Imagine sentar à mesa com desconhecidos num restaurante que não foi escolhido por você. A conta é paga individualmente, mas as experiências de cada um são compartilhadas abertamente. Aplicativos têm investido nesta ideia nos últimos anos, permitindo que os interessados saiam da "bolha" e encontrem novas pessoas, com formações, idades e rotinas diferentes. Um dos aplicativos usados por quem quer um "encontro com desconhecidos" é o Timeleft, criado em 2020. Atualmente, a plataforma oferece o "jantar às cegas" em 275 cidades de 60 países. Vitória é a única cidade do Espírito Santo disponível na plataforma de encontros.
O aplicativo é convidativo: "Todas as quartas-feiras, desconhecidos encontram-se para jantar", como anunciam no próprio site. A plataforma ainda sugere: Deixe as telas de lado no momento do encontro. Apesar de ser o mais popular entre os apps semelhantes, o Timeleft não é o único a oferecer o serviço. O Confra é outra opção para um "jantar às cegas".
Eu, Alberto Borém repórter de A Gazeta, utilizei o aplicativo e fui a um dos encontros em Vitória. A ideia era viver e mostrar o encontro, da inscrição no app até a reunião das pessoas. Abaixo, você, leitor de A Gazeta, confere meu relato. Conheça o perfil dos "desconhecidos" e saiba como ir a um dos encontros.
A ideia de fazer a reportagem contando sobre o encontro surgiu num dia comum de trabalho. Uma conhecida havia publicado na rede social sobre um suposto "encontro com desconhecidos". Achei interessante o fato de ela ter topado conhecer gente nova, mesmo tendo um amplo convívio social. Ela esteve num restaurante conhecido de Vitória, o que me chamou ainda mais atenção pela segurança do encontro.
Resolvi, então, sugerir a pauta aos meus editores. Que tal ir a um encontro com desconhecidos, entender como funciona e o que leva as pessoas a um evento como este? Anotei minhas dúvidas e curiosidades e iniciei o cadastro na plataforma Timeleft. Em pouco mais de sete minutos, respondi a uma série de perguntas sobre minha personalidade, signo, status de relacionamento, hábitos e gostos pessoais.
Depois de colocar minhas informações pessoais, o aplicativo me ofereceu três datas. Os encontros acontecem sempre às quartas-feiras, independentemente da cidade. Em Vitória, sempre às 20h, no horário de Brasília. O usuário, então, deve escolher a data que melhor lhe convém.
Alguns pontos curiosos sobre a plataforma: Você escolhe a data e a cidade do encontro, mas nada além disso. Detalhes sobre as pessoas que você vai encontrar, como signo e profissão, são revelados um dia antes. Mas sem nome ou foto. O restaurante só é revelado no dia do encontro, pela manhã.
A hora do "encontro com desconhecidos" chegou e eu tinha o mínimo de informações sobre minha nova turma. Chamei o carro por aplicativo e segui até um restaurante localizado na Praia do Canto. Ao chegar ao local, por volta das 19h45, desci do carro e comecei a produzir uma reportagem em vídeo sobre minhas impressões. A sensação era de nervosismo. Eu não sabia quem iria encontrar pela frente e que tipo de assunto seria abordado naquele encontro.
Ainda que eu considere ter algum nível de habilidade social, sem muita timidez, o encontro impõe uma sensação de novidade, algo nunca vivido antes. Entrei no restaurante selecionado pelo aplicativo, ainda antes das 20h, onde já estava uma das pessoas "desconhecidas" que eu teria contato naquela noite. A mesa normalmente é reservada e há uma indicação clara de que aquele espaço está reservado para os usuários do aplicativo.
Alguns minutos depois, lá estavam eu e mais quatro pessoas. Todos os cinco utilizando o aplicativo pela primeira vez. Perguntei a eles como se sentiram usando a plataforma e o que imaginavam encontrar. A resposta foi unânime: Todos tinham a intenção de conhecer pessoas diferentes, não necessariamente buscando um novo relacionamento amoroso. Foi interessante notar que não houve qualquer tipo de silêncio que causasse constrangimento ou pergunta que gerasse um clima ruim. Conversamos sobre assuntos variados, alguns mais leves, alguns mais pesados, mas sempre com muita sinceridade e com escuta atenta.
Importante dizer que eu me apresentei como jornalista de A Gazeta. Mas em momento algum fiz referência à reportagem que estava sendo feita. A ideia era não interferir no comportamento das pessoas. Considerando a ética da profissão, não fiz fotos dos participantes ou qualquer gravação sem consentimento. Foi apenas no fim do encontro, depois das 22h, que eu revelei sobre a reportagem, contando a eles minhas intenções e o desejo de gravar uma entrevista com cada um.
Logo que contei sobre a reportagem, três dos quatro se interessaram e quiseram dar entrevista. Mas todos eles, sem exceção, autorizaram o uso da imagem e conversaram sobre o uso do aplicativo. Os participantes relataram que tiveram um pouco de receio ao encontrar pessoas "desconhecidas", mas perceberam que o app seria uma oportunidade de criar novas amizades.
Estive numa quarta-feira à noite em um restaurante de Vitória com:
A advogada Layla Calmon, de 28 anos, mora na Grande Vitória e contou que os colegas de trabalho sugeriram que ela vivesse a experiência do jantar às cegas. Layla afirmou que ouviu de clientes do escritório em que trabalha relatos positivos sobre o aplicativo. Mulheres que haviam se divorciado estavam curtindo a plataforma para sair da bolha e encontrar gente diferente, não necessariamente para um "date", mas para achar um novo círculo social. Ainda que a advogada não tenha passado pelo divórcio, o uso do app serviu para se colocar no lugar das clientes.
"Essas pessoas [mulheres divorciadas] entram num período depressivo, mais retraídas. Observamos que após o divórcio, elas tiveram experiências diferentes. O aplicativo permitiu que elas encontrassem pessoas diferentes, uma experiência super legal. Achei surpreendente a experiência e voltaria a usar o aplicativo", disse a advogada.
O pesquisador Igor Santos, de 29 anos, entrou no aplicativo com uma ideia muito clara: Fazer novas amizades em uma cidade diferente. Ele nasceu em Pedro Canário, interior do Estado, e afirmou que tem tido dificuldade para estreitar os laços na capital.
"Procurei o aplicativo em busca de novas amizades. Estou na cidade há alguns meses e gostaria de fazer novas amizades. Estou tendo dificuldade de criar novos laços. O aplicativo pareceu uma oportunidade muito boa. Pelas histórias que escutei, valeu a pena, inclusive por sair da rotina", comentou o pesquisador.
A bancária Andrezza Schilling, de 32 anos, nasceu no Rio Grande do Sul, mas mora no Espírito Santo há quase 17 anos. Ainda que more há um tempo considerável no Estado, a bancária relatou que segue com o desejo de conhecer pessoas diferentes para aumentar o círculo social. Assim como Igor Santos, Andrezza Schilling compartilha a impressão de que os moradores da capital são um pouco mais fechados, que talvez não ofereçam tanta abertura.
Também nascido fora do Espírito Santo, Luan Leal, de 28 anos, esteve no "encontro com desconhecidos" num período de trabalho na Grande Vitória. Ele atua na manutenção de carros elétricos e foi chamado para trabalhar no Estado por duas semanas. Nascido em Franca (SP), mas morando atualmente em Campinas (SP), Luan Leal utilizou o aplicativo pela primeira vez com o objetivo de criar laços no Espírito Santo.
"Estou aqui [Grande Vitória] a trabalho e passeando, aproveitando para conhecer novos lugares e pessoas", afirmou o engenheiro.
Após as entrevistas, pedi para tirar uma foto com todos. Conversamos por mais uma hora e todos foram embora por volta das 23h30. O aplicativo ainda sugeriu um restaurante à beira-mar como um local para o "after" - nome usado para classificar uma festa que acontece após um evento principal.
O aplicativo Timeleft tem se destacado como uma plataforma para quem busca fazer novas amizades e até mesmo relacionamentos. O aplicativo foi criado pelo empreendedor Maxime Barbier no ano de 2020.
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