Treze testemunhas de acusação foram dispensadas de prestar depoimento logo no primeiro dia do júri popular do pastor Georgeval Alves Gonçalves, nesta terça-feira (18). Ele é acusado de ter violentado sexualmente, torturado e colocado fogo no filho Joaquim Sales Alves, de 3 anos, e no enteado Kauã Sales Butkovsky, de 6 anos, no caso conhecido como a Tragédia em Linhares.
A estratégia de dispensar as 13 testemunhas foi articulada pelos advogados contratados pela família de Kauã, em conjunto com o Ministério Público do Espírito Santo (MPES).
O advogado Síderson Vitorino, que compõe a bancada dos assistentes de acusação, explicou que o objetivo é manter o foco total nas provas técnicas que foram expostas pelo delegado Romel Pio de Abreu Junior e pelo coronel Benício Ferrari Junior, do Corpo de Bombeiros, que prestaram depoimento nesta terça (18).
Siderson Vitorino acredita que essas duas únicas testemunhas levadas ao plenário pelos acusadores foram suficientes para formar consenso em torno da culpa de Georgeval na morte do filho e do enteado.
Em seu depoimento, o coronel Ferrari afirmou que não tem dúvidas de que houve o uso de agente acelerante no incêndio que matou Kauã e Joaquim. Assim, segundo ele, o fogo teria sido provocado por ação humana com o emprego de agente derivado de hidrocarbonetos (gasolina, querosene ou óleo díesel).
O coronel ainda disse que todas as simulações computacionais feitas pelos peritos dos Bombeiros não encontraram situações em que o incêndio pudesse ter sido acidental, como na versão defendida por Georgeval. O pastor afirmou que o fogo teria começado no aparelho de ar-condicionado do quarto e se alastrado para a cama onde Kauã e Joaquim estavam.
"No computador, a gente não conseguia fazer o fogo do ar-condicionado passar para a cama. Reforçamos o modelo do ar-condicionado, mudamos o tipo de colchão, tudo para ver se a versão de Georgeval fazia sentido. Nem a versão de Georgeval 'turbinada' vingou", declarou Ferrari.
"Não encontramos nenhum indício de que o incêndio poderia ter começado por qualquer um daqueles equipamentos elétricos. Não teve nem descarga elétrica, raios, e se ainda assim fosse, a casa estava protegida por outras três edificações muito altas. A única fonte de calor restante seria externa introduzida na cena", acrescentou o coronel dos Bombeiros.
Já o delegado Romel Pio Abreu Junior, primeira testemunha a ser ouvida, afirmou que estranhou o comportamento do pastor dias depois do incêndio que matou Kauã e Joaquim.
Segundo ele, Georgeval "pareceu frio" em depoimento colhido por ele apenas alguns dias depois da morte das crianças. "Nas raras vezes que esboçou o sofrimento, a percepção que tivemos é que ele lembrava que tinha que chorar, demonstrar sofrimento (durante o depoimento). Recebeu lanche e comeu. Acho que se eu tivesse feito uma piada ele teria rido."
Ainda de acordo com o delegado, testemunhas que chegaram ao local no momento do fogo afirmaram que o pastor não teria entrado na casa para resgatar os meninos. "As pessoas tentaram entrar sozinhas. Em nenhum momento ele tentou fazer alguma coisa. Ele ficou inerte, do lado de fora", disse.
Questionado pelo Ministério Público se havia indícios de que as crianças tenham tentado fugir ou escapar do fogo, o delegado afirmou que não. “O beliche ficava a um passo da porta de saída e elas não esboçaram reação, o que ficou comprovado pela prova pericial. Elas foram colocadas naquele local desacordadas e isso impediu que tentassem fugir", afirmou.
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