Uma pesquisa desenvolvida por psicóloga e médico capixabas revelou que o maior medo dos profissionais da saúde que trabalham no combate ao novo coronavírus é o de contaminar os parentes. Durante três semanas, 1.332 pessoas responderam ao questionário de forma virtual.
De acordo com os resultados, 61% dos respondentes eram mulheres e 39% homens. A maioria do público que participou desta fase da pesquisa tem idade entre 31 e 40 anos, é formada por médicos que atendem em pronto-socorro de hospital público, com mais de 15 de anos de atuação no serviço de saúde.
A doutora em Psicologia e professora da disciplina na UVV, Luciana Herkenhoff, explicou que a pesquisa foi idealizada por um aluno dela, o estudante do curso de mestrado em Segurança Pública, Paulo Morais. Além de estudante, Paulo é médico e professor de Medicina. Ele trabalha como cirurgião geral na redes pública e privada da Grande Vitória.
A ideia é fazer um mapeamento que aponte o estado de saúde mental dos profissionais que estão a frente do combate à Covid. Paulo é médico e está lidando com essa realidade no dia a dia dos hospitais. Ele observou o agravamento do estado emocional dessas pessoas e trouxe a sugestão, explicou a orientadora.
As perguntas foram encaminhadas aos profissionais de saúde por meio das redes sociais e via Whatsapp. Após 21 dias dias, os pesquisadores compilaram os dados e identificaram que a maior preocupação de médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e demais profissionais é a possibilidade deles contaminarem os familiares.
Quando perguntamos o que vem afetando você emocionalmente?, em primeiro lugar vem o medo de contaminar os parentes. Ou seja, um profissional que está na linha de frente já está contaminado pelo medo. O medo nos tira a capacidade de julgar as situações. Quando tomado por essa sensação, de que maneira ele tem conseguido exercer sua função?, questiona Luciana.
Esse dado refletiu o que eu e boa parte dos colegas onde trabalho pensamos, que é a grande aflição é transmitir a doença para os filhos e outros familiares. A essa altura, a maioria não conseguiria suportar ter um familiar doente e sentir-se culpado pela transmissão. Essa carga é bem pesada para todos que trabalham na área da saúde, relatou Paulo.
Logo em seguida, aparece na pesquisa o medo de ser contaminado pelos pacientes. Em terceiro está a preocupação pela resistência da população e de algumas autoridades na adoção dos cuidados que precisam ser tomados para evitar contaminação. A falta de equipamentos de proteção como máscaras e jalecos ficou em quarto lugar.
No embasamento teórico da pesquisa, Luciana e Paulo compararam o momento atual como o mesmo que poderia ser encontrado em uma zona de guerra. Segundo eles, assim como a experiência vivida durante as batalhas, os profissionais da saúde podem sofrer impactos traumáticos durante e após as atividades relacionadas ao novo coronavírus.
Eles estão tentando salvar vidas e sobreviver. Fisicamente, não ser contaminado. Psicologicamente, tentam ter uma resistência suficiente para sobreviver emocionalmente durante o tratamento desses pacientes. E depois, como esses profissionais vão estar? A gente imagina que eles vão precisar de ajuda quando terminar a pandemia, disse Luciana.
Quando a pesquisa for concluída, Luciana e Paulo vão sugerir a criação de uma rede de acompanhamento e necessidade da oferta de atendimento psicoterapêutico, desenvolvido por uma rede externa, aos profissionais que trabalharam no tratamento aos pacientes diagnosticados com a Covid-19.
Essa pesquisa pode servir como uma ferramenta que ajuda a população e os gestores entenderem as demandas dos profissionais de saúde, sobretudo como funciona os medos, ansiedades e estresses da atividade neste momento, apontou Paulo.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta