Navios cargueiros com mais de 30 metros de altura que vistos de longe assustam. As embarcações imponentes fazem parte do visual de Vitória devido à movimentação intensa no complexo portuário da cidade. Agora, se aproximar de um deles em alto-mar é ainda mais assustador.
Vídeos que mostram Gabriel Rocha, de 18 anos, chegando perto dessas embarcações gigantescas em cima de uma prancha viralizaram na internet e já possuem mais de 12 milhões de visualizações. Mas a Marinha faz um alerta sobre essa prática: áreas destinadas ao fundeio de navios de grande porte são restritas e improprias para a prática esportiva. O jovem, no entanto, disse que desconhecia sobre a proibição de se aproximar de navios e que a intenção não era incentivar essa prática.
Ainda segundo a Marinha, o uso e emprego de "equipamentos de entretenimento aquático" estão preconizados nas Normas da Autoridade Marítima da Diretoria de Portos e Costas e a área de navegação para esse tipo de equipamento é regulamentada pelos órgãos públicos estaduais e municipais.
O equipamento "stand-up paddle", por exemplo, não é considerado uma embarcação e, dessa forma, não é exigido inscrição junto à Capitania e nem habilitação para a prática esportiva, mas o usuário precisa usar colete salva-vidas.
A prática não pode ser legalizada, porque a Marinha explicou que segundo as normas, não é permitido o tráfego de embarcações nas áreas consideradas de segurança, estando os seus condutores sujeitos à fiscalização e autuação pelas Equipes de Inspeção. Portanto, a prática esportiva com equipamentos náuticos é proibida naquele local, o que impossibilita a legalização da atividade na área de fundeio. O órgão não informou se o jovem pode ser multado ou receber algum tipo de penalidade ao realizar esse tipo de prática.
Além de se aproximar de navios, Gabriel coleciona outras "aventuras controversas" nas redes sociais. Em outros vídeos, o jovem já acampou em alto-mar com um amigo e também foi até uma ilha que faz parte do Arquipélago das Três Ilhas, em Guarapari, onde a visitação é proibida.
Sobre a visitação na ilha, o acesso público ao Farol da Capitania dos Portos do Espírito Santo, na Ilha dos Pacotes, é proibido, pois qualquer dano ao patrimônio pode colocar em risco a segurança da navegação na região. Após ver os vídeos, a Marinha informou que vai reforçar ações de conscientização para os praticantes do esporte.
A Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura de Vila Velha informou que a fiscalização da área marítima compete à Capitania dos Portos. Sobre o desembarque nas ilhas, quando estão em período de defeso das aves, a Prefeitura de Vila Velha atua com fiscalizações constantes em conjunto com órgãos como a Polícia Ambiental, Ibama e também a Capitania dos Portos, implantando medidas contra ações ilegais de pesca predatória.
O objetivo das fiscalizações é educar e orientar a comunidade em prol da sustentabilidade do ecossistema marinho. As abordagens visam também à prevenção da morte de tartarugas e golfinhos, que frequentemente ficam presos em redes de arrasto, que são ilegais.
Já a Prefeitura de Vitória informou que realiza, por meio de operações embarcadas, a proteção e o controle das ilhas costeiras especialmente protegidas e que constituem sítios reprodutivos de aves, nos períodos determinados e de acordo com a legislação vigente.
A Prefeitura de Guarapari, por sua vez, não respondeu aos nossos questionamentos. O g1 também procurou o Porto de Vitória para saber se a prática pode prejudicar o funcionamento do porto, mas não teve retorno até a última atualização desta reportagem.
Gabriel Rocha, de 18 anos, se considera um influenciador digital de esportes radicais, e disse ao g1 que começou a fazer os vídeos no início de 2024. Em maio, o jovem já tem 145 mil seguidores. Ele, que também é estudante de Direito, contou que desde pequeno é apaixonado por esportes radicais.
"Essa paixão por adrenalina começou na minha infância, quando eu e meu pai entramos para o mountain bike. Cheguei a participar de campeonatos estaduais e cada vez mais fui me apaixonando por esportes que envolvem adrenalina. Eles me trazem um bem-estar muito bom", comentou.
O jovem tenta publicar pelo menos um vídeo por semana, mostrando qual foi o roteiro seguido. Geralmente, ele sai de madrugada de Vila Velha e rema até alguns pontos que ele mesmo escolhe no mapa, como ilhas, ou acompanhar algum navio cargueiro. São remadas intensas, que já chegaram até 45 km. Para conseguir chegar até o destino escolhido, Gabriel planeja cada detalhe.
"Eu tenho um preparo físico, alimentação adequada, preparo psicológico. Faço tudo sozinho. Eu sempre deixo tudo pronto um dia antes, na noite anterior. Separo todos os equipamentos, e saio para o mar de madrugada", disse.
Sobre os riscos, o jovem pontuou estar sempre preparado para evitar qualquer problema. No início, os vídeos eram gravados sem coletes, mas após o vídeo feito em março desse ano viralizar, ele passou a utilizar o equipamento de segurança.
"Eu sei dos riscos, que são muitos. Mas eu tenho uma preparação para lidar com cada um deles. Meu celular avisa quando eu me aproximo de uma embarcação, me dá todos os detalhes dela e eu consigo desviar minha rota. É impossível uma embarcação me atropelar, impossível ser sugado para baixo. O navio sempre dá sinais e eu estou sempre atento a isso. Eu só me aproximo de navios ancorados, se o tempo virar meu celular também avisa e eu sempre levo um aparelho bem carregado. O risco que eu corro é ataque de algum animal", comentou.
Mas o jovem já mostrou alguns apertos vivenciados por ele sozinho e em uma expedição que fez com um amigo, quando os dois resolveram acampar em alto-mar. O vídeo com mais visualizações, feito em março, mostra Gabriel sozinho perto do navio, que faz um barulho e a câmera do jovem tomba logo após ele falar que a embarcação tem uma tração que puxa a prancha para baixo.
Já no acampamento, ele e o amigo acabaram cochilando na prancha e a âncora colocada por eles acabou soltando. Com isso, os dois ficaram à deriva e só perceberam quando acordaram horas depois próximo a navios. Quando questionado se sabia sobre a ilegalidade da prática próximo ao fundeio de navios de grande porte, Gabriel disse que não sabia que não era permitido.
"Eu nunca tive intenção de incentivar alguém a fazer o mesmo que eu faço em nenhum momento, eu deixo bem claro que são atividades perigosas, é um esporte radical perigoso, não quero incentivar qualquer pessoa a repetir o que eu faço. Que tem risco eu sei, mas que é proibido eu não sabia. Também não sabia que era proibido o desembarque nas ilhas. Vou tentar buscar mais informações sobre isso, saber se tem alguma forma de legalizar o que eu faço, tentar fazer isso do jeito certo", pontuou.
*Com informações do G1 ES
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