadas no município capixaba, na verdade, são explicadas pelo fenômeno, pois ao elevar a linha do horizonte modifica o formato da extensão de terra cercada por água.
"Para dizer que é raro é preciso estar catalogado quantas vezes aconteceu para comparar com outros fenômenos. É mais fácil encontrar o Fata Morgana em praias de águas mais frias", informou Ernani.
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