À medida que o coronavírus se dissemina pelo Espírito Santo, mais evidente tornam-se os traços das vítimas. A segunda fase do inquérito sorológico, que investiga o comportamento da Covid-19 no Estado, aponta que mais de 70% dos infectados são negros. A doença não escolhe raça ou cor, mas tem uma prevalência maior entre pretos e pardos no momento em que avança pelas periferias dos municípios capixabas.
O perfil sociodemográfico das pessoas que participaram desta etapa do inquérito, realizada entre 27 e 29 de maio, demonstra que 58% eram negros, mas a incidência de resultado positivo para a Covid-19 foi maior que sua representação na pesquisa: das amostras sorteadas, 70,3% de pretos e pardos tiveram a doença. Entre os brancos, que representaram 39,4% dos entrevistados, houve 28,5% de positividade.
Os dados foram apresentados em coletiva na tarde desta segunda-feira (1º) pelo secretário estadual da Saúde, Nésio Fernandes, que ressaltou a prevalência maior dos negros no componente raça e cor. Um fator que ajuda a compreender esse cenário, segundo ele, é a mobilidade da Covid-19 em direção aos bairros mais populares, onde também há predominância de pretos e pardos.
Outra característica das regiões periféricas é a habitação com número elevado de moradores. Em 13,7% das casas, havia cinco ou mais pessoas. E, nesse grupo, a prevalência de casos positivos para coronavírus foi de 20,9%.
"O resultado demonstra aumento da transmissão entre aqueles que vivem com maior número de pessoas. Mais pessoas, maior a dificuldade de manter o distanciamento e mais possibilidade de ser infectado pela Covid-19",explica Nésio Fernandes.
A maior taxa de infecção também é observada entre a população com escolaridade de nível médio. Da amostra, representava 40,4% dos entrevistados, entre os quais 48,5% tiveram resultado positivo.
O pesquisador Pablo Lira, presidente em exercício do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) - órgão parceiro da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) na realização do inquérito, destaca o caminho que a Covid-19 percorreu ao longo dos últimos meses, chegando ao país pelas metrópoles nas áreas nobres e, agora, avançando sobre as comunidades mais carentes.
"A doença começa a se destacar em áreas menos privilegiadas do ponto de vista socioeconômico, no Brasil como um todo, e atinge uma população com menor renda, que vive em condições mais precárias, cuja força de trabalho é mais braçal e, ainda, onde pelo perfil de cor/raça, têm mais negros", observa. Assim, a população preta e parda vem se tornando vítima frequente da infecção pelo coronavírus.
Lira também pontua a importância do estudo. "É um trabalho baseado em evidência científica. Não são todos os Estados que estão fazendo, e o Espírito Santo saiu na frente. Há rigor científico na realização do inquérito sorológico para determinar a taxa de prevalência da doença que, para tomada de decisão, é muito importante", conclui.
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