Exatamente no dia seguinte ao colapso no abastecimento de oxigênio que assolou hospitais de Manaus (AM), o jovem Tiago Barreto de Oliveira viu o pai sentir os primeiros sintomas da Covid-19. Quando ele precisou ser internado, o filho não teve dúvidas: pediu a transferência para outro Estado.
"Assim que ele deu entrada, eu falei: 'Aqui (em Manaus) ele não vai sobreviver, não vai ter oxigênio, não vai ter UTI, não vai ter nada'", lembra ele, de quando levou Altamir Gomes de Oliveira ao pronto-socorro do Hospital 28 de Agosto pela segunda vez – na primeira, eles foram mandados de volta para casa.
Na noite de quinta-feira (21), Altamir chegou ao Espírito Santo em um voo da Força Aérea Brasileira (FAB). Além dele, outros 35 pacientes do Amazonas desembarcaram em solo capixaba, direto para o Hospital Estadual Doutor Jayme dos Santos Neves, na Serra, onde continuarão o tratamento.
Nessa luta pela sobrevivência, o filho quis estar o mais próximo possível que os protocolos da pandemia permitem e encarou uma longa viagem para se hospedar em um hotel em Jardim da Penha, em Vitória. "Sai à meia-noite e cheguei às oito da manhã, depois de uma parada em Guarulhos (SP)", conta.
Apesar de aliviado pela transferência do pai, Tiago revela que os últimos dias foram de desespero. "No mesmo momento em que soubemos da Covid-19, descobrimos que 40% do pulmão dele já estava comprometido. Ele tem problema de pressão, é do grupo de risco. Fiquei muito preocupado", desabafa.
Já o futuro, embora ainda incerto, é de esperança. "Ele está sendo muito bem cuidado, bem assistido. Já vimos evolução com um exercício respiratório. Mas hoje (sexta-feira, 22) eu conversei com o médico e não tem previsão de alta. Talvez daqui a sete ou dez dias ele seja liberado da UTI para a enfermaria", esclarece.
Aos 49 anos, Altamir trabalha como policial militar em Manaus. "Acredito que ele pegou (a Covid-19) trabalhando. Nós vimos muitos colegas adoecerem e morrerem lá. Sei porque minha mãe também é PM", relata Tiago. "Infelizmente, o que a gente tem vivido é consequência de um governo despreparado", lamenta.
Além do pai, o jovem tem um primo que precisou ser transferido para o Maranhão, ainda nos primeiros voos realizados pela FAB, na semana passada. "Nunca imaginei que a minha família passaria por isso. Era algo que poderia ter sido evitado, mas Deus está do nosso lado, nos dando força", garante.
Aos 24 anos, o bacharel em Direito só espera poder ver toda essa situação superada e voltar com o pai para Manaus, onde vive com as duas irmãs e a mãe. "Estou esperançoso de que daqui a 15 ou 20 dias possa estar com o meu pai de novo. Não vai ser fácil, mas é o que mais quero: voltar com ele com muita saúde".
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