No dia 19 de agosto de 2022, a Escola Municipal Éber Louzada Zippinotti, em Jardim da Penha, Vitória, foi invadida por um ex-aluno que estava armado com armas brancas e outros acessórios. Ele, de 18 anos, ameaçou estudantes e funcionários da instituição, mas foi detido a tempo.
Três meses depois, a mãe do jovem decidiu quebrar o silêncio para alertar os pais de adolescentes para que não aconteça com outros o mesmo que ocorreu com seu filho. Principalmente após o trágico ataque cometido por um adolescente de 16 anos a duas escolas de Aracruz, no Norte do Espírito Santo, na última sexta-feira (25), que deixou 4 pessoas mortas e 12 feridas. Recebendo ameaças, a mulher, que é enfermeira, prefere não se identificar.
"Abra o celular dos seus filhos, vasculhe, veja aplicativos, peça para ver tudo. Controle o que ele pode acessar, converse com seu filho. Às vezes, meu filho não demonstrava emoção nenhuma e isso é um alerta”, conta.
Ele foi autuado em flagrante por tentativa de homicídio qualificado por motivo fútil, com impossibilidade de defesa da vítima e contra menor de 14 anos.
O ex-aluno, no entanto, foi preso e levado para a delegacia. Atualmente, ele está no Centro de Detenção Provisória de Viana 2.
A mulher conta que o filho estudou até o nono ano na Éber Louzada, onde, segundo ela relata, foi vítima de bullying por conta da aparência física. No entanto, nunca chegou a contar para os pais sobre as situações. “Ele guardou para si o tempo todo. Ele nunca fez nada de errado para que eu desconfiasse.”
Após o nono ano, o jovem foi para uma escola particular. Em 2020, por conta da pandemia, seguiu os estudos de forma on-line, migrando para o híbrido em 2021. Muito retraído e tímido, conforme descreve a enfermeira, ele não conseguiu fazer amizade na escola, o que, segundo a mãe, agravou a introspecção.
Foi a partir desse período que a mãe percebeu algumas atitudes. “Ele começou a usar muita roupa preta, o que, para mim, parecia normal, afinal, usar roupas pretas não diz nada. Depois, pediu para comprar o suspensório e também uma máscara, o que achei estranho e neguei”, relata a mãe.
O jovem, então, passou a ser violento e estressado. Deixou de dar boa noite à mãe, que cuidava dele e do irmão gêmeo sozinha. Também passou a ficar tempo demais no celular e no computador. Dizia estar estudando e, por ser época de vestibular, ela não percebeu que poderia ser algo diferente.
“Achava que ele estava estressado e, por isso, violento. Pensei que ele estava chateado comigo, por isso o distanciamento. Pelo computador, ele comprou um arsenal, que estava escondido no guarda-roupa dele, acessou grupos de pessoas que vendiam armas e ensinavam a atirar.”
A enfermeira destaca as semelhanças entre seu filho e o adolescente que invadiu uma escola em Aracruz, Norte do Espírito Santo, na última sexta-feira (25). Os dois são filhos de militares, apesar de ele morar apenas com a mãe. Além disso, ambos ficavam trancados tempo demais dentro dos quartos e sofreram bullying na escola.
“Meu filho nunca teve acesso à arma do pai, mas, nos últimos dias que antecederam ao ataque, ele passou a ficar bastante na casa do pai, o que agora a gente sabe que era para pegar a arma.”
Na internet, ele teve acesso a comunidades e grupos que seguiam um roteiro de ataques a escolas. Eles tinham como alvos instituições onde sofreram bullying e planejavam ser mortos pela polícia.
“Meu filho invadiu a escola, queria causar um confronto e morrer pela polícia. Foi a linha de raciocínio dele. Meu filho não tinha problema nenhum. Nunca deu sinal de psicopatia. Por isso queria alertar os pais a estarem atentos aos sinais”, destaca a enfermeira.
O rapaz pediu à mãe que comprasse um livro de Hitler, pois queria entender a mente do nazista. No entanto, a enfermeira negou. O jovem também queria seguir a carreira militar e, por isso, ganhou do pai um coturno, usado no dia do ataque.
A enfermeira conta que o jovem teve uma infância normal e sempre foi um menino alegre. A relação com a mãe também era muito boa. Apenas após sua entrada no ensino médio é que passou a mudar de comportamento.
Por fim, a enfermeira diz que não quer a impunidade. Ela entende as consequências das ações do filho e se responsabiliza, inclusive, pela morte que ocorreu em um colégio da Bahia, em setembro deste ano. Um adolescente de 14 anos que matou uma aluna cadeirante mantinha contato com capixaba.
“Carrego um pouco da culpa da morte. Sinto cada uma das mortes desses ataques. Eu estudei seis anos para salvar vidas, não para ver ninguém morrer desse jeito. Queria pedir perdão e desculpas por ele. Meu filho está doente e o filho de uma outra pessoa também pode estar doente e os pais não percebem. Por isso, trago o alerta”, diz.
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