Não é difícil esbarrar com uma publicidade do "Fortune Tiger", o "Jogo do Tigrinho", em uma rede social ou em algum influenciador que esteja divulgando a plataforma. Porém, tanto os jogos quanto a promoção deles é proibida por lei no Brasil. Além da promessa de ganhos fáceis, golpistas criam links maliciosos para roubar dados e até plataformas nas quais os jogadores são premiados facilmente em uma versão demonstrativa, mas começam a perder a partir do momento que depositam dinheiro no jogo.
O "Jogo do Tigrinho" funciona como um cassino online, em que os jogadores têm a promessa de ganhar muito dinheiro. Para isso, o apostador precisa fazer uma combinação de três figuras iguais nas três fileiras que aparecem na tela. No Brasil, a fama dessa plataforma aumentou a partir da intensa divulgação realizada por influenciadores digitais, além de supostos jogadores, que apresentam suas táticas para ampliar as chances de premiação.
O especialista em segurança da informação e ameaças cibernéticas Eduardo Araújo — que ajudou a recuperar a conta do Instagram do vencedor do BBB 24, Davi Brito — conversou com a reportagem de A Gazeta e contou relatos das diversas faces das atividades relacionadas ao "Jogo do Tigrinho".
Jogos de azar, como o do Tigrinho, são proibidos no Brasil por lei há muitos anos, pelo decreto-lei Nº 9.215, de 30 de abril de 1946. Mesmo assim, são conhecidos por aqui, ainda que seja por meio de algum filme que se passa na cidade norte-americana de Las Vegas. E neles, uma frase é frequente: "A banca sempre ganha". Ou seja, cria-se a ilusão de "dinheiro fácil", mas o jogo dificulta ao máximo que o apostar seja premiado, obrigando-o a gastar cada vez mais pelo sonho da "vitória".
Isso foi demonstrado em dezembro do ano passado, quando uma reportagem do Fantástico, da TV Globo, revelou que influenciadores divulgavam a plataforma do "Jogo do Tigrinho" com a promessa de que seria uma oportunidade para retorno financeiro fácil. Mas o especialista em segurança da informação e ameaças cibernéticas Eduardo Araújo faz novo alerta: agora, golpistas também vendem a ideia de que o jogo é uma oportunidade de investimento.
A reportagem do programa da Rede Globo mostrou influenciadores divulgando a plataforma de apostas e recebendo por isso. Uma "publi" — abreviação de publicidade —, como é conhecida no meio digital. No entanto, alguns digital influencers, no entanto, também podem ser vítimas de golpes que envolvem os jogos de azar virtual.
Criminosos invadem perfis que têm muitos seguidores e usam da audiência e da confiança do público para clicar em um link malicioso. A tática é conhecida como "phishing" (pescaria, em tradução livre). Golpistas criam um link para roubar informações e contas e usam vários artifícios para fazer as pessoas clicarem. Nesse caso, eles se aproveitam da credibilidade que o influenciador tem com o público. Além disso, quando o link falso é publicado em um perfil grande, muitas pessoas tendem a cair de uma só vez.
O gerente de projetos da Safernet, Guilherme Alves, alerta que as pessoas devem ter muito cuidado com conteúdo e produtos divulgados por influenciadores. "Alguns deles não têm responsabilidade com relação ao conteúdo que divulgam ou nem mesmo conhecimento daquilo de vendem", disse.
Eduardo também aponta que as pessoas costumam cair nas fraudes porque esses influenciadores ostentam uma vida de luxo na internet. "Muitos desses influencers de jogo ganham muito dinheiro. As pessoas veem isso e se iludem achando que vão ficar ricas também ao apostarem no jogo", aponta.
Outra estratégia usada por golpistas para convencer as pessoas a ingressarem em uma plataforma de apostas falsa é enviar uma versão de demonstração — chamada de "demo" — na qual a maioria das apostas é bem-sucedida. Terminado o período de teste, no entanto, quando o usuário passa a colocar dinheiro na plataforma, a "banca" passa a levar a melhor quase sempre. Só que, a partir daí, o jogador já foi iludido e continua apostando, na esperança de ser premiado.
Na maioria dos casos investigados pela polícia — como nos casos da reportagem do Fantástico e do casal preso esta semana na Serra —, o enriquecimento vem por meio da divulgação da plataforma.
Eduardo revela casos em que supostos divulgadores da plataforma abordam pessoas para também se tornarem divulgadores. Com em um esquema de pirâmide, os ganhos aumentam à medida que a pessoa consegue recrutar mais "divulgadores". Nesse contexto, é comum topar com novos perfis criados para a divulgação do jogo. Um padrão que pode ser observado nas contas que realizam a abordagem é que são novas, sem seguidores e sem publicações no perfil. Veja, abaixo, em fotos e vídeo essas abordagens.
Na busca por uma forma de ganhar dinheiro rápido e fácil, as pessoas caem nos golpes ou em promessas falsas. Acabam com dívidas e outros problemas piores. Eduardo relata o caso de uma pessoa que colocou dinheiro na plataforma, insistiu na ilusão de ser premiado, perdeu R$ 50 mil e ainda ficou devendo a agiota. "Tem gente até com depressão. Gente que perdeu muita grana", contou Eduardo.
Na quarta-feira (15), um casal de influenciadores de Minas Gerais foi preso em um condomínio de luxo na Serra. A Polícia Civil mineira (PCMG) investiga a movimentação suspeita de aproximadamente R$ 20 milhões. A quantia teria relação com o "Jogo do Tigrinho". Ainda segundo a PC mineira, os suspeitos haviam fugido para Maceió, em Alagoas, antes de serem presos no Espírito Santo. O rapaz tem 22 anos, e a jovem, 21. Os nomes dos investigados não foram divulgados.
O casal foi autuado pelos crimes de promoção de jogos de azar e crime contra a economia popular. Os dois foram encaminhados à Delegacia de Polícia em Guarapari ainda na quarta-feira (15). O delegado responsável pelo inquérito, Márcio Rocha, afirmou que o estilo de vida luxuoso do casal chamou a atenção das autoridades. Os dois chegaram a fazer uma viagem para Dubai — destino conhecido pelo luxo —, onde adquiriram até um telefone de ouro.
A Polícia Civil do Espírito Santo (PCES) foi procurada para comentar sobre investigações em andamento sobre jogos de azar e para dar dicas de como as pessoas podem identificar e evitar golpes relacionados ao popularmente chamado Jogo do Tigrinho, mas respondeu à reportagem apenas que não havia fonte disponível para falar sobre o assunto.
Sobre o casal preso na Serra, a PCES disse que prestou apoio à operação por meio da Delegacia de Infrações Penais e Outras (Dipo) de Guarapari, mas que mais informações deveriam ser solicitadas à Polícia Civil de Minas Gerais.
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