Mesmo com a perspectiva de autorização do governo do Estado para a retomada das atividades presenciais da educação básica a partir de outubro, em mais de 50 municípios do Espírito Santo se caminha para outra direção: manter apenas as aulas remotas até o final de 2020. O funcionamento das escolas foi suspenso em março devido à crise sanitária provocada pela Covid-19.
É o que indica um levantamento feito pela União dos Dirigentes Municipais de Educação do Espírito Santo (Undime-ES), na última semana, para ter um panorama do quadro no Estado. Dos 78 municípios capixabas, 69 responderam aos questionamentos da entidade e, destes, somente 22% manifestaram a intenção de voltar às aulas presenciais ainda este ano da educação infantil e do ensino fundamental caso o governo autorize.
Presidente da Undime-ES, Vilmar Lugão de Britto explica que não pode listar os municípios porque ainda não se trata de uma decisão oficial, porém relaciona vários fatores que contribuem para esse cenário.
Uma das dificuldades para a retomada das atividades presenciais, aponta Vilmar Lugão, é o cumprimento dos protocolos de segurança estabelecidos em portaria conjunta das Secretarias de Estado da Saúde (Sesa) e da Educação (Sedu). Como há necessidade de aquisição de inúmeros itens que não faziam parte da rotina das escolas como máscaras e dispensadores de álcool em gel os gestores precisaram promover licitação, procedimento legal que é demorado e, em alguns locais, ainda não foi concluído.
Outro aspecto que pesa na decisão de alguns secretários de Educação é o número de profissionais que fazem parte do grupo de risco da Covid-19, como hipertensos e diabéticos, condição que os impede de retornar para a escola. Dessa maneira, as prefeituras precisariam fazer novas contratações que, em período eleitoral, têm bastante restrição.
Além disso, ressalta o presidente da Undime-ES, o protocolo de retomada apresenta uma série de exigências, com limite do número de alunos, rodízio e escalonamento que, no momento atual do ano letivo, a atividade presencial pode se mostrar pouco efetiva.
"Várias questões são postas pelos municípios. Considerando que o ensino médio comece mesmo em outubro, o fundamental vai ser só a partir de novembro e, o infantil, em dezembro. Diante de tantos protocolos, entradas variadas, o tempo do aluno para aprendizagem vai ser reduzido. Então, é preciso pensar estrategicamente cada passo e avaliar se essas semanas de aula na escola para alguns não chegará nem a um mês teriam um verdadeiro significado pedagógico na vida dos alunos", pondera.
Na Grande Vitória, alguns municípios avaliam a possibilidade de não voltar, e o posicionamento será apresentado após consulta à comunidade escolar. Em Cariacica, o contato com as famílias já foi iniciado, e a expectativa é que a Secretaria Municipal da Educação tenha o resultado desse levantamento no início de outubro.
"Iniciamos um trabalho de alinhamento com as comunidades escolares, conversando com pais e professores, para saber deles como é essa sensação para o retorno presencial. Terminando essa esculta, poderemos tomar uma decisão mais assertiva. Acredito que, nos próximos 10 dias, teremos o retrato do que a rede pensa", afirma o secretário da Educação, José Roberto Martins Aguiar.
Quanto à rede, ele assegura que as escolas estão preparadas na área de biossegurança para receber os estudantes e os profissionais ainda em 2020, caso seja esse o entendimento. José Roberto ressalta, inclusive, que durante o tempo em que estiveram fechadas devido à pandemia, muitas unidades foram submetidas a obras. Segundo o secretário, eram intervenções necessárias e que precisavam de prazo maior de execução do que os tradicionais 30 dias de recesso no início de cada ano.
O município de Vitória também vai fazer um levantamento com a comunidade, através de seus conselhos escolares, assim que o governo definir a data para a retomada presencial. Com as orientações sanitárias do Estado, será aberta a consulta. A secretária municipal da Educação, Adriana Sperandio, observa que, como as famílias têm a opção de não encaminhar as crianças para as aulas presenciais, a prefeitura ponderou que também caberia partilhar com os pais e responsáveis dos alunos a decisão pela volta ou não à escola em 2020.
Adriana acrescenta que os processos para a aquisição de materiais estão concluídos, e alguns já foram entregues às escolas. Outros itens, como máscaras, somente serão fornecidos quando houver definição sobre a data de retorno.
Em Vila Velha, o secretário da Educação, Roberto Beling, diz que está aguardando o próximo decreto governamental para que possa definir os encaminhamentos para as escolas da rede municipal. "Talvez, pelo período existente, não haja tempo hábil para o retorno da educação infantil. Mas não temos uma definição no momento. Estamos trabalhando e acompanhando as decisões do governo", sustenta.
Na Serra, a possibilidade de manter apenas as atividades remotas também está sendo avaliada, segundo a assessoria da Secretaria Municipal da Educação. Questionada sobre o assunto, esclarece, em nota, que "todas as alternativas estão sendo estudadas para garantir mais segurança no retorno dos alunos e profissionais, e que está realizando um amplo diagnóstico das unidades de ensino, considerando as orientações dos órgãos de saúde para esse momento de pandemia. Caso haja o retorno presencial ainda este ano, os alunos voltarão de forma escalonada."
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