Gestos de afeto tão simples, como dar as mãos e se abraçar, foram restritos para uma família de Aracruz, no Norte do Espírito Santo. Por causa do vício em álcool, uma dona de casa de 45 anos perdeu a guarda dos quatro filhos — dois meninos de 7 e 9 anos e duas meninas de 10 — e ficou 10 meses separada deles. Mas um projeto que oferece apoio e tratamento para mulheres com dependência química ajudou a mudar a vida da família. A mãe passou por tratamento e conseguiu recuperar a guarda das crianças. Para preservar a família, os nomes dela e das crianças não serão divulgados.
Dados do relatório do Conselho Nacional de Justiça, publicado neste ano, expõem que de outubro de 2019 a maio de 2021, em todo o país, um total de 27.456 crianças estavam em processos de destituição familiar, ou seja, quando os pais perdem a guarda dos filhos. Na maioria dos casos, os pais são dependentes químicos, conforme a pesquisa.
Visando dar apoio a mães e mulheres com vício em drogas e álcool, nasceu o projeto Renascer Mulher, em Aracruz, no início de 2022, realizado pelas Secretarias de Desenvolvimento Social e Trabalho (Semds) e de Saúde (Semsa) do município.
No programa, as mulheres recebem atendimento psicossocial, orientação a familiares sobre como agir nas situações adversas próprias da dependência química e têm acesso a palestras e atividades que promovam o bem-estar da mulher em todas as fases do tratamento. Em alguns casos, ocorre o encaminhamento para tratamento em clínicas.
Foi por meio desse projeto que mãe e quatro filhos puderam voltar a morar juntos. “É uma satisfação muito grande saber que ela conseguiu reconquistar as crianças dela pela libertação do álcool, e também através do nosso cuidado e do internamento”, afirma a assistente social do município, Marinete Mathias Carlos, para o repórter Eduardo Dias, da TV Gazeta Norte. Ela acompanhou o processo da família.
A dona de casa de 45 anos é uma das 21 mulheres dependentes que, com suas famílias, foram ajudadas pelo Renascer Mulher nos últimos seis meses. Mas o caminho para que elas aceitem ser assistidas não é fácil.
“Esse resgate é difícil. Sabemos que temos um meio que incomoda. Elas não sabem como se apresentar ao programa, e continuar saindo. Mas elas conseguem se integrar ao projeto, quando continuam com o processo de acompanhamento psicológico e clínico”, afirma a psicóloga de programa, Graça Andrade.
A família continua sendo acompanhada pelo projeto, assim como pelo Conselho Tutelar, Ministério Público e outros órgãos. Para quem lida diariamente com casos de destituição familiar, ver uma família reunida novamente é um sentimento de conquista, conta a conselheira tutelar do município, Fernanda Carvalho.
“Acompanhamos de perto a luta dessa mãe para que os filhos voltassem para o lar, o seu apego e amor. Nas visitas, a mãe falava que não queria que tirássemos os filhos dela, mas a situação se tornou caótica e insustentável do ponto de vista do bem-estar dos pequenos. Agora, torcemos para que continuem cumprindo todos os acordos e que sejam felizes”, afirma.
Para a mulher que travou uma batalha contra a dependência e aos poucos vem conseguindo se recuperar, a luta ainda não acabou, mas as vitórias são resultado de todo o esforço feito por ela.
“Estou muito feliz por ter os meus quatro filhos comigo novamente. Eu estava muito ansiosa. Continuarei fazendo todo o tratamento e acompanhamento que for necessário. Fui muito bem acolhida pela equipe do Renascer Mulher e todos os envolvidos, que me fizeram entender a real situação e suas consequências. [...] Sabia que meus filhos estavam sendo bem cuidados, mas queria eles perto de mim”, afirma a mãe das crianças.
* Com informações da Prefeitura de Aracruz e do repórter Eduardo Dias, da TV Gazeta Norte
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