> >
Mais homicídios e menos assaltos: estatísticas que a pandemia mudou no ES

Mais homicídios e menos assaltos: estatísticas que a pandemia mudou no ES

Com o isolamento social e, consequentemente, com menos pessoas nas ruas, os índices de assaltos e acidentes diminuíram. Em contrapartida, os homicídios aumentaram. Mas a Covid-19 matou mais que os assassinos

Publicado em 20 de setembro de 2020 às 15:28

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Silhueta de corpos: indicadores de homicídios estão caindo no ES
As mortes causadas pela Covid-19 no mês de abril de 2020 superaram as provocadas por homicídios no Espírito Santo. . (Fernando Frazão/Arquivo)

O novo coronavírus (Covid-19) mudou não apenas a rotina da sociedade, como alterou dados importantes no Espírito Santo. Com o isolamento social, uma das medidas apontadas como mais eficazes contra a disseminação do vírus – e, consequentemente, com menos pessoas nas ruas, os índices de assaltos e acidentes diminuíram. Em contrapartida, os homicídios aumentaram, se compararmos com o mesmo período de 2019.

HOMICÍDIOS AUMENTAM

Os homicídios aumentaram durante a pandemia de forma geral. Do dia 1 de abril de 2019 até o dia 30 de julho do mesmo ano, foram 370 crimes letais intencionais no Espírito Santo, sendo 350 homicídios, 12 latrocínios (quando a vítima é morta em um assalto) e 8 lesões corporais seguidas de morte. Já em 2020, esse número saltou para 401 crimes – destes, 391 foram homicídios, 5 latrocínios e 5 lesões com morte.

Os dados são do portal da transparência das estatísticas criminais da Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa Social (Sesp) do Espírito Santo.

Para o secretário de Estado da Segurança Pública, Alexandre Ramalho, o aumento de homicídios pode ter ocorrido por uma questão ocasional na guerra entre gangues de tráfico de drogas, onde criminosos agiram por oportunidades – como a diminuição de pessoas nas ruas. Ele afirmou que houve um aumento de casos em março e início de abril, mas que nos meses seguintes os números retomaram a um patamar semelhante aos "melhores resultados de 2019". 

"Cerca de 80% dos homicídios no Espírito Santo estão ligados ao tráfico de entorpecentes e são cometidos com a utilização de armas de fogo. Ainda é precoce falar se o aumento de homicídio nesse período teve relação com a pandemia, se o fato das pessoas deixarem de circular nas ruas pode ter contribuído na busca por pontos de venda de drogas mais visíveis. Vimos muitas mortes seguidas na mesma região, o que aponta um crescimento de uma guerra do tráfico de forma localizada. Eu acredito muito mais nas oportunidades que o tráfico enxergou. Se em determinado lugar do bairro o criminoso percebeu que tinha dificuldade de vender droga ou se ele quis expandir os negócios e entendeu que aquele momento era oportuno. Aí ele dá o ataque e tem o aumento dos homicídios", afirma. 

O secretário disse, ainda, que quando alguma modalidade criminal cresce é preciso analisar algumas particularidades desse período. Ramalho contou que nos últimos meses a Polícia Militar se dividiu muito, atuando em apoio às questões de fiscalizações da pandemia. 

"Foram diversas operações que empenharam o efetivo da PM, em apoio aos municípios, ao Corpo de Bombeiros nas fiscalizações de estabelecimentos comerciais, bares e festas clandestinas. Não acredito que (o aumento de homicídios) tenha muito a ver com pandemia. Foi o enxergar dos criminosos naquele momento que coincidiu com o início da pandemia, mas eu ainda não consigo linkar isso, acho precoce afirmar. Tanto que depois que a pandemia se perpetua, o número de homicídios diminui", ressalta. 

CORONAVÍRUS MATOU MAIS QUE HOMICÍDIOS

Local de homicídio em Cariacica, município onde houve um assassinato a cada dois dias em outubro
Homicídios aumentam durante a pandemia, mas coronavírus ainda matou mais no ES. (Fernando Madeira)

Apesar de os homicídios terem aumentado durante a pandemia, se compararmos com o mesmo período do ano passado, em abril deste ano A Gazeta noticiou que as mortes causadas pelo novo coronavírus (Covid-19) superaram as provocadas por homicídios no Espírito Santo. Entre o período de 1º e 28 de abril de 2020, 96 pessoas perderam as vidas devido à doença, enquanto 95 foram vítimas de homicídios dolosos.

Nos meses seguintes, o coronavírus continuou sendo mais responsável pelas mortes. De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), o mês de maio teve 511 mortes de pessoas infectadas pelo coronavírus. Nesse mesmo mês, foram 76 mortos em homicídios. Já em junho, foram 1.019 óbitos pela doença. Enquanto por homicídios, foram 83 mortos no mesmo mês. Em julho, foram 897 mortos em decorrência da Covid-19, no mesmo mês foram 71 homicídios.

Os números de mortos por coronavírus nesse período podem ser maiores, já que a Secretaria de Estado da Saúde atualiza diariamente o painel de estatística e insere os novos dados consolidados – que podem ser de datas anteriores, após os exames comprobatórios ficarem prontos. 

MAIOR NÚMERO DE MORTOS NOS ÚLTIMOS 18 ANOS

A Gazeta publicou no último dia 12 que os cartórios no Espírito Santo registraram, de março a agosto, 15.060 óbitos, 2.258 a mais que o mesmo período de 2019. Diferentemente da média nacional, o mês de junho foi o que somou mais óbitos no ES, um total de 3.019 – 922 ante o mesmo mês do ano passado. Já os cartórios brasileiros registraram, em julho, o maior número de mortes dos últimos 18 anos. No total, foram 113.620 óbitos no mês.

ASSALTOS DIMINUEM

Em relação aos assaltos, os dados da Sesp mostram queda desse tipo de ação. O comércio, por exemplo – que chegou a ser fechado por decreto do governo do Estado, foi um dos setores onde os índices de assaltos diminuíram.  Mas a categoria que mais teve declínio quando falamos de assaltos foi em relação aos roubos a pessoas. De abril a julho de 2020, com a orientação de isolamento social em vigor, foram 5.215 casos a menos que o mesmo período do ano passado. 

O secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social, Alexandre Ramalho, acredita que a diminuição de pessoas circulando nas ruas pode ter sido, sim, um dos fatores para a redução desses dados. Mas também afirmou que houve uma intensificação do trabalho da Polícia Militar nas ruas, com operações de abordagens em carros, motocicletas e ônibus.

"Sobre roubo, não há como negar houve uma grande diminuição de circulação de pessoas na Grande Vitória e interior, principalmente de março a junho. Além disso, acredito que a PM teve uma estratégia muito boa nessa questão de diminuir o número de policiais na parte administrativa, dentro das sessões, preservando a saúde dessas pessoas, e colocando esse efetivo nas ruas. Tivemos um ganho de efetivo. Por exemplo:  a patrulha escolar que não estava desenvolvendo o trabalho nas escolas e a parte administrativa da PM somaram ao reforço do efetivo consideravelmente nas ruas, aumentando a segurança, também nas operações a veículos. Então houve um somatório", afirmou. 

ACIDENTES  DIMINUEM

De janeiro a junho de 2020, 129 acidentes envolvendo motocicletas resultaram em morte no ES
Acidentes com mortes entre diminuíram durante a pandemia . (Reprodução/TV Gazeta)

Outro declínio aconteceu no número de acidentes com morte no trânsito, de acordo com a Sesp.  De abril a julho de 2019 foram 281 pessoas perdendo a vida nesse tipo de acidente. Enquanto isso, no mesmo período de 2020 foram 234 mortes no trânsito. Nos dois anos, sábado e domingo são os dias da semana que mais registram ocorrências graves. 

"Não houve nenhuma ação exclusiva, no momento, para (inibir) isso. Até porque as operações com etilômetro estavam suspensas por questão de risco de contaminação. Acredito que essa queda nos casos tenha sido pela questão da diminuição de pessoas nas ruas", comentou Ramalho. 

MULTAS DE TRÂNSITO AUMENTAM NA PANDEMIA

Menos carros circulando, menos multas
Multas de trânsito aumentaram durante a pandemia do novo coronavírus. (Divulgação)

Já as multas de trânsito, aumentaram durante a pandemia do novo coronavírus. De acordo com o Departamento Estadual de Trânsito do Espírito Santo (Detran-ES), de abril de 2020 a julho deste ano foram registradas 210.973 multas no total. No mesmo período de 2019, foram contabilizadas 153.760 infrações registradas. O acréscimo é de 57.213 multas no total. 

A infração com maior número de multas nos dois anos é referente a transitar em até 20% a mais da velocidade máxima permitida. Em 2019 foram 49.288 ocorrências desse tipo, enquanto em 2020 registrou 104.268 – ou seja, 54.980 multas a mais nesse tipo de infração. Já quando a velocidade é superior à máxima permitida em mais de 20% (até 50%), 2019 teve 16.230 registros e 2020 apresentou 21.343 situações que geraram multas – totalizando um acréscimo de 5.113 multas. 

Para Paulo Lindoso, engenheiro especialista em trânsito e diretor do Instituto Brasileiro de Estudos do Trânsito (Ibetran), o aumento nas multas por excesso de velocidade pode ter relação com o fato das pistas estarem mais vazias durante a pandemia. Segundo ele, nesses casos a tendência é que o motorista aumente a velocidade, o que pode ser um grande risco. 

"A gente percebe quando há um menor volume de tráfego, com a pista mais livre, a tendência é que o condutor aumente a velocidade, como se fosse preciso 'aproveitar' e correr, como se fosse 'terra de ninguém', principalmente aqueles com carros mais potentes. É um comportamento muito arriscado,  pois a velocidade é o maior fator de mortalidade nos acidentes de trânsito, mesmo com a pista vazia", afirmou. 

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais